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Qual será o futuro da ciência e de uma inteligência pós-humana? O cosmologista Martin Rees tem uma hipótese

O seguinte texto, sobre o futuro da ciência e de uma inteligência pós-humana, foi publicado originalmente no site The Marginalian é e da autoria de Maria Popova.

“Temos uma fome mental que pede conhecimento de tudo ao nosso redor e, quanto mais ganhamos, mais desejamos”, observou a pioneira astrônoma Maria Mitchell ao contemplar ciência, religião e nossa conquista da verdade no final do século XIX. “Se um dia chegarmos ao ponto de pensar que entendemos completamente quem somos e de onde viemos, teremos falhado”, escreveu Carl Sagan um século depois em sua requintada meditação sobre ciência e espiritualidade.

No entanto, o anseio por respostas estáveis e entendimento completo – ou, como Hannah Arendt memoravelmente o colocou, a “propensão para fazer perguntas sem resposta”, pode ser uma das características mais distintivas da nossa espécie. Afinal, desde que a ciência moderna existe, os cientistas tentaram responder a tais perguntas buscando reconciliar a ciência e a religião, como Galileu fez ao defender suas teorias contra a Inquisição, e Ada Lovelace ao considerar a interconexão do universo, ou pelo menos relegá-las a diferentes reinos de investigação.

Contribuindo para o cânone dessas meditações está o celebrado cosmólogo e astrofísico inglês Sir Martin Rees, que foi o último astrônomo da corte europeia a ocupar uma posição como Astrônomo Real da Casa de Windsor e conselheiro científico da Rainha da Inglaterra.

No livro We Are All Stardust: Leading Scientists Talk About Their Work, Their Lives, and the Mysteries of Our Existence, que é um compêndio fantástico de entrevistas do físico austríaco, ensaísta e jornalista científico Stefan Klein, Rees reflete sobre sua entrada incomum na questão da ciência e espiritualidade:

Fui criado como membro da Igreja da Inglaterra e simplesmente sigo os costumes da minha tribo. A igreja faz parte da minha cultura; gosto dos rituais e da música. Se eu tivesse crescido no Iraque, creio que eu iria a uma mesquita. Parece-me que as pessoas que atacam a religião realmente não a compreendem. Ciência e religião podem coexistir pacificamente – embora eu não ache que elas tenham muito a dizer uma à outra. O que eu gostaria mesmo é que os cientistas nem mesmo usassem a palavra “Deus”. A física fundamental nos mostra o quão difícil é entendermos até mesmo as coisas mais simples do mundo. Isso nos deixa bastante céticos sempre que alguém declara que tem a chave para uma realidade mais profunda… Sei que ainda não entendemos nem o átomo de hidrogênio – então, como poderia acreditar em dogmas? Sou um cristão praticante, mas não um crente.

O problema central do dogma religioso, claro, é que a mitologia de “Deus” oferece uma única história coesa que afirma explicar toda a “Criação” – uma teoria que reivindica sua veracidade não por evidência empírica, mas por afirmação insistente. Em um sentimento que lembra a duradoura sabedoria de Sagan sobre o equilíbrio vital entre ceticismo e abertura, Rees ilustra como o cientista considera uma teoria:

Acho irracional me apegar a uma teoria. Prefiro deixar diferentes ideias competirem como cavalos em uma corrida e observar qual delas vence.

Quando questionado se acredita que os cientistas tomam decisões mais inteligentes como cidadãos, Rees responde:

[Os cientistas] trazem uma perspectiva especial para as coisas. Por exemplo, como astrofísico, sou alguém que está acostumado a pensar em termos de períodos de tempo extremamente longos. Para muitas pessoas, o ano de 2050 é distante o suficiente para parecer inimaginavelmente longínquo. No entanto, estou constantemente ciente de que somos o resultado de quatro bilhões de anos de evolução – e que o futuro da Terra durará pelo menos tanto quanto. Quando você sempre tem em mente quantas gerações podem nos seguir, adota uma atitude diferente em relação a muitas questões do presente. Você percebe o quanto está em jogo.

Com um olhar voltado para o progresso e perigo que a civilização humana causou, Rees considera o futuro evolutivo prospectivo de uma inteligência pós-humana:

Os humanos do presente certamente não são o ápice da Criação. Espécies mais inteligentes do que nós habitarão a Terra. Elas podem até aparecer em breve. Atualmente, a evolução não é mais impulsionada pelo lento desenvolvimento natural, como Darwin a descreveu, mas pela cultura humana. Então, uma inteligência pós-humana pode ser feita por nós mesmos. E espero que nossos sucessores tenham uma compreensão melhor do mundo.