6 filmes de ficção científica para assistir depois de “Frankenstein”

Quando alguém se conecta com “Frankenstein”, o que encanta não é a criatura. É a inquietação. O romance de Mary Shelley é o momento em que o futuro deixa de ser fantasia e passa a ser responsabilidade. Há um sentimento de “e se” ético que marca a ficção científica que realmente importa.

É a vertente que não trata tecnologia como decoração, mas como consequência. E o cinema, quando segue esse caminho, revela uma linhagem inconfundível: a que transforma hipótese científica em reflexão sobre humanidade.

Esses sete filmes representam, cada um à sua maneira, a continuidade desse gesto intelectual. Não são apenas grandes obras visuais. São grandes obras que usam técnica como provocação. São filmes que permanecem quando os efeitos envelhecem — o que é o verdadeiro teste do sci-fi sério.

“Blade Runner” (1982), Ridley Scott

É impossível falar de identidade no século XX sem passar por “Blade Runner”. O filme desloca o monstro para dentro do humano e a tecnologia para dentro da moral. Ele não pergunta “o que as máquinas podem fazer?”. Ele pergunta “quem tem o direito de sentir?”. A questão ética de Shelley — a responsabilidade de criar o que não se entende — encontra aqui sua forma mais moderna.

“2001: Uma odisseia no espaço” (1968), Stanley Kubrick

Não existe ficção científica cinematográfica adulta antes desse filme. Kubrick não usa a técnica para impressionar, mas para filosofar. O filme fala de evolução, consciência, transcendência e silêncio. É a obra que decreta que ficção científica pode ser cinema-ideia, não cinema-distração. Toda ambição intelectual do gênero passa por “2001”.

“Solaris” (1972), Andrei Tarkovski

“Solaris” é ficção científica de interioridade. É um filme sobre limite cognitivo, culpa, memória, e sobre o que acontece quando o desconhecido não cabe na linguagem humana. Tarkovski não precisa mostrar tecnologia para falar de técnica: ele fala de consequência humana diante do inexplicável. É a ponte mais evidente entre filosofia e sci-fi.

“Gattaca” (1997), Andrew Niccol

A mais elegante ficção científica sobre genética já filmada. “Gattaca” é um projeto estético e moral ao mesmo tempo. Ele entende futuro não como estética futurista, mas como reorganização do valor humano. O filme é sobre meritocracia artificial, sobre a ideia de potencial, e sobre como ciência pode transformar desigualdade em política de Estado.

“Ex Machina” (2014), Alex Garland

Aqui a inteligência artificial não é ameaça física, mas sedução. É o sci-fi que compreende que o futuro não se realiza em laboratório, mas em relação. O filme pergunta o que acontece quando a técnica não apenas replica o humano — mas manipula o humano. É uma das entradas contemporâneas mais inteligentes para o tema.

“A chegada” (2016), Denis Villeneuve

Um dos raros filmes recentes que entende que ficção científica é linguagem, não explosão. É sobre tradução, compreensão e o abismo entre sistemas de referência diferentes. Villeneuve recupera a tradição filosófica do gênero sem perder força dramática. Ele devolve o sci-fi ao campo da pergunta — e não da resposta.

Esses filmes formam uma constelação coerente dentro da ficção científica. Eles não tentam adivinhar o futuro. Eles examinam o presente com o olhar do futuro. Eles não usam tecnologia como espetáculo, mas como ferramenta de pensamento. Essa é a linhagem de Mary Shelley.

BÔNUS: Aqui vale um bônus inevitável, para fechar o círculo histórico. É o filme “Mary Shelley” (2017), dirigido por Haifaa al-Mansour. Não é ficção científica. Mas é uma peça essencial para entender a gênese emocional e intelectual de “Frankenstein”, o romance que acende o pavio do gênero. O filme mostra o contexto, a inteligência e as circunstâncias que levaram uma jovem de 18 anos a criar a semente da ficção científica moderna. Vê-lo depois de ler o livro — ou depois de ver o novo “Frankenstein” — reorganiza o gênero não como estética futurista, mas como gesto humano.

Pedro Nogueira
Pedro Nogueira
Fundador e editor-chefe do "El Hombre" e do "Moda Masculina".

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