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O Shazam se tornou um canal para as gravadoras espionarem você

Sabe quem antecipou que o Daft Punk emplacaria com “Get Lucky” o hit de 2013? E quem foi o responsável por apontar que Gotye e a sua “Somebody That I Used to Know” iria ser o grande sucesso de um ano antes?

Não, não foi aquele crítico consagrado do The New York Times, tampouco aquele blog de música antenado ou o seu amigo que diz saber tudo de música.

Foi o Shazam.

Nos últimos anos, o serviço mobile de identificação de música se configurou em um verdadeiro barômetro para o sucesso.

Você sabe como funciona: você ouve uma música que gosta, aponta o smartphone ou tablet para o alto falante e o aplicativo te fala exatamente o que é.

Com ele você conhece na hora aquela track legal que está rolando no rádio ou na pista. Lembra daquele hit que embalou os tempos áureos da juventude ou descobre a sua nova banda preferida.

Um aplicativo esperto que resolve o velho problema: “qual mesmo o nome daquela música?”

Tudo lindo, divertido e muito prático. Mas é aí que está o grande ponto de interrogação.

É justamente o ponto forte do Shazam que faz dele algo muito além de um divertido desbravador sonoro: ele é um radar sem filtro para a indústria musical. Afinal, na maioria das vezes as pessoas buscam por um título ou artista porque elas realmente gostam daquela música.

O mercado já sacou que o Shazam vem há tempos acertando na mosca os hits de cada temporada. A partir daí, começou a estabelecer parcerias para a descoberta e lançamento de novos artistas – e, de quebra, moldar o gosto do povo.

A Warner Music foi a primeira. Há alguns meses, a gravadora chegou a lançar um selo destinado ao aplicativo.

“A Warner Music está usando o Shazam para espionar você”, cravou a consagrada revista Spin em matéria de alguns meses atrás.

É que tal parceria disponibiliza para a gravadora dados detalhados sobre o comportamento de ouvintes, permitindo a ela lançar campanhas promocionais especialmente costuradas para cada caso.

Com a ajuda do serviço a label sabe que, em algum momento de 2014, os seus amigos vão estar curtindo aquele DJ holandês de nome esquisito. Ou que a sua namorada estará em breve cantarolando as músicas daquela doce cantora australiana.

O app tem mais de 420 milhões de usuários espalhados em 200 países. Por meio de campanhas direcionadas, sua popularidade com um número tão grande de pessoas garante um sucesso verdadeiro e medido em termos de vendas.

Só em 2012 o Shazam gerou U$300 milhões. Durante o Grammy 2014, ele solicitou para 10 milhões de usuários acessarem conteúdos exclusivos, levando o evento a ter mais de 1 milhão de compartilhamentos e 54 mil músicas compradas.

A ideia é que quando uma música aparece na trilha sonora de uma nova série de TV, por exemplo, a empresa possa medir em tempo real as pessoas que seguram o seu smartphone contra a tela – quando “Oats in the Water”, do Ben Howard, estreou em The Walking Dead ganhou 300 mil buscas simultâneas no app.

Saber que as pessoas se emocionaram ao ponto de sacar o seu telefone para descobrir “que música é essa?” é um dado poderoso para marqueteiros musicais – não por acaso, 75% das tracks que chegaram ao número 1 no Shazam também bateram no topo da Billboard (em média) 40 dias mais tarde.

Da mesma forma que cruzam diálogos no Twitter ou avaliam “likes” no Facebook, esse é mais um belo case para alimentar a eterna discussão sobre conveniência x privacidade. O que torna ele desconfortável, no entanto, é o trabalho por baixo do pano – mais um caso em que um “big brother” está monitorando os nossos hábitos com o objetivo de direcionar as nossas decisões.

Em outras palavras, o que era uma brincadeira se transformou em uma máquina de fazer dinheiro.