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“O Grande Hotel Budapeste” é um filme que você precisa ver

O novo filme de Wes Anderson, “O Grande Hotel Budapeste”, tem todas a virtudes de sua obra e nenhum de seus defeitos.

Estão lá o clima de opereta, a ingenuidade, a ausência de firulas em efeitos especiais vagabundos, uma certa ternura, a trilha excelente, os atores de sempre (Bill Murray, Owen Wilson, Jason Schwartzman). Não estão a pretensão tediosa de “A Vida Marinha com Steve Zissou” e malas como Seu Jorge.

Zero Moustafa (F. Murray Abraham) é o velho proprietário do hotel do título, localizado na fictícia Zubrowka, na Europa Central. Ele conta sua história para um escritor (Jude Law) no restaurante.

O lugar é decadente, sem hóspedes, triste. Você pode sentir o cheiro de mofo — mas mantém uma personalidade esplendorosa. Não foi sempre assim. Moustafa leva seu interlocutor e o público para os anos pré-Segunda Guerra Mundial, quando ele era o lobby boy e seu protetor era o lendário conciérge Gustave H (Ralph Fiennes).

Afetado, viciado no perfume L’Air de Panache, Monsieur Gustave administra o hotel com mão de ferro para os funcionários enquanto dá uma especial atenção às velhotas milionárias que ali se hospedam.

Gustave acaba herdando um quadro raríssimo de uma dessas senhoras, Céline Villeneuve Desgoffe und Taxis (Tilda Swinton). O problema é que a família de “Madame D” é chave de cadeia e o filho mais velho Dmitri se recusa a aceitar o testamento. Coloca um capanga, J. G. Jopling (Willem Dafoe, especialmente tenebroso, se isso é possível) para garantir que as coisas não saiam do controle.

Gustave, acusado da morte da velha amante, vai em cana. Os nazistas invadem Zubrowka. E chega de spoilers.

Anderson consegue misturar com engenhosidade aventura, comédia, romance, drama, fantasia. Quando parece que o caldo vai desandar para uma bagunça desenfreada, a narrativa se recupera e tudo faz sentido novamente.

O ritmo é veloz, os diálogos são espertos, a ironia está na medida, os maneirismos não incomodam. É inspirado na obra de Stefan Zweig, o judeu austríaco que viveu seus últimos anos no Brasil, onde se matou em 1942, desesperançado com o nazismo.

As seqüências de ação parecem saídas de um filme mudo, Dafoe é o vilão mais canastrão de todos os tempos desde Dick Vigarista, Swinton está espetacular como a viúva namoradeira, Edward Norton faz um comandante pseudo nazista compreensivo como nunca existiu.

É uma história dentro de outra, uma viagem nostálgica, o escapismo do cinema em grande forma. A relação de mestre e pupilo de “Grande Hotel Budapeste”, entre Gustave e Zero, só perde em beleza para a de Herman Blume (Bill Murray) e Max Fischer (Jason Schwatzman) no incrível “Rushmore”, o melhor de Wes Anderson.

O caso de amor entre o jovem Zero (Tony Revolori) e Agatha (Saoirse Ronan) é tão impossível quanto o de Margot (Gwyneth Paltrow) e Richie (Luke Wilson) em “Os Magníficos Tennenbaums”.

“Há ainda frágeis vislumbres de civilização neste matadouro bárbaro que já foi conhecido como humanidade… Ele era um deles. O que mais pode ser dito?”, diz Zero Moustafa sobre Gustave.

Isso se aplica à delicadeza do cinema de Wes Anderson.