“O maior jogador do Corinthians é a sua torcida”

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Ladies & Gentlemen.

Tenho, como todo inglês, fascínio pelo futebol brasileiro.

Mas não julgo que o Corinthians jogue o futebol brasileiro. Não, pelo menos, aquele que conheci na adolescência, que podia ser classificado como arte sem exagero.

Hoje, o melhor jogador brasileiro que vi em campo estava do outro lado: David Luiz. Sabe o que faz com a bola, tem classe. É um brasileiro legítimo, em suma.

Quanto o Corinthians foi acuado pelo Chelsea basta ver pelas defesas espetaculares do goleiro Cássio. Não fosse ele, o time de Abramovich teria virado o jogo vencendo por 3 a 0, ou coisa do gênero.

Cássio ganhou o jogo. Ele e, é verdade, Supernatural Jones, como é chamado no pub de Parsons Green, em minhas conversas cheias de pints com o Boss, o personagem de Nelson Rodrigues que decidia partidas impossíveis, Sobrenatural de Almeida.

O Corinthians fez com o Chelsea o que o Chelsea fez com o Barcelona na Champions League de 2011: ganhou sob domínio torrencial do inimigo. Resultados tão fora do que se vê no gramado ocorrem mais ou menos uma a cada 100 vezes, e acabam dando ao futebol o apelido clássico de “little box of surprises”. O Barcelona foi duas vezes vítima disso contra o Chelsea. E hoje o Chelsea foi a vítima.

Ladies & Gentlemen.

Muito mais bonito que o futebol apresentado pelo Corinthians em campo foi o apoio de sua torcida apaixonada. Assisti ao jogo, no reservado da imprensa, ao lado de uma amiga do Mail, e notei que ela em certo momentos ficou com os olhos molhados ao contemplar a alegre imensidão alvinegra no estádio.

(MAIS: Por que sou corintiano)
(MAIS: Don Vicente Matheus, señor empresário)

Jamais vi uma torcida como esta. Transformou o Japão na casa do seu time. Empurrou os jogadores quando eles estavam perdidos, e sem o empurrão o milagre não teria ocorrido, nem com Cássio e nem com Supernatural.

E sem o milagre eu não teria ganhado o que ganhei ao apostar contra o favoritismo absoluto do Chelsea nas casas de apostas de Londres. Parte de meu lucro será empregada na compra de uma camisa do Corinthians. Confesso que fiquei enfeitiçado não pelo time, mas pela torcida.

Um dia haverei de me misturar a ela no Brasil. É uma experiência que não quero, que não posso deixar de ter. Um feio a mais entre tantos feios não fará diferença, acredito.

A madrugada aqui em Yokohama é criança. Amigos meus jornalistas me esperam para tomarmos algumas pints. Não é sempre que estou livre da cobrança de Chrissie, minha mulher azeda e neurastênica.

Boss: congrats, mate!

Sincerely

Scott

Tradução: Erika Nakamura

Scott Moore

Scott moore é um jornalista inglês de 53 anos. Ele passou toda a sua vida adulta amargurado com o jejum do Manchester City, seu amado time, na Premier League. Revigorado com a vitória dos Blues na temporada 2011/12, depois de 44 anos na fila, Scott voltou a acreditar no futebol e agora traz sua paixão às páginas do El Hombre.

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