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Rafael Nadal, o rei do saibro

Pedro Nogueira Editor-Chefe

As pessoas adoram aposentar Rafael Nadal. O argumento? Ele seria um tenista “sem bola” e “extremamente defensivo” que depende das “pernas” para ganhar as partidas. Logo, seu corpo não aguentaria tamanha exigência e haveria de pifar rapidamente. Em oposição ao seu maior rival, Roger Federer, que parece jogar sem fazer esforço, Nadal estaria condenado a ter uma carreira curta. A tese até faz sentido. Seu único problema é que está errada.

Se Nadal depende muita das pernas? Sim, é verdade. Mas que atleta não depende hoje em dia, com esportes tão competitivos que pagam cifras multimilionárias às suas estrelas? O maior jogador de basquete da atualidade, LeBron James, é um fenômeno não por ser mais preciso nos arremessos – mas por ter um físico extraordinário que o faz dominar qualquer adversário dentro de quadra. O caso de Cristiano Ronaldo é parecido: mais rápido, mais forte e mais ágil do que os zagueiros que tentam marcá-lo.

Quanto à sua suposta falta de técnica, esta é uma das teorias mais injustas da história do esporte. O tenista espanhol tem, de fato, um golpe não ortodoxo. Sejamos sinceros? É até feio, plasticamente. Quando dá o seu forehand, parece que ele está caçando um pernilongo com um jornal. Mas o fato de ser esquisito não quer dizer que não é técnico. De maneira alguma. Sua batida é apenas diferente da convencional, mas tão eficiente quanto.

Por fim, há a suposta questão de Nadal ser “defensivo” demais. Ora. É um defeito ter capacidade de alcançar bolas que seus adversários não conseguem? E outra, qualquer pessoa com alguma experiência dentro da quadra sabe o quanto é difícil rebater bolas altas e cheias de spin no fundo da quadra. Quando você vê na televisão aqueles golpes de Nadal que sobem 2 metros, parece que é um balão. Só que não. A bola vem carregada de efeito e é um pesadelo pegá-la. Talvez tão difícil quanto um golpe veloz e chapado, apenas não tão bonito na foto.

Enfim.

O fato é que Nadal tem sido aposentado pelas pessoas com frequência desde que pisou numa quadra de tênis pela primeira vez. Qualquer lesão do espanhol é anunciada com duas placas: uma de “Eu já sabia” e outra de “RIP”. Todo ano é a mesma coisa.

E todo ano Nadal joga um balde de água fria nessa discussão ao vencer Roland Garros, o torneio mais intenso do tênis mundial, cujas partidas chegam a durar mais de 4 horas seguidas. Nadal venceu Roland Garros pela primeira vez em 2005, em sua estreia no torneio. Desde então, perdeu no saibro francês apenas uma vez, em 2009 contra o mediano Robin Soderling. Foi sem dúvida uma das maiores zebras da história do esporte – algo parecido com a derrota de Mike Tyson para Buster Douglas em 1990, quando estava no ápice da carreira.

A mais recente “aposentadoria” de Nadal aconteceu em 2012, quando perdeu para o inexpressivo Lukas Rosol na segunda rodada de Wimbledon e decidiu afastar-se das quadras por 7 meses para cuidar de uma lesão no joelho. Isso só podia significar a queda tão anunciada do Rei do Saibro, não?

Não.

E isso ficou claro sexta-feira, quando ele derrotou na semifinal de Roland Garros o sérvio Novak Djokovic, que desde 2011 é o líder do ranking mundial, por 6/4, 3/6, 6/1 e 6/7 (3-7) e 9/7. O duelo durou 4 horas e 40 minutos. Como se suspeitava, aquela foi a final antecipada do torneio. Hoje Nadal despachou seu compatriota David Ferrer por 6/3, 6/2 e 6/3 em rápidas 2 horas e 16 minutos para tornar-se o primeiro tenista da história a conquistar 8 vezes um mesmo Grand Slam. Ele agora tem 12 títulos da série mais importante do tênis, atrás apenas de Pete Sampras (14) e Roger Federer (17).

Por sinal, desde que retornou ao circuito após sua pausa de 7 meses, Nadal disputou nove torneios. Chegou à final de todos e venceu sete.

Está na hora das pessoas pararem de aposentar Nadal. Ele já deixou claro que isso não vai acontecer tão cedo.