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Roberto Bolaños e Chaves: o mortal e o imortal

Thiago Sievers Head de Parcerias

Roberto Bolaños, nosso esterno Chaves, se foi nessa tarde de sexta-feira aos 86 anos.

Sua morte já era aguardada, pois sua saúde estava muito frágil há algum tempo. Mas quando alguém dessa grandeza morre é sempre uma surpresa.

Roberto foi um gênio. E isso todos há de convir. Qualquer pessoa que cria um programa que faz sucesso por mais de 40 anos é gênio.

Chaves entrou para a história da televisão mundial. Em 2012 a Forbes deu uma matéria sobre o seriado que dizia o seguinte:

Domingo que vem os olhos da América estarão no Lucas Stadium, onde acontecerá o Super Bowl XLVI. O jogo será transmitido pela NBC, que espera quebrar o recorde de audiência do ano passado de 111 milhões de telespectadores. Foi o Super Bowl mais assistido da história, assim como foi o programa de qualquer tipo mais assistido na história da televisão americana.

Muito impressionante. Mas e se um programa de televisão mexicano que iniciou no começo dos anos 70 alcançasse os mesmos números, com a diferença de o fazer todos os dias?

Sim, a Forbes estava falando de Chaves. Isso serve apenas para termos uma noção básica do tamanho do programa de Roberto Bolaños. É um fenômeno sem igual.

Segundo a publicação americana, Chaves reúne cerca de 91 milhões de telespectadores na frente da TV diariamente no continente americano.

E nós sabemos que no Brasil o seriado é unanimidade entre os programas de humor. Tanto é assim que o show ameaçou por diversas vezes a supremacia da Globo, o que não é para qualquer um.

Chaves já foi transmitido em mais de cem países.

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SEGREDO DO SUCESSO

Todos já se perguntaram: qual o segredo do sucesso de Chaves? O programa tem recursos simples, qualidade de imagem e som precária, cenário mirrado, elenco reduzido e mesmo assim nada indica que um dia deixará de fazer sucesso.

O segredo, na verdade, é básico: o programa traduz a realidade com simplicidade e bom humor. Somado a isso, há o entrosamento da equipe e o fator mágico de que “tudo se encaixa, tudo dá certo, todos sabem e entendem o que tem de fazer”.

Essa é a sensação que temos ao assistir Chaves.

É incrível como Bolaños consegue trabalhar situações cotidianas que fazem parte da vida de todo mundo e que representam os problemas centrais de cada um de nós com tanto acerto.

Chaves é eterno porque seu conteúdo é atemporal. Anos, décadas se passam, mas os problemas de nossas vidas cotidianas continuam os mesmos.

Os personagens são muito bem traçados e cada um representa personalidades presentes em todas as famílias, grupos ou comunidades. O menino mimado e egoísta, a garotinha espertalhona, a mãe superprotetora, o cavalheiro que preserva os bons costumes, o malandro, o cobrador insaciável, o moleque ingênuo.

Quem não vê no irmão, no tio, na prima um Senhor Barriga, uma Dona Florinda ou um professor Girafales?

E com os personagens vêm as situações cotidianas: a falta de dinheiro, a paixão ardente, as intrigas entre amigos, as cobranças necessárias, a vida entre diferentes classes sociais, etc e tal.

SIMPLICIDADE

Mas a simplicidade é que dá o tom do programa. Tudo é muito simples. Inclusive as piadas.

Chaves não precisou apelar para a baixaria para fazer sucesso. Em entrevista à Veja em 1999, Bolaños disse: “Quando sobram piadas chulas, é porque falta talento.”

Então, muito pelo contrário, o programa aposta na mensagem do bem.

O próprio Roberto Bolaños já disse por várias vezes que o seriado defendia valores familiares como a honestidade e a compaixão.

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Você pode alegar que há violência no programa, afinal, os personagens vivem se esbofeteando. E é verdade!

Mas, ei, isso não acontece na sua família, entre seus amigos, no trabalho, na faculdade? É a tradução da realidade.

Contudo, o seriado, no fim, comunica a mensagem de esperança, com a união e a harmonia permanecendo apesar de tudo. Apesar, inclusive, de que no dia seguinte as perseguições recomeçarão.

Roberto Bolaños é também a cabeça criadora por trás de Chapolin. E, incrivelmente, o seriado que mantinha a mesma pegada, os mesmos personagens, a mesma linguagem, fez (quase que) o mesmo sucesso. O que mudava era que lá a temática não era familiar.

Por isso Bolaños foi um gênio. Ele soube fazer a coisa acontecer. Essa é a diferença entre aquele que cria e o que copia, entre o artista e o reprodutor.

Chespirito, como também era conhecido, criou e levou a autenticidade para sua obra – e a autenticidade comunica com todos sem interferências.

Sua morte era inevitável e todos sabíamos – por mais que não esperávamos – que cedo ou tarde aconteceria.

Mas sua obra vive e sempre viverá, pois esse é o destino da criação dos grandes gênios.