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Ele tem os recordes mundias nos 100m e 200m da categoria

Alan Fonteles, o Blade Runner brasileiro

Thiago Sievers Head de Parcerias

Alan Fonteles Cardoso Oliveira. Talvez você não o conheça, mas este homem vem escrevendo seu nome na história do esporte há algum tempo. Nesta semana (domingo e terça) Fonteles conquistou dois ouros no Mundial Paraolímpico de Atletismo que acontece em Lyon, na França, quebrando o recorde mundial nos 100m e 200m, respectivamente. Mas essa não é a primeira vez que ele se destaca nas pistas.

Alan nasceu em Marabá, cidade do interior de Pará, em agosto de 1992. Sem as pernas completamente desenvolvidas por conta de um problema congênito — o que permitiu que elas crescessem somente até um pouco abaixo dos joelhos — o menino foi, junto de sua mãe, procurar por orientação esportiva quando tinha oito anos e encontrou a técnica Suzete Montalvão do Projeto Papo Cabeça, em Belém. Nesta altura ele usava próteses de madeira que não eram nada favoráveis aos exercícios: foi necessário adaptar seus movimentos às placas, já que elas não tinham flexibilidade e exigiam que Alan corresse com as pernas mais abertas.

“É muito difícil, imagine correr com uma perna de pau. Mas trabalhávamos com o que tínhamos, isso não podia ser um fator de desestímulo para ele. (…) Muitas vezes ele sangrava na hora do treinamento, mas ele sempre dizia para continuarmos. Me doía o coração, mas era da condição dele mesmo. O atleta olímpico também trabalha em cima da dor”, contou Motalvão, que treinou Alan até 2011, à BBC Brasil.

Mas o para-atleta nunca teve problema com suas limitações. Sua mãe Claudia conta que o garoto aprendeu a andar antes dos dois anos de idade e costumava jogava bola com seus amigos na rua como qualquer outra criança. Ousadia sempre foi uma característica de Alan. Apesar da prótese de madeira não permitir que o rapaz desenvolvesse todo seu potencial, pelo menos lhe davam a oportunidade de estar nas pistas. Mas em 2006 Alan ganhou a chance de desenvolver seu talento por inteiro. Este ano foi um divisor de águas na carreira do jovem e ficou marcado após seu encontro com Rivaldo Martins, um grande triatleta brasileiro que sofreu um acidente em 1986, teve que amputar parte da perna esquerda e passou a disputar competições de Ironman na categoria de atletas amputados.

Ao observar Alan correr numa competição em Belém, Rivaldo se surpreendeu com o desempenho do menino, que usava “próteses absurdas, totalmente obsoletas”, e resolveu ajudá-lo. Rivaldo fazia parte de uma fundação norte-americana (Challeng Athletes Foundation) que, ao seu pedido, providenciou para Fonteles próteses especiais. A partir de então a carreira do jovem passou a brilhar, ainda que longe do foco das grandes mídias. Em 2008, então aos 15 anos, ele foi convocado pela primeira vez para as Paralimpíadas, onde conquistou uma medalha de prata no revezamento 4×100 ao lado de Yohanson Nascimento, André Oliveira e Claudemir dos Santos, em Pequim.

Mas seu grande feito seria nos Jogos seguintes, em Londres 2012, quando derrotou Oscar Pistorius, até então considerado imbatível, para ficar com o ouro dos 200m. Na época, o sul-africano Oscar, apelidado de Blade Runner, era o grande astro do atletismo paralímpico. Ele detinha os principais recordes da categoria e vivia como uma celebridade em sua cidade natal, Joanesburgo. Pistorius e a modelo Reeva Steenkamp, sua namorada, eram como uma versão sul-africana do casal Beckham e Victoria. Em fevereiro de 2013, porém, Oscar matou Reeva a tiros, num dos maiores escândalos da história esportiva mundial. Desde então, sua carreira degringolou e ele será julgado pelo crime agora em agosto.

Sua vaga de estrela paralímpica, no entanto, foi muitíssimo bem preenchida por Alan. Os tempos de Alan nos 100m (10s77) e 200m (20s66) são tão impressionantes que podemos até fazer comparações com as marcas de corredores da categoria convencional. Com os 20s66, Fonteles teria ficado em 8º nas Olimpíadas de Londres. O atleta diz que não tem intenção de se classificar para as Olimpíadas no Brasil em 2016. Mas, numa entrevista ao Globo Esporte, manifestou o desejo de participar do Troféu Brasil de 2014 para atletas convencionais, maior competição nacional da modalidade: “Desde Londres eu penso em disputar o Troféu Brasil. É um sonho que eu tenho desde criança, quando eu vi o Robson Caetano correndo.”

Alan, que completa 21 anos em agosto, está voando. Alguns especialistas acreditam, até mesmo, que se ele continuar neste ritmo de evolução poderá tornar-se o homem mais rápido do planeta, à frente de corredores não-amputados como Usain Bolt e companhia. Sinto muito, Pistorius, mas se Alan Fonteles seguir nessa toada, a história lembrará de você apenas pelo acontecimento lamentável de fevereiro. Pois, enfim, surgiu um Blade Runner digno do apelido.