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Como o Cirque du Soleil reinventou o circo

Pedro Nogueira Editor-Chefe

Você tem vontade de ir ao circo?

Sentado aqui na redação do El Hombre, com meu laptop no colo e uma cerveja na mão, enquanto um episódio de Breaking Bad passa na TV, não tenho como saber a sua resposta. Mas fiz essa pergunta, ao longo do dia, para todos os meus colegas de trabalho. O resultado? Seis “nãos”, um “talvez”, um “se fosse de graça” e um “sim”.

Então mudei a questão: “E ao Cirque du Soleil, você tem vontade de ir?”

A resposta positiva foi unânime.

Esta pequena amostragem que fiz com meus colegas, por menor que seja, é o suficiente para dar uma dimensão do feito de Guy Laliberté, um ex-artista de rua canadense, e o seu “Circo do Sol”, como seria o nome da companhia traduzido ao português.

Quando Laliberté criou o Cirque du Soleil em 1984, para celebrar os 450 anos da província de Quebec, a indústria circense estava em franco declínio. Essa decadência começou após o fim da II Guerra Mundial, quando novas formas de entretenimento — como a televisão e o cinema — se popularizaram pelo mundo. Além disso, os circos passaram, a partir da década de 60, a receber críticas fortíssimas de ativistas por usar animais em seus shows.

Perto dos blockbusters de Hollywood e os megashows de artistas pop como Michael Jackson e Madonna, o circo estava reduzido a um papel menor na indústria do entretenimento. E foi nesta situação que Guy Laliberté fundou seu Cirque du Soleil, que 27 anos depois já teria mais de 50 países carimbados em seu passaporte e um público superior a 100 milhões de pessoas. É o equivalente às populações de Argentina, Colômbia e Chile somadas.

Eu poderia me estender mais um pouco na criação du Cirque do Soleil, na vida de Laliberté ou em dados da indústria circense. Mas meu ponto, acredito, já está feito.

Logo, posso partir para a novidade: foi anunciado que um novo espetáculo da companhia – Corteo, estreará no Brasil em março de 2013. Ele ficará no país até fevereiro de 2014 e passará por seis cidades: São Paulo, Brasília, Curitiba, Belo Horizone, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Os ingressos? Entre R$ 190 e R$ 450.

O El Hombre foi convidado pelo Cirque do Soleil, na semana passada, para assistir uma prévia do show. A briga foi grande para decidir qual de nós íamos, mas após uma vitória épica num campeonato de braço-de-ferro, conquistei o direito de ir.

Chegando ao evento, recebi um bom release com números da empresa e do espetáculo em questão. Mas eu não estava lá para fazer contabilidade — minha intenção era tentar descobrir o que o Cirque tinha de diferente dos circos tradicionais. Afinal, a fórmula básica é a mesma: uma mistura de atos cômicos e acrobáticos. Mas havia algum ingrediente secreto de Guy Laliberté, por menor que fosse, que o separava dos demais. Por influência do próprio Cirque, é claro, muitas companhias adotaram a sua fórmula depois. Mas em 1984, o seu espetáculo era inovador.

E, nessa minha procura, encontrei alguns elementos.

O primeiro que chamou a minha atenção? A trilha sonora. Em vez um tema infantil, o que tocava nas caixas enquanto meia-dúzia de equilibristas dançavam com um bambolê gigante era uma música profunda e densa — que intercalava momentos de tensão e alívio. Percebi que o clímax dos atos, aliado a essa trilha, causava arrepios em quem estava assistindo. E não estou falando só de mim, mas pude reparar isso também em alguns jornalistas ao lado.

Outra característica é o tema do show. Em vez de diversos atos independentes, o Cirque do Soleil faz espetáculos que giram em torno de uma história; há uma forte ligação entre as apresentações dos palhaços, equilibristas ou seja lá quem for. E todos realizados por profissionais de altíssimo nível, muitos dos quais ex-atletas olímpicos.

Há ainda um último detalhe, que pode até parecer pequeno, mas me chamou a atenção: a linguagem utilizada pelos artistas. Eles misturam inglês, francês, espanhol, português e grunhidos (às vezes tudo numa mesma frase) para se comunicaram com o público. Isso me fez sentir num mundo à parte; dentro daquela tenda não parece que você não está no Canadá, no México ou no Brasil — mas, sim, no Cirque du Soleil, como se este fosse uma pátria nômade. E muito divertida.