Sobre as provas equivocadas de amor

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Sempre desconfiei de amores que precisam ser provados. Porque os amores verdadeiros que conheço estão subentendidos. Nota-se nos olhos, no modo como se pronuncia o nome um do outro, na importância que se dá aos menores detalhes.

Amores genuínos não precisam ser referendados publicamente, porque até um cego pode vê-lo. Os amores verdadeiros dispensam contratos, alianças e status de relacionamento nas redes sociais. Embora, muitas vezes, nada prove que ele está ali, ninguém se atreve a duvidar.

Tenho visto, entretanto, gente que transforma a relação em um verdadeiro inferno em nome desta certeza incompreensível de que amor que é amor precisa ser provado – pra si mesmo e para o mundo. Principalmente para o mundo. Gente viciada em exagero, em protocolos inúteis e em atenção.

A concepção moderna de amor é tão absurdamente controversa que as mais ridículas provas de amor são, também, as mais corriqueiramente valorizadas: tatuar o nome do companheiro em letras garrafais, mandar um buquê com 174 rosas vermelhas – de preferência pro trabalho, porque quanto mais pessoas souberem o quanto você é amado, melhor – trocar o status de relacionamento do Facebook, excluir o nome do (a) ex da agenda…

Um milhão de atitudes inúteis, frágeis e descartáveis que não servem para absolutamente nada além de provar até onde pode ir a insegurança humana.

E que tamanha tortura deve ser um relacionamento em que tudo precise ser provado, referendado, autenticado e registrado em cartório – para ambas as partes. Que agonia imensa deve ser ter que acordar todos os dias tendo que pensar – entre um stress do dia-a-dia e outro – no que fazer para provar o tal amor. E que desassossego sem fim viver se perguntando se o outro realmente te ama só porque não te mandou bombons no aniversário de um ano e sete meses de namoro, ou simplesmente porque não estava em um bom dia pra rir das suas piadas.

Que tristeza deve ser viver um amor sempre posto à prova, sempre tão incerto e intranquilo.

Sempre que vejo atitudes tão desnecessárias, costumo duvidar de que ali, de fato, haja um amor genuíno, cuja existência poderia ser notada sem que precisasse ser atestada o tempo todo.

Porque, se nem mesmo quem protagoniza a relação consegue percebê-la com clareza – a ponto de precisar de infinitas comprovações – é incoerente que a relação seja bem-vista por olhos estranhos. E se a beleza do amor – que está nas coisas mais simples – não pode ser percebida por quem julga senti-lo, é provável que ele sequer exista.

Porque o amor se prova tacitamente, na sutileza do cotidiano: na forma como se cuida do outro quando ele adoece, como se atura o mau-humor, a distração, os defeitos. No modo como se fala – e, principalmente, no modo como se ouve. A cumplicidade é abstrata e só pode ser captada por quem de fato a compreende e a vivencia – sem buquês caros e descartáveis ou tatuagens de gosto duvidoso.

Só sei que apenas os amores sutis me convencem: amores sem conveniências, rituais obrigatórios, rótulos ou provas exageradas. Amores que apenas existem pra quem interessa, e que, na beleza das pequenas gentilezas, apenas se deixam acontecer.

Nathali Macedo

Colunista, autora do livro "As Mulheres que Possuo", feminista, poetisa, aspirante a advogada e editora do portal Ingênua. Canta blues nas horas vagas.

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