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Como é a vida de um crash test dummy, o boneco de teste de colisão

Na época dos primórdios do automóvel, segurança era um item um tanto quanto desprezado pelas pessoas e pelos engenheiros. Pesados e lentos, os carros ancestrais dificilmente conseguiam imprimir velocidades que pudessem ser fatais aos passageiros em caso de colisão.

E essa realidade manteve-se assim por muito tempo, até que a modernidade foi chegando e tornando os veículos mais rápidos e consequentemente gerando mais acidentes.

Não demorou muito para que as montadoras mudassem seus conceitos e começassem a direcionar seus projetos para essa nova vertente.

As carrocerias pesadas e rígidas e os painéis cheios de cromados – que praticamente viraram armas contra o condutor em caso de colisão – foram aos poucos dando lugar a materiais mais seguros, maleáveis, baratos e inofensivos aos seres humanos.

Hoje em dia, atingimos um patamar tão elevado neste quesito que é praticamente inconcebível aceitar um modelo que não possua, por exemplo, pelo menos 2 airbags.

Uma das mais importantes armas da indústria automobilística nessa jornada evolutiva é um personagem anônimo que até hoje contribui em muito para que possamos compreender os impactos que um acidente pode causar a uma pessoa. Sem ele, com certeza, ainda estaríamos bem atrasados neste campo.

Estamos falando dos bonecos usados nos testes de colisão, os “crash test dummies” como são conhecidos. E olhando para aquelas figurinhas simplórias, poucos enxergam a enormidade de tecnologia que eles carregam em seu interior.

Pois então, vejamos:

A CRIAÇÃO

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Os primeiros dummies foram criados em 1949 por uma companhia chamada Sierra Engineering. O objetivo deles já naquela época era, obviamente, representar um ser humano em simulações de acidentes. A diferença estava no tipo de acidente: em vez de colisões com carros, eles testavam os bonecos em assentos ejetores de aviões de combate da força aérea americana.

Desde então, os caras foram se aprimorando e se adaptando para atender à demanda cada vez mais específica dos testes automotivos.

O PORTE DOS BONECOS

Os dummy são produzidos em vários tamanhos, mas todos os tipos são concebidos para corresponder ao porte médio de um ser humano.

Um dummy que simule um adulto do sexo masculino, por exemplo, obedece a 50% do padrão mundial que é – de acordo com a indústria – um indivíduo de 77 quilos e com 1,78 metros de altura. Existe até uma companhia japonesa chamada Sleepypod que constrói crash test dogs (isso mesmo, cães dummy) para testar os efeitos dos acidentes em cães.

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Com o passar dos anos essas medidas variam, visto que as médias de altura e peso das pessoas têm apresentado alterações consideráveis.

A TECNOLOGIA

A quantidade de tecnologia que equipa cada um desses modelos é de impressionar. Por todo o corpo dos bonecos de teste é espalhada uma infinidade de sensores e aparelhos de medição capazes de colher mais de 35 mil dados diferentes no exato momento da colisão, o que equivale a um intervalo curtíssimo de 150 milissegundos. Literalmente um piscar de olhos.

O custo de um dummy pode chegar a incríveis US$ 400 mil, que é o preço do modelo conhecido como Hybrid III, largamente usado no mercado atual.

A disposição dos recursos é feita da seguinte forma:

  • CABEÇA: Essa parte do boneco é construída com alumínio e coberta com uma camada de borracha que simula a pele humana. Em caso de colisão, a cabeça do condutor provavelmente vai sofrer um deslocamento brusco em alguma direção (para frente, para trás; para esquerda, para direito; para baixo ou para cima). Para medir a intensidade dessa variação, esta parte do dummy é equipada com um acelerômetro. Via de regra, é o mesmo tipo de aparelho que equipa o seu smartphone e lhe indica a velocidade do seu carro quando você está usando a navegação via GPS. Ele também é usado em notebooks como dispositivo de segurança para o caso de quedas. O aparelho detecta a mudança brusca de deslocamento e protege o HD contra o impacto.
  • PESCOÇO: Aqui há uma série de sensores que indicam a intensidade das forças tensionadoras e também detectam possíveis pontos de dobra.
  • PEITO: Nesse local são colocados sofisticados sensores de movimento responsáveis por medir a capacidade de absorção de choques, ou seja, o quanto o peito de alguém suporta ser pressionado no momento do impacto.
  • PÉLVIS: Os sensores da pélvis são responsáveis por diagnosticar o tamanho da força que seria exercida sobre os ossos do condutor no momento do impacto, indicando prováveis fraturas, fissuras, deslocamentos ou mesmo possíveis problemas futuros nessas articulações oriundos do trauma causado pelo suposto acidente.
  • PERNAS: Já das pernas mede-se o quanto elas dobrariam na colisão e também avalia-se qual a probabilidade do condutor sair com algum osso quebrado do acidente.

OS TIPOS DE DUMMIES

Para cada tipo de colisão e/ou situação existe um dummy diferente, melhor preparado para colher os dados necessários. Os engenheiros simulam colisões traseiras, frontais e laterais contra obstáculos fixos e também contra outros veículos.

Pois existem dummies “especialistas” em analisar cada uma delas.

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Os tipos são os seguintes:

  • SID (Side Impact Dummy): Como o próprio nome diz, este modelo é utilizado para se medir o estrago que uma colisão lateral traria à costelas, coluna e órgãos internos bem como medir a intensidade da compressão infligida à cavidade peitoral.
  • BioRID: Esse boneco é utilizado para medir os efeitos de uma colisão traseira. Seu propósito é colher dados sobre o “efeito chicote” que atua sobre o pescoço em impactos deste tipo, ajudando designers e engenheiros a projetar modelos eficientes de bancos e encostos de cabeça.
  • THOR: Sucessor do Hybrid III, é o modelo mais moderno que existe. Sua coluna e sua pélvis retratam com perfeição a constituição humana, e seus inúmeros sensores oferecem uma riqueza de dados resultantes do impacto que é impossível de ser igualada por qualquer outro modelo. Ele geralmente é utilizado em testes que exijam extrema precisão.
  • CRABI: Este é o dummy que simula crianças. Usado principalmente para testar as travas de cadeirinhas e demais objetos de segurança infantil, ele é fabricado em 3 tamanhos: crianças de 6, 12 e 18 meses.

A VIDA DE UM DUMMY

A vida de um dummy não é nada simples, mas todo o sacrifício é valido quando é feito em prol da ciência. Antes de serem colocados no carro que vai se espatifar, os engenheiros pintam o boneco com tintas de várias cores. Cada cor é aplicada em uma determinada parte do corpo.

O trecho que separa o veículo até seu obstáculo final dispõe de 15 câmeras de alta velocidade, capazes de fotografar mais de 1000 frames por segundo. Essas imagens vão complementar os dados obtidos pelos sensores do dummy.

Após o impacto, também são analisadas então as manchas coloridas que foram deixadas no habitáculo nos momentos em que o “corpo” do nosso bravo voluntário mecânico se chocou contra o espaço interno. É uma forma simples que os técnicos têm de dirimirem dúvidas nos casos em que algum resultado soar conflitante.

Atualmente existem órgãos competentes que testam e classificam cada automóvel produzido quanto à segurança que oferecem frente a padrões pré-estabelecidos mundialmente. E os consumidores passaram a considerar fortemente este critério quando escolhem seus carros.

Não existe uma estatística formal, mas podemos imaginar quantas vidas nossos amigos mecânicos já pouparam emprestando seus corpos para nossos testes.

Algumas montadoras como a Mercedes possuem, além do laboratório convencional, um similar digital onde os impactos e os dummys viram complexos modelos matemáticos 3D e podem ser mudados e reconfigurados de qualquer maneira e em tempo real.

No entanto, mesmo com todo esse avanço, especialistas dizem que ainda é cedo para se descartar o modelo físico desses testes.

Portanto, nossos amigos ainda têm muitos anos de trabalho pela frente.

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