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Por que Túlio Maravilha é uma das grandes figuras nacionais

Thiago Sievers Head de Parcerias

Trinta anos. Pouco tempo atrás, um jogador de futebol com essa idade já estava fazendo hora extra dentro de campo.

Mas o tempo passa, as exigências mudam, os treinamentos evoluem, o ritmo de jogo é outro e, hoje, um futebolista chega tranquilamente aos 37 ou 38 com condições de permanecer em campo sem caducar.

Vejamos o exemplo de Seedorf, que estava voando nos gramados antes de decidir pendurar a chuteira para se tornar técnico do Milan.

No entanto, se falarmos que tem neguinho jogando com 44 anos, é capaz que você não acredite. Mas tem – e não é qualquer um. Seu nome é conhecido no Brasil inteiro e você certamente já o viu jogar: Túlio Maravilha.

Com mais de 25 anos de carreira, tendo jogado em 5 países diferentes, participado de 47 transferências, defendido a camisa de 32 clubes, o jogador – eternizado pelas atuações no Fogão e famoso pela língua afiada e espírito fanfarrão – alcançou o que talvez tenha sido o seu maior objetivo dentro das quatro linhas: fazer 1000 gols.

Bem, pelo menos em suas contas, que são um tanto controversas.

Em sua passagem pelo Sion, da Suíça, em 92-93, por exemplo, o jogador calcula ter feito 64 gols – mas a Federação Suíça de Futebol reconhece apenas 19 tentos do atacante nesse período, de acordo com informações recolhidas pelo Globo Esporte em 2011.

Fato semelhante aconteceu quando Túlio jogou no Ujpest, da Hungria. 40 gols foi a marca alcançada segundo o jogador – mas, de acordo com números oficiais, ele fez somente 6 em 15 jogos, o que, convenhamos, não é nada mal.

Isso acontece porque Túlio anota em seu caderninho qualquer bola na rede que tenha partido de seus pés (ou cabeça, braço, coxa, enfim), seja em jogo oficial, amistoso, jogo-treino ou sabe-se lá mais onde. Mas ele demonstra saber disso ao se explicar ao GE: “É igual a eleição: 2% para mais ou para menos”.

Mas, ei, o que importa? Túlio tem raça, perseverança, cara de pau e, claro, faro de gol.

O cara teve um início de carreira espetacular no Goiás, sendo tricampeão estadual e marcando 187 gols de 1988 a 92 (ok, segundo o clube, 91).

Mas foi entre 94 e 96, jogando pelo Botafogo, que Túlio Maravilha tornou-se – por conta das atuações em campo, vale notar – a lenda que é hoje.

1995 foi o ano do cara. Foi esse o ano que Túlio mais marcou gols em toda sua carreira. Nesse período o time alvinegro ganhou seu único título brasileiro (sem considerar as competições nacionais ocorridas antes de 1971, quando o Campeonato Brasileiro, da forma que o conhecemos, iniciou), comandado pelo atacante. Túlio foi o artilheiro da competição com 23 gols.

Após isso, Túlio passou a ser um turista pelos clubes em que atuava. Fora os times grandes em que jogou – como Corinthians, Vitória e Cruzeiro – o atacante ficou famoso por defender a camisa de times que nunca ouvíramos falar sobre. Alguns exemplos? Canedense, Itauçuense, Leão de São Marcos, Tanabi e o mais recente Araxá, pelo qual marcou o milésimo gol. Para ficar apenas em alguns.

Por isso, a carreira do jogador é marcada de histórias hilárias. Nessa matéria do “O Globo” você pode conferir várias.

Você sabia, por exemplo, que Túlio já teve que andar de barco para entrar em campo? Pois é, quando atuava pelo Fast, de Manaus, os jogadores tiveram que viajar de barco pelo Rio Amazonas por cerca de 14 horas e Túlio dormiu na rede que ficava num camarote do barco para jogar… um amistoso. Só isso.

Em outra situação, quando disputava a Série C do Campeonato Brasileiro, os jogadores do Atlético Goianiense, time em que Túlio atuava na época, foram ameaçados por um torcedor “maluco, bêbado e fumando maconha”. Ele entrou dando tiros no vestiário e dizendo que se seu time – o Ituiutaba, que estava disputando um mata-mata contra o Atlético – perdesse, todos eles iam morrer. O jogo foi para os pênaltis e Túlio, na última cobrança, não pôs a bola na rede. “Perdi o pênalti, mas ganhei a vida.”

É por essas e outras que, muito mais do que um grande jogador, Túlio Maravilha é uma grande figura nacional.