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O Netflix continua sua revolução com “Orange Is The New Black”

O canal de assinaturas online Netflix lançou, na última quinta-feira, sua mais nova série, Orange Is The New Black, da mesma criadora de Weeds, Jenji Kohan.

É possível ver algumas semelhanças entre as duas séries: assim como em WeedsOrange Is The New Black apresenta uma protagonista aparentemente comum inserida num mundo ilegal, tomando decisões moralmente ambíguas. A diferença é que Orange insere esse personagem num cenário mais excitante: um presídio feminino. E todas as curiosidades desse mundo desconhecido por nós, desde as relações entre as presidiárias até abusos feitos por alguns policiais dentro dessa micro-sociedade.

Baseado no livro de memórias de Piper Kerman, Orange apresenta uma mulher que teve um caso com uma traficante e que chegou a participar de algumas operações (carregando uma mala com dinheiro de tráfico de drogas em um aeroporto). Dedurada e considerada cúmplice, ela decide se entregar e pega uma sentença de 15 meses. A partir daí, vemos Piper lidar com conflitos dentro do presídio e algumas relações que cria com outras companheiras, equilibrando muito bem humor com drama (não a toa tem sido classificada pelo canal e por críticos como uma “dramédia”).

Mas a série não se prende no cenário do presídio apenas. Além de mostrar como seu noivo lida com a vida sem ela, Jenji Kohan optou por uma narrativa fragmentada e não linear. Toda a história da razão de Piper estar na prisão e sua relação com a ex-namorada é contada a partir de flashbacks.

Cada episódio possui também uma sub-trama focada na vida de algum personagem coadjuvante, mostrando diferentes motivos por estarem ali – pessoas que foram presas por terem realmente feito algo ruim ou que foram presos por erros absurdos. Também mostra a dificuldade dessas mulheres de serem reinseridas na sociedade — e a incapacidade de algumas. Esses flashbacks funcionam muito bem na maioria das vezes, humanizando alguns dos personagens, mas em outros momentos acabam sendo sentimentais demais, passando uma sensação de dramalhão desnecessária — mas nada que comprometa o andamento da série.

Esse é mais um passo à frente do Netflix, que continua a sua revolução da TV. Assim como havia feito com House of Cards e Arrested Development, o canal de streaming disponibilizou os 13 episódios de Orange Is The New Black de uma só vez, dando a oportunidade para seu público assistir quantos episódios quiser no horário que for mais conveniente.

O Netflix tem dado uma liberdade para os roteiristas que traria inveja a qualquer cineasta — não à toa muitos deles têm produzido ou dirigido episódios de séries, como David Fincher em House of Cards, por exemplo. Com Arrested,  os executivos do site foram flexíveis em relação à duração dos episódios. Muitos dos envolvidos em Orange comentaram essa liberdade, sem ter a preocupação com os números de audiência (algo que o canal aprendeu com a HBO, que nem chega a revelá-los). Tanto é que, mesmo antes da série ser disponibilizada, a renovação para uma segunda temporada foi feita, mostrando confiança na produtora executiva, algo pouco visto nos canais maiores (e principalmente abertos) de televisão.

A televisão tem mostrado ser o caminho mais interessante para cineastas hoje em dia, visto o declínio e a dificuldade que produções originais encaram atualmente nos grandes estúdios de cinema. É a possibilidade de desenvolvimento de personagens e tramas que cineastas da Nova Hollywood como Martin Scorsese e Francis Ford Coppola tanto sonharam nos anos 70.

O canal online continua investindo em suas programações originais (baseado no gosto de seu público em relação às séries e filmes mais assistidos de seu catálogo) e já tem outras séries engatadas: Sense 8, uma ficção científica produzida pelos irmãos Wachowski, de Matrix, e duas animações em parceria com a Dreamworks. Não a toa o formato em streaming tem sido aceito pelas grandes instituições – as séries do Netflix dominam as especulações dos grandes indicados ao Emmy 2013, que serão anunciados dia 18 de julho.

O Netflix parece saber que o rumo da TV é a internet e o VOD (video-on-demand), sem uma grade horária fixa, dando mais autonomia e liberdade ao seu público e disponibilizando material de ótima qualidade. Não seria louco dizer que, em alguns anos, poucas pessoas assistirão à TV tradicional, comprando aplicativos de canais, set-top-boxes como a Apple TV e assinando sites de streaming como Netflix e Hulu.

Se seguir esse rumo, pode-se dizer que não só os cineastas ficarão felizes, mas o público também agradecerá.