O dia em que o futebol venceu o Nazismo

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Um ato do jogador grego Giorgos Katidis, do AEK Atenas, causou uma gigantesca revolta na sociedade. Imprensa, torcedores do mundo inteiro e a Federação Grega de Futebol (HFF, na sigla da língua local) repugnaram a atitude do jovem de 20 anos, que supostamente comemorou um gol com o gesto de saudação nazista.

A HFF puniu o atleta – que alegou que não sabia o significado da ação – com a decisão de excluí-lo para sempre de sua seleção nacional. Neste link, você pode ver o vídeo da comemoração.

A determinação e o manifesto contrário tornam-se mais uma vitória do futebol contra o nazismo. Um triunfo exemplar à sociedade que me obriga a resgatar o infortúnio do Dínamo Kiev. Um caso ocorrido no dia 9 de agosto de 1942, no Estádio do Zenit, contra o regime de Adolf Hitler.

# Contexto histórico

Em 1941, após os nazistas tomarem a Ucrânia na 2ª Guerra Mundial, a capital Kiev ficou destruída. Foram feitos muitos prisioneiros de guerra na cidade. Os mais perigosos foram enviados imediatamente para campos de extermínio ou para realizarem trabalho forçado.

Os demais, por sua vez, foram liberados, entretanto, com a proibição de morarem nas casas de Kiev ou trabalharem. Dentre os prisioneiros e os liberados, estavam alguns jogadores profissionais do melhor clube de futebol ucraniano da época: o Dínamo de Kiev.

# Começa a reviravolta dos jogadores

O goleiro Nikolai Trusevich foi um dos prisioneiros libertadores pelos soldados. Um alemão, dono de uma padaria em Kiev, driblou as leis nazistas e deu abrigo e emprego a Trusevohc por ser um grande fã do Dínamo.

O prestativo e corajoso alemão ajudou também os amigos do goleiro, que também era atletas do clube ucraniano. Depois de meses, a padaria tinha em seu quadro de funcionários quase um time de futebol, com alguns jogadores do Dínamo e outros do Lokomotiv, clube russo.

Trusevich teve então a ideia de reunir todos os jogadores companheiros da padaria para retornar ao futebol. Criaram o FC Start e entraram , após inúmeras discussões, na liga de futebol patrocinada pelos nazistas com o intuito de elevar o moral dos ex-prisioneiros.

O Start em pouco tempo tornou-se uma potência, com vitórias em todas as partidas diante de equipes de soldados alemães. A fama do time foi se espalhando causando revolta nos nazistas, que ficaram indignados que a raça ariana estava dominando o futebol na região.

Os soldados decidiram montar um time para se tornar imbatível. Foi criado o Flakelf, formado pelos integrantes da força aérea nazista. No primeiro jogo diante do Start, derrota por 5 a 1.

A humilhante derrota deixou os nazistas ainda mais irritados. Depois de investigações, descobriram que o padeiro alemão quebrou as regras determinadas pelo regime. Com isso, o centro de comando ordenou eliminar todos os envolvidos no caso, inclusive os jogadores do Start.

Entretanto, os oficiais locais decidiram realizar um jogo de revanche para não enfraquecer a moral nazista sem uma vitória diante do clube formado pelo goleiro Trusevich.

# Revanche

O jogo era para ser apenas uma formalidade em que os soldados venceriam o confronto. Antes do início do evento, um oficial determinou que todos os jogadores do Start deveriam respeitar as ordens, inclusive fazer a saudação nazista na cerimônia de abertura do duelo.

Entretanto na hora da saudação, todos do time não gritaram “Heil Hitler”, gritaram e sim “Fizculthura“, termo usado na região contra o regime. A atitude deixou os alemães ainda mais furiosos. Não foi marcada nenhuma falta contra o Start, que sofreu muito com a violência em campo.

O resultado do primeiro tempo terminou em 3 a 1 para o Start. No intervalo, oficiais alertaram os jogadores ucranianos. Foi avisado que em caso de vitória os jogadores sofreriam duras consequências. Os atletas do Start retornaram ao gramado e, bravamente, resistiram ao confronto para alavancar o moral da população da região que a saudava na arquibancada.

O jogo terminou 5 a 3 para o Start.

# Consequências

O que fora prometido no intervalo da revanche foi cumprido pelos nazistas. A derrota custou a vida de todos os jogadores do Start. Eles foram perseguidos, torturados e mortos por soldados do regime de Adolf Hitler. Apenas dois jogadores resistiram aos ataques: os sobreviventes foram Goncharenko e Sviridovsky.

A triste e corajosa história dos jogadores do Start é um exemplo que o futebol deu ao mundo, resgatado agora pela punição ao jovem grego Giorgos Katidis, do AEK Atenas, pela sua atitude supostamente nazista.

Felipe Piccoli

Felipe Piccoli é especializado em jornalismo esportivo desde 2008. Com passagens pela Rádio Bandeirantes e pelo jornal Marca Brasil, hoje ele é coordenador de reportagem da Band.

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