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O Corinthians, a filosofia e o poder de um grupo

Thiago Sievers Head de Parcerias

Quem acompanha o site sabe que eu sou palmeirense. E, como tal, eu tive um ano futebolístico difícil. Bem difícil. Apesar de campeão da Copa do Brasil – algo realmente expressivo na atual fase do Palestra – os torcedores do alviverde paulista sofreram nessa temporada. Isso porque, para um torcedor apaixonado, o futebol não se limita ao próprio time – ele se estende aos clubes rivais. E em São Paulo são três. Se não bastasse o rebaixamento para a Serie B do Verdão, o Santos ganhou o Paulista, o São Paulo venceu a Sul Americana e o Corinthians… Ai ai ai, foi campeão da Libertadores e do Mundial.

Portanto, escrever esse texto vai ser igual a admitir que o atual namorado da sua ex é um cara bonito, gente fina, inteligente e viril. É de cortar os pulsos. Contudo, certa vez me disseram que reconhecer as qualidades de seu inimigo é um sinal de virtude divina. O que isso realmente significa eu não sei, mas me soou bonito, então vamos lá.

Para começar é preciso definir um conceito de extrema relevância para o assunto: grupo de pessoas. Um grupo de pessoas é formado por indivíduos afinados entre si e com um mesmo objetivo. Cada indivíduo tem uma função determinada dentro do grupo, sendo que um deles (ou alguns deles) é o responsável por traçar uma estratégia e determinar as funções para que o objetivo seja alcançado. Eu não sei se essa é mesmo a definição para “grupo de pessoas” (e nem se existe uma), mas é a que eu dei e, portanto, a que será usada aqui no texto. Certo?

O grupo de pessoas do Corinthians é um dos mais forte que eu já vi. Dolorosa e pecadoramente eu tenho que admitir: está bonito ver a eficiência do time.

Vejam bem, não estou dizendo que o futebol do Corinthians é belo artisticamente. Vitórias apertadas, suadas, jogo extremamente pensado, medido, raciocinado, fazem com que as partidas do time cheguem a ser monótonas (com certeza não para a torcida corintiana). Futebol bonito mesmo é o do Santos. Lá se tem plasticidade, dribles, ousadia – mas não se têm um grupo de pessoas forte. O time claramente joga pelo Neymar, funciona pelo moleque: é o talento individual em detrimento do grupo.

(MAIS: “O maior jogador do Corinthians é a sua torcida”)
(MAIS: Por que sou corintiano)

Já no Corinthians tudo funciona com equilíbrio, sem destaques. É uma engrenagem onde as partes estão em perfeita sintonia. Tem jogo em que Paulinho se sobressai; em outro é a vez de Cássio; ou ainda Guerreiro; vira e mexe o Tite é o cara; às vezes o Emerson – mas sempre o grupo é o ponto forte. E isso eu admiro. Afinal de contas, esse é um esporte coletivo.

Para mim, não há nada mais bonito do que fazer um grupo funcionar em harmonia. É um desafio tão grande, mas tão grande, que quando acontece é de encher os olhos.

Observando o Corinthians jogar se percebe como todos funcionam para o time. É algo organizado, consciente, não há espaço para egoísmo, não há espaço para melindres. Num cenário futebolístico onde os salários ganharam proporções assustadoras e a vaidade é característica de presença constante, notar isso acontecer é confortador – mesmo que seja no time rival.

A torcida do Corinthians é algo digno de nota também, mas, na minha opinião, não foi ela o principal fator para as conquistas do Timão desse ano, como muitos apontam. Se assim o fosse, o time teria ganhado esses mesmos títulos em outras oportunidades, quando a torcida era a mesma. Em 2009, por exemplo, o Corinthians tinha um ótimo elenco – mas não um grupo do mesmo nível. Não conseguiram administrar a harmonia do time com uma estrela como Ronaldo. Não digo que os jogadores não se davam bem, mas me parece que quando se tem alguém com tanto destaque as tarefas não são distribuídas equilibradamente, e, então, a engrenagem não funciona de forma coesa.

Essa lição corintiana vai muito além das quatro linhas dos campos de futebol – é um aprendizado filosófico. Eu diria que a humanidade precisa reparar no Corinthians jogando e entender que enquanto a união não existir a harmonia será utópica. O objetivo de todos nós, a felicidade, só é possível com trabalho em grupo.

Nada evidencia isso mais do que a vitória do time de Parque São Jorge sobre o Santos na semifinal da Libertadores – onde a minha esperança de barragem à máquina alvinegra se perdeu entre os rojões que arruinaram a minha noite e também meu coração verde e branco.

Parabéns, Corinthians.