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Os 7 Pecados Capitais no mundo atual: a inveja

Um pecado que acredito ser tão intrínseco à condição do humano quanto o “ser” é a inveja. Duvido existir alguém que teve esse sentimento e, por isso, talvez ele nos permeie durante toda a vida.

Já na pré-escola hombrezinhos invejavam o dinossauro do amiguinho, ou então o robô/guerreiro que o pai deu a seu irmão e não a ele. Invejamos a grama do vizinho, o carro que o cunhado trocou, as férias na praia de nossos seguidores no Instagran, o cargo de nossos chefes, a bela mulher com quem seu amigo está saindo.

Invejamos e ponto!

A inveja, do latim invídia, tem como significado o desejo exagerado por posses, status, habilidades e tudo o que outra pessoa tem e consegue.

É considerada pecado porque alguém invejoso ignora suas próprias bênçãos e prioriza o que é do outro no lugar do próprio crescimento espiritual. O invejoso ignora tudo o que possui e com o que foi abençoado para cobiçar o que é do próximo.

Podemos pensar que quando tudo corre bem, a inveja é saudável se servir como motor e alavanca para que consigamos o que queremos. Alguém que inveja saudavelmente outra pessoa pode esforçar-se para aprimorar-se na vida, em sua carreira profissional, comprando seus itens de desejo e viajando para lugares tão sonhados. Há um desejo e com isso traça-se uma meta.

Já quando as coisas não vão tão bem, o invejoso pode ver-se refém de seu próprio pecado, empacado ao fato de apenas querer o que é do outro, não se movimentando para realização de seus objetivos. Ele deixa de enxergar o que já existe em sua vida, amargurando-se com o que não possui, frustrando-se com tudo e todos.

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Foi pensando nestes invejosos que se envenenam com a cobiça ao que é do outro, muitas vezes roubando-lhe objetos e pessoas queridas a fim de aplacar sua angustia de não tê-los, que me lembrei de uma curiosa e pouco explorada patologia conhecida por cleptomania.

O QUE É?

A cleptomania é um distúrbio psiquiátrico classificado no manual de psiquiatria DSM-IV como uma doença caracterizada pela necessidade impulsiva de furtar objetos.

Trata-se de um fracasso recorrente em resistir a esses impulsos de roubar, embora os objetos sejam desnecessários para o uso pessoal ou por seu valor monetário. Acompanhando o forte impulso e a realização do roubo, vem um enorme prazer em ter furtado o objeto cobiçado.

A palavra cleptomania tem a sua raiz no grego kléptes e significa literalmente “mania de roubar”. O termo foi criado há mais de dois séculos para descrever o impulso de roubar objetos desnecessários ou de pequeno valor.

Jean Étienne Esquirol, psiquiatra francês, notou, em 1838, que o indivíduo frequentemente se esforçava para evitar este comportamento, mas, por sua natureza, isto era irresistível. Para o médico, esses pacientes não tinham o controle de seus impulsos profundamente comprometido, executando ações não ditadas por sua razão e que muitas vezes eram desaprovadas por sua consciência moral.

Somente a partir dos anos 50 é que a cleptomania foi reconhecida pela Associação de Psiquiatria Americana como uma espécie de doença mental e apenas nos últimos 15 anos os trabalhos científicos nesta área confirmaram-na realmente como um transtorno psiquiátrico.

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O CLEPTOMANÍACO É UM LADRÃO?

A cleptomania é um transtorno do impulso cercado de preconceitos e geralmente está associado à depressão e ansiedade. Apesar de causar muita curiosidade, esta é uma doença pouco estudada, mal compreendida e cercada de crendices que a comparam ao ato de um ladrão.

A característica principal desta doença é um impulso incontrolável em furtar, algo irresistível. A pessoa sente uma tensão crescente enquanto não realiza o desejo de se apropriar de um objeto, como uma ideia fixa, uma obsessão. Seguido a esta tensão, há o prazer, mesmo que pontual, quando o fato se concretiza.

Após o roubo, o paciente reconhece o erro de seu gesto, não entendendendo o motivo que o levou a fazer aquilo ou o porquê de não ter conseguido evitar o impulso.  Após o ato ele fica envergonhado e esconde isso de todos.

Essas características se assemelham às do Transtorno Obsessivo Compulsivo e, por isso, está sendo estudada como uma possível variante desse transtorno.

Ao lembrarmos do texto anterior referente à bulimia, vemos que, por também se tratar de um impulso incontrolável, a doença leva o paciente a sentir-se culpado e envergonhado após ter comido demais, induzindo o vômito.

É comum que os indivíduos afetados com a cleptomania também sejam portadores de outros distúrbios mentais, tais como distúrbio bipolar, anorexia nervosa, bulimia nervosa ou distúrbio da ansiedade.

A cleptomania diferencia-se de um roubo comum por não haver premeditação por parte de quem pratica o ato. Assim, essa não é uma atividade planejada, não há grandes elucubrações antes da concretização. É um ato solitário e cometido somente pela pessoa, sem participação de outras.

Os objetos furtados são comuns, geralmente de pouco valor monetário, que nem são necessários à pessoa, que os poderia facilmente comprar. São coisas simples como canetas, batons, perfumes, e roupas.

Já o furto comum é planejado, deliberado e motivado pela utilidade do objeto ou por seu valor monetário. Há casos em que ladrões buscam se passar por cleptomaníacos  para justificar os assaltos que cometem, mas já foi comprovado que a pessoa realmente doente rouba objetos sem valor. Somente casos isolados enovolvem algo de valor.

Portanto, em casos de roubos de alto valor deve-se estudar detalhadamente o histórico da pessoa para que um criminoso não seja confundido com um doente psiquiátrico.

NA MÍDIA

A cleptomania teve grande repercussão na mídia com o caso da atriz americana Winona Ryder e do rabino Henry Sobel, que foram flagrados em atos de cleptomania dentro de lojas.

A atriz foi acusada em 2002 por roubar roupas na Saks e condenada a três anos de liberdade condicional e prestação de serviço comunitário. Em 2008 a atriz voltou a ser apanhada em flagrante numa boutique em Los Angeles.

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Winona já sofreu desse problema

Outro caso que deixou marcado a doença foi o da personagem Haydeé da novela América, interpretada por Cristiane Torloni, que roubava objetos de baixo valor e guardava em sua casa.

A atriz pontuou que “pelo que entendi, têm casos que na verdade são fases de cleptomania. Isso porque a cleptomania é como se fosse a ponta de um iceberg. Por trás dela há um quadro muito mais complexo. Quando se toca na causa, às vezes se consegue, pelo menos, ter um controle da coisa”.

HÁ CURA??

Quando cuidadosamente diagnosticada, a cleptomania pode ser tratada com sucesso, mas dificilmente eliminada. Medicamentos antidepressivos e para a ansiedade podem funcionar, mas a grande questão reside na aderência do paciente ao tratamento, pois na grande maioria dos casos estes não se percebem doentes e, portanto, não desejam melhorar.

É de grande auxílio a terapia contínua, já que o desaparecimento total e definitivo desta doença é difícil. O trabalho realizado em análise visa o desenvolvimento do autocontrole por parte do doente, fazendo-o entender o que a enfermidade causa para si e para a sociedade, envolvendo família e amigos.