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Você pode ser um expert em música

Thiago Sievers Head de Parcerias

Sabendo tocar algum instrumento ou não, todos nós temos musicalidade no sangue, nos faz acreditar Bobby McFerrin, autor de Don’t Worry Be Happy.

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Qualquer pessoa sabe, de uma maneira ou outra, criar melodias

A música está na alma de todo ser humano. Bom, como é sempre arriscado generalizar, vamos dizer — de praticamente todo ser humano. As raízes musicais do homem são tão antigas quanto a própria espécie. Ninguém questiona o poder dessa arte que participa ativamente da vida em todos os cantos do planeta.

No entanto, uma coisa se questiona: a habilidade para com ela. Ouvir música todos sabem. Mas e fazer? Quando o assunto aponta para o âmbito da prática musical, a conversa, então, fica cheia de poses. Somente alguns são capazes de produzir música com qualidade, é o que costuma-se entender. E os outros? Oras, que se contenham em apreciar. Nada evidencia isso mais do que a disposição de um show: palco e plateia. Quem está aqui toca; quem está ali assiste. E na música clássica, de preferência em silêncio.

Contudo, no século passado esse paradigma musical foi colocado em xeque. O compositor americano John Cage foi um dos grandes expoentes do movimento que procurou integrar artista e platéia na execução musical. E isso não se fez necessariamente no tocar um instrumento, mas na forma de enxergar a música. Cage é autor da peça 4’33’’, onde nenhum instrumento soa. Os músicos entram no palco e por ali ficam sem executar nada por quatro minutos e trinta e três segundos. Pode-se chamar isso de silêncio? Não. Por um acaso existe música aí? Sim: o barulho gerado pelas pessoas que estão no auditório compõem a música. Dessa forma, todos participam ativamente dela.

Ok, mas isso é apenas uma ideia filosófica. É bonito e legal, mas…

Mas aí que entra um outro nome: Bobby McFerrin.

Talvez você o conheça pela sua famosa canção Don’t Worry, Be Happy. Mas, por favor, a esqueça: não iremos falar dela. Bobby é um grande musicista – grandessíssimo. Vem de família com tradição musical, é profundo conhecedor de técnicas e teorias sobre a arte em questão e, além de ser um exímio cantor, toca piano e é regente. Mas o que o destaca é a capacidade de enxergar a música além de tudo isso.

Música é expressão, é liberdade. E a técnica, idealmente, é para facilitar movimentos, facilitar a compreensão. Mas a vaidade humana transformou a arte em algo burocrático. A técnica, ao invés de libertar, aprisionou: existem regras, existem modelos, existem limites a serem atendidos.

Mas Bobby parece não ver dessa forma: é como se para ele todos fossem capazes de fazer música. A musicalidade é intrínseca ao ser humano. E ele prova isso.

No vídeo abaixo, durante uma conferência científica, ele fez uma interação com a plateia. Ali estão pessoas comuns – provavelmente algumas detém conhecimentos musicais e outras não. Entretanto, McFerrin demonstrou que todos sabem fazer música de um jeito ou de outro. É surpreendentemente óbvio o sangue musical do ser humano. Assista e verá.

É claro que para tocar algo específico é necessário conhecimentos específicos – mas para se fazer música, não. Para isso basta perder o medo da exposição. A desafinação só existe porque algum dia foi estabelecida a escala. Mas a música vai além de convenções: é expressão. Portanto, para ser um bom  músico basta que você vença a sua vaidade e perca o medo de se mostrar da forma que realmente é.

(Mas não se engane, pois subir ao palco não significa a vitória sobre o orgulho – e sabemos muito bem disso. Pelo contrário, pode ser um trabalho intenso de fortalecimento do que Jung chamou de persona: a máscara que uma pessoa adota para confrontar o mundo.)

O próprio Bobby Mc Ferrin diz ter levado anos para tentar se conhecer como cantor e tomar coragem de se expor como faz já há algum tempo. Durante dezenas de meses seu único treinamento foi o de vencer o medo da improvisação. Enquanto alguns estudam para se moldar outros o fazem para se libertar – mas esses vão além dos trastes de violões ou das figuras musicais, porque isso são apenas tradutores da música, e não ela em si.

A face menos popular da música é a que deu origem a ela, é a que se perdeu por muito tempo, e é a que, tão logo as virtudes humanas se sobreponham aos defeitos, reinará novamente.

Se você acha que não sabe nada de música, esqueça essa ideia. Feche os olhos, procure a sua harmonia, a sua melodia, o seu ritmo e deixe fluir. Se o coração estiver aberto e o conteúdo for espontâneo, acredite, você será um ótimo músico.