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Gostou de Whiplash? Eis mais 14 filmes de jazz para assistir

Eis que, de repente, os créditos começam a deslizar pela tela, e eu simplesmente me recuso a acreditar que o filme acabou. Você já se sentiu assim? Eu queria mais; queria que aquele solo de bateria não parasse. Sentia o jazz invadindo as minhas veias e ritmando o meu coração. A música: Caravan (Dizzy Gillespie). O filme: Whiplash – Em busca da perfeição.

Com roteiro e direção de Famien Chazelle, foi indicado ao Oscar de Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado, e levou as estatuetas por Melhor Ator Secundário (J. K. Simmons), Melhor Montagem e Melhor Mixagem de Som.

Andrew Neiman (Miles Teller), jovem estudante de bateria, cujo talento de aprimora através da sua paixão, da prática intensiva e da dura linha imprimida por seu professor, Terence Fletcher (J. K. Simmons). Lamento que o filme seja mais uma história da luta de um e dos métodos de outro, e deixe um pouco a dever quanto ao retrato puro do jazz, mas mesmo assim, vale a pena assistir, principalmente a performance final, no palco.

Fã de jazz, resolvi selecionar alguns filmes em que o jazz, com histórias reais ou fictícias, escancara a sua alma e de seus músicos. Não gosta de jazz? Acho quase impossível não se contagiar por este ritmo, mas se você ainda não foi conquistado por ele, com certeza o será depois que se permitir a visitar este universo.

Começo com um filme que marcou o fim da era do cinema mudo, ao contar a história de Al Jolson, lituano que emigrou para os Estados Unidos, ainda criança, e veio a se tornar um ícone do jazz. Em O Cantor de Jazz (The Jazz Singer, 1927), ele aparece com a cara pintada de preto, cantando My Mamy, e sua voz é gravada em banda sonora sincronizada, em disco de acetato.

A primeira cerimônia do Oscar só aconteceu dois anos depois, em 1929, premiando as realizações cinematográficas de 1927 e 1928, e O Cantor de Jazz (dirigido por Alan Crosland) dividiu o Prêmio Honorário com O Circo (The Circus, 1928, de Charles Chaplin), sendo indicado também para Melhor Roteiro Adaptado (Alfred A. Cohn) e Melhores Efeitos Técnicos (Nugent Shaughter)

Ao escutar esta voz um tanto arranhada, logo a associo à de Billie Holliday. Alguns dizem que ela era a alma do blues, mas certa vez, questionada sobre o que cantava, ela respondeu: “Eu canto jazz.”

Fica então aquela dúvida sobre o que é jazz e o que é blues. Embora confundidos por alguns, há entre os dois uma diferença melódica. No entanto, há também uma parentesco. O blues nasceu, antes de tudo, na alma dos negros que expressavam seus sentimentos através de letras e melodia improvisadas, até que adquiriu uma progressão harmônica. O jazz, podemos dizer que foi o fruto da tentativa de inovar o blues.

Então, atrevo-me a mesclar, nesta lista, jazz e blues, porque é impossível resistir a uns e a outros.

Mas… onde estavamos? Ah, sim, Billie Holiday. Após uma vida sofrida antes de atingir o sucesso, Billie acabou morrendo por overdose, 3 anos depois de publicar sua autobiografia, a partir da qual nasceu O Ocaso de uma Estrela (Lady Sings the Blues, 1972), dirigido por Sidney J. Furie, com Diana Ross no papel da protagonista, pelo qual foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz. Entre as envolventes performances escolhi The Man I Love.

Ainda no embalo da rouquidão (e das overdoses) vem Janis Joplin, o ícone do rock dos anos 1960. Sim, do rock, acontece que ela era também uma incrível interprete de blues. Em 1979 sua história foi contada no filme A Rosa (The Rose), sob a direção de Mark Ridley, e com Bette Midley para interpretá-la, o que acabou lhe dando o Globo de Ouro de Melhor Atriz de Musical/Comédia, e ao longa o de Melhor Som Original.

Há um projeto de esta história ser recontada em Get it While you Can, com direção de Jean-Marc Vallen, e Amy Adams no papel principal, mas também se estendem os rumores de desentendimentos entre a produtora e os detentores dos direitos autorais. Enquanto isso, resta-nos a primeira versão, mas para deixar você com vontade de assistir ao filme, vou oferecer, como aperitivo, a própria Janis, com a memorável Summertime.

Continuando nas cinebiografias, vamos ao criador do bebop, o lendário Bird (derivado do apelido Yardbird), e seu estimulante saxofone, através do filme que leva o mesmo nome (Bird, 1988), com Forest Whitaker (Melhor Ator no Festival de Cannes) interpretando Charlie Parker, sob a direção de Clint Eastwood (Globo de Ouro de Melhor Diretor), com um Oscar de Melhor Som. Maryland my Maryland.

Do sax vamos para o piano, e para aquele que foi eleito pela Rolling Stone como o segundo maior cantor de todos os tempos. A cegueira de Ray Charles não impediu que ele aprendesse a tocar vários instrumentos e a escrever músicas, compondo alquimias de estilos musicais de forma inovadora, inspirando a soul music dos anos 1960.

Jamie Foxx (Oscar de Melhor Ator), incorporou-o magnificamente, dirigido por Taylor Hackford (indicado ao Oscar), em Ray (2004), e o filme, além de outras indicações para a estatueta principal, Melhor Edição e Melhor Figurino, ainda levou também o prêmio de Melhor Mixagem de Som. As opções de música são muitas mas, que tal a contagiante What’d I Said?

Quer ouvir um fantástico solo de trompete, acompanhado por um sax, piano, bateria e baixo? Seguindo para Mais e Melhores Blues (Mo’ Better Blues, 1990), com Denzel Washington (como o protagonista Bleek), Wesley Snipes, e Spike Lee atuando e dirigindo.

O som dos metais é fantástico, não é? Então vamos de mais metais: Robert Altman dirige músicos modernos de jazz interpretando artistas famosos da década de 1930 (Coleman Hawkins, Lester Young, Ben Webster) em Kansas City (1996).

Se falo em trompete, é inevitável falar em Louis Armstrong, que também toca outros instrumentos, compõe, canta e outras coisas mais. Mas vou deixar o trompete de lado, e focar na sua voz, interpretando a icônica música What a Wonderful World, em Bom dia Vietnã (Good Morning Vietnam, 1987), com direção de Barry Levinson e Robin Williams no papel do DJ Adrian Cronauer, que fora recrutado para “dirigir” o microfone da rádio das Forças Armadas dos Estados Unidos, no Vietnã.

Do minimalismo das bandas, ou da intensidade da voz, pulo para a explosão de uma orquestra e me deixo levar pelo som de Glenn Miller e seu trombone. Música e Lágrimas (The Glenn Miller Story, 1953), dirigido por Anthony Mann e protagonizado por James Stewart, mostra como as orquestras que organizou e dirigiu popularizaram seu jazz swingado. Uma prova de que Miller era bom nisso, é que o filme chegou a ser indicado ao Oscar e Melhor Trilha Sonra de Filme Musical (Joseph Gershensen e Henry Mancini). Uma das músicas executadas nessa trilha, era nada mais nada menos que In the Mood.

A propósito de Henry Mancini, como esquecer a música composta por ele para A Pantera Cor-de-Rosa (The Pink Panther, 1963), que “ilustrava” a sequência animada da abertura (a qual se tornou padrão para outras produções inspiradas no Onspector Clouseau)? Além de indicado ao Oscar de Melhor Trilha Sonora Original, tinha Blake Edwards como diretor, e a atuação de David Niven e Peter Sellers.

Pois é. Parece mesmo que o casaco de Tom Ripley (Matt Damon) tinha lá a sua mágica. Por isso, em O Talentoso Ripley (Talented Mr. Ripley, 1999, dirigido por Anthony Minghella), após ter selecionado Tu Vo Ta L’Americano, eu não resisti a incluir também My Funny Valentine. Este filme foi indicado, entre outras categorias, ao Oscar de Melhor Banda Sonora.

Mágica… pacto… talento… Então eu chego a Eugene Martone (Ralph Macchio), o estudante de música clássica, apaixonado por blues, que precisa vencer um duelo de guitarra, para se livrar de um pacto com o diabo. E que duelo! Pensando melhor, vou deixar esta cena para o final.

Antes, vou mostrar a você mais duas músicas de puro jazz, e começo com a abertura de Chicago (2002), musical dirigido e coreografado por Rob Marshall, que arrebatou 6 Oscar, incluindo o de Melhor Filme. A música é All That Jazz.

Assim eu aproveito para falar do filme com o título da música acima, dirigido por Bob Fosse. All That Jazz – O Show Deve  Continuar (1979), termina com uma cena visual e musicalmente, de tirar o fôlego, ao som de Bye Bye Life.

Agora sim, policiando-me para terminar a lista, eu finalizo com um incrível duelo de guitarras. O filme é Encruzilhada (Crossroads, 1986), dirigido por Walter Hill, com Ry Cooder dublando a guitarra de Eugene, dividindo o palco com o virtuoso guitarrista (ganhador do Grammy em 1994) Steve Vai.


Independente de época, instrumento, melodia ou harmonia, espero que tenha sido um bom passeio. Foi? Então agora é só curtir as trilhas inteiras.