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Wagner Moura interpreta Marcelo, um professor perseguido durante a ditadura militar.
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Kleber Mendonça Filho mistura suspense e crítica política em seu novo longa.
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Cannes recebe o filme com entusiasmo, destacando sua abordagem inovadora.
O novo filme do diretor Kleber Mendonça Filho, O Agente Secreto, estreou mundialmente no Festival de Cannes no último domingo (18), recebendo uma ovação de pé por 13 minutos. A produção, ambientada no Brasil de 1977, durante a ditadura militar, é estrelada por Wagner Moura e concorre à Palma de Ouro, principal prêmio do festival.
A recepção calorosa do público e da crítica internacional destaca a relevância e a qualidade do longa, que aborda temas como repressão política, vigilância estatal e memória histórica. A obra marca a terceira participação de Mendonça Filho na competição oficial de Cannes, após Aquarius (2016) e Bacurau (2019).
Enredo e ambientação
O Agente Secreto acompanha Marcelo (Wagner Moura), um professor especializado em tecnologia que retorna a Recife após anos afastado, buscando recomeçar sua vida. Ao chegar durante o Carnaval, ele se vê envolvido em uma rede de espionagem e perseguição, sendo vigiado por vizinhos e ameaçado por um empresário implacável. A trama se desenrola em meio à atmosfera opressiva da ditadura militar brasileira, explorando os impactos do regime na vida dos cidadãos.
A narrativa combina elementos de suspense, drama e crítica social, utilizando recursos visuais e sonoros que remetem ao cinema dos anos 1970. A cidade de Recife é retratada como um personagem central, com suas ruas, cinemas e o Carnaval servindo de pano de fundo para a história.
Repercussão e críticas
A estreia do filme em Cannes foi marcada por uma recepção entusiástica. Segundo relatos, a ovação de 13 minutos foi uma das mais longas do festival até o momento. A jornalista Jada Yuan, do Washington Post, descreveu a reação como “a mais longa e entusiasmada que já vi até agora no festival” .
Críticos internacionais elogiaram a abordagem estilística e temática do longa. Peter Debruge, da Variety, destacou a capacidade do diretor de transportar o público para a época retratada, com seu “calor opressivo e paranoia” . David Rooney, do Hollywood Reporter, ressaltou os “momentos de humor anárquico em meio a um suspense genuíno” .
O filme também foi comparado a outras obras que abordam a memória histórica brasileira. O crítico Leonardo Goi, do Senses of Cinema, afirmou preferir a abordagem de Mendonça Filho à de Walter Salles em Ainda Estou Aqui, destacando os “desvios pulps e surrealistas” do novo longa .
Produção e elenco
Dirigido e roteirizado por Kleber Mendonça Filho, O Agente Secreto é uma coprodução entre Brasil, França, Alemanha e Holanda. O elenco conta com nomes como Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone, Isabél Zuaa, Alice Carvalho e o ator alemão Udo Kier, cuja presença remete à relação da América Latina com ex-nazistas refugiados .
A produção foi filmada em Recife e São Paulo, com locações que reforçam a ambientação histórica e cultural da narrativa. A trilha sonora e o design de produção contribuem para a imersão do espectador no clima de tensão e vigilância da época.
Curiosidades
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Wagner Moura já interpretou personagens envolvidos em contextos políticos intensos, como em Tropa de Elitee na série Narcos. Sua atuação em O Agente Secreto reforça seu histórico de papéis marcantes.
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Kleber Mendonça Filho é conhecido por utilizar o espaço urbano como elemento narrativo, como visto em Aquarius e Bacurau. Em O Agente Secreto, Recife novamente desempenha um papel central na trama.
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O Carnaval é utilizado no filme não apenas como pano de fundo festivo, mas também como metáfora para a dualidade entre celebração e repressão, refletindo a complexidade do período retratado.