Poucas indústrias têm uma história tão rica, curiosa e cheia de reviravoltas quanto a perfumaria. Algumas marcas sobreviveram a impérios inteiros, guerras mundiais, mudanças de moda e até pandemias — e continuam ali, firmes, embalando essências que já perfumaram reis, rainhas, artistas e até revolucionários. Hoje vamos explorar as casas perfumistas mais antigas ainda em atividade, trazendo várias curiosidades saborosas sobre suas trajetórias. Prepare-se: você vai descobrir histórias que nem imaginava.
Fundada em 1828, a Guerlain é uma das casas mais antigas e respeitadas do mundo. O curioso é que o fundador, Pierre-François-Pascal Guerlain, era inicialmente químico e boticário, só depois se tornou perfumista. A marca ganhou fama ao produzir fragrâncias sob medida para a realeza europeia, incluindo a imperatriz Eugénia, esposa de Napoleão III.
Curiosidade: A Guerlain foi uma das primeiras marcas a introduzir a ideia de “pirâmide olfativa”, dividindo o perfume em notas de saída, coração e fundo — algo que hoje parece óbvio, mas que na época nem existia.
A Officina Profumo-Farmaceutica di Santa Maria Novella, fundada em 1612, é possivelmente a perfumaria mais antiga do mundo ainda em atividade. E aqui vai uma curiosidade deliciosa: a origem da casa está diretamente ligada a monges dominicanos, que cultivavam plantas medicinais e preparavam bálsamos e elixires aromáticos.
Mas o grande salto da marca aconteceu graças a Catarina de Médici, que levou seus perfumistas florentinos para a corte francesa no século XVI. Foi a partir desse movimento que a arte da perfumaria começou a se espalhar pela Europa.
Curiosidade: A Santa Maria Novella ainda produz algumas fórmulas quase idênticas às criadas há mais de 300 anos.
A 4711 surgiu em 1792, em Colônia, na Alemanha, e é considerada a responsável por popularizar a famosa água de colônia. O nome 4711 vem, curiosamente, do número da casa onde a produção acontecia — um sistema de endereçamento criado pelos soldados de Napoleão para facilitar o controle da cidade.
Curiosidade: Durante a Segunda Guerra Mundial, boa parte da fábrica foi destruída em bombardeios, mas alguns barris de essência sobreviveram intactos no subsolo. Eles foram usados para reabrir a produção após o fim da guerra.
A Casa Creed, fundada em 1760 em Londres, começou como uma alfaiataria, e só mais tarde se tornou perfumaria. A transição se deu porque o rei George III teria ficado encantado com uma fragrância oferecida pela família Creed — e a fama se espalhou como pólvora pela aristocracia europeia. A marca acompanhou monarcas por gerações e criou fragrâncias personalizadas para figuras icônicas, como Winston Churchill e Michelle Obama.
Curiosidade: Até hoje, a Creed se orgulha de usar a técnica de infusão manual, um método antigo e raríssimo na indústria moderna.
Fundada em 1775, a Houbigant é uma das casas que moldaram a perfumaria moderna. O príncipe de Gales, que mais tarde se tornou o rei George IV, era um cliente fiel. Mas a história mais pitoresca envolve Maria Antonieta: ela usava uma fragrância da Houbigant quando tentou fugir durante a Revolução Francesa.
Curiosidade: Foi um perfumista da marca, Paul Parquet, quem criou o primeiro perfume baseado em notas sintéticas, um marco que abriu caminho para a perfumaria contemporânea.
A casa Lubin, fundada em 1798, era frequentada por Napoleão, Josefina e outras figuras centrais da época. O fator curioso é que o perfumista Pierre-François Lubin tinha uma obsessão química fora do comum. Ele acreditava que aromas tinham “cores emocionais” — conceito que, hoje, se aproxima da psicologia olfativa.
Curiosidade: A marca quase desapareceu no século XX, mas foi resgatada em 2004 por apaixonados por perfumaria clássica.
O que explica o fato de essas casas terem sobrevivido a séculos? Três motivos principais:
Tradição que gera confiança: marcas antigas transmitiram credibilidade quando perfumes eram produtos raros.
Inovação constante: apesar de tradicionais, muitas foram pioneiras em técnicas, ingredientes e marketing.
Conexão com figuras históricas: reis, rainhas e artistas ajudaram a eternizar seus nomes.
O mais fascinante é que elas nunca pararam completamente de produzir: cada uma manteve algum tipo de continuidade, mesmo durante guerras ou crises econômicas.
A história da perfumaria é, no fundo, a história da humanidade: cheia de batalhas, amores, intrigas, reis, acidentes felizes e reinvenções. E essas marcas centenárias continuam vivas justamente porque souberam preservar sua essência — no sentido mais literal da palavra.