The Baseballs e a essência da arte

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Eu escrevi outro dia sobre Love Me Do, a música dos Beatles que completou 50 anos. Numa conversa posterior realizada na seção dos comentários, mencionei a banda alemã The Baseballs. Eles pegam grandes hits contemporâneos e transformam em roquinhos dançantes à la Buddy Holly.

A banda é formada por três bons cantores, Sam, Digger e Basti, que dividem os vocais e fazem coros precisos. Em palco, eles soam, se comportam e se vestem como personagens dos anos 50 ou 60.

Há algo interessante que pode ser observado ao ouvir The Baseballs: boa musica é universal e atemporal. O hit Umbrella, da Rihanna, se tivesse sido criado e lançado em 1956 pelo Elvis Presley teria sido legal. Isto quer dizer, nós tendemos a achar que a música mudou, mas ela é praticamente igual à música que nossos pais ouviam.

O que mudou foi a forma, não a essência. Nós basicamente falamos das mesmas coisas que falávamos há 60 anos.

Penso, então, no aspecto tecnológico, que sempre foi importante nesta história (sim, sempre foi). A música sempre foi determinada pelos instrumentos musicais disponíveis. No começo da era humana, imagino que musica era batucada e canto – eram estes os instrumentos.

Pulando alguns milênios, as popularizações da comunicação em massa e da guitarra deram-se muito próximas, de forma que, claro, a música daquele momento era tinha que ser o rock. Ali pelos anos 80, os sequenciadores, e assim por diante.

Até chegarmos em Jay-Z e Rihanna, e a musica praticamente inteira arranjada dentro do computador.

Eu gosto de fazer um paralelo com artes plásticas quando falo em música. Pensar em quadros é mais fácil, porque a gente consegue criar uma imagem – o que não acontece com o som.

Imagine, então, que Van Gogh, com aquele seu traço característico, tivesse nascido hoje. Será que sua arte seria o grafite? Será que ele seria um designer? Será que ele faria as capas da revista Time, o desenho dos produtos da Apple? Ou quadros mesmo?

É muito difícil imaginar, e eu não tenho nenhuma ideia. Mas disso eu tenho certeza: o que quer que ele estivesse fazendo, seria em alto nível artístico.

E o The Baseballs é a prova.

Emir Ruivo

Músico, poeta e produtor musical.

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