5 lições que podemos aprender com os ninjas, os espiões do Japão antigo

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Você já ouviu falar dos ninjas, os mestres da espionagem do Japão antigo?

Antony Cummins, tradutor do Shoninki (manual dos ninjas) para o inglês, explica que a junção dos caracteres que formam a palavra “ninja”, em japonês, têm como significado: “Ser física e mentalmente resistente, e estar preparado para executar todos os seus planos a qualquer custo”, e: “Medidas para atingir seus propósitos”.

Assim, em suas palavras, “os ninjas costumam ser definidos como aqueles que conhecem os meios necessários para sobreviverem, para selecionar um objetivo e para atingi-lo”.

Diferentemente dos samurais, os ninjas não possuíam privilégios sociais. Mas, como em geral os privilégios carregam responsabilidades mais intensas, também inexistia para os ninjas uma norma em específico que regulava suas ações, como o Bushido o era para os samurais.

Desprovidos de privilégios, diz Cummins, os ninjas “não eram vencedores nem perdedores” dentro desse universo, mas eram admirados e temidos pelas suas habilidades únicas relativas, entre outras coisas, ao disfarce e à manipulação mental. Ainda que com frequência pudessem ser criticados pelos seus métodos pouco ortodoxos, mesmo aqueles que criticavam-nos para a multidão publicamente contratavam-nos como mercenários na surdina.

E quanto às técnicas de batalhas? Bem, nesse âmbito também havia diferenças. Embora tanto os ninjas quanto os samurais fossem bem treinados nas técnicas de batalha e recebessem um treinamento militar semelhante, as técnicas dos samurais eram visíveis e vocais, ao passo que os ninjas eram silenciosos. Eles conheciam os métodos dos primeiros, mas a luta física nunca foi o principal ponto de sua estratégia e raramente ocorria: trabalhavam em um nível mental.

Falemos brevemente, agora, sobre o Shoninki. Ele foi escrito por um samurai, cujo nome era Natori Masatake, que apreciava a arte dos ninjas e acreditava que os samurais podiam muito bem apropriar-se de algumas de suas pérolas de sabedoria. Fundador de uma escola de artes marciais, Masatake escreveu o Shoninki em 1681, e o livro foi mantido como um documento secreto até a sua publicação, no século XX.

Nesse livro, há inúmeras lições diferentes, de ordem prática e teórica: como disfarçar melhor a sua aparência, os melhores lugares para se esconder, os melhores horários para adentrar no campo inimigo, como se guiar no escuro segundo a luz da lua, como andar pelo telhado sem fazer barulho e até como imitar o latido de um cachorro. Um de seus pontos é que “enfrentar o inimigo de modo silencioso, sem temer a morte, envolve um nível de coragem que é muito raro encontrarmos nos dias de hoje”, e os poucos que logram a isso são os verdadeiros ninjas.

Mas, no texto de hoje, vamos nos concentrar na arte de manipulação praticada pelos ninjas. E, como diria o idealizador do Shoninki: “Se você estudar atentamente os meus conselhos e não hesitar em coloca-los em prática, não haverá ninguém a quem não possa enganar. A não ser, é claro, outro ninja”.

1# PACIÊNCIA E PERSEVERANÇA

Muito se diz sobre o imediatismo de nossa cultura, mas você quer saber uma coisa? Na maior parte da história da humanidade, houve pessoas que foram em busca sempre de recompensas imediatas e um número consideravelmente menor de pessoas que aceitaram prorrogar o seu prazer e satisfação em prol de um objetivo maior e mais difícil de ser alcançado.

Se você quer seguir a arte dos ninjas, precisa fazer parte desse último grupo. Buscar a rota mais rápida e ir em busca de recompensas imediatas não se adequa à filosofia ninja, segundo a qual o essencial é o planejamento, a paciência e o ato de colher recompensas à longo prazo.

2# INTELIGÊNCIA E AGILIDADE MENTAL

Certa vez, conta-nos o autor do Shoninki, um mestre ninja pediu a seus jovens discípulos que roubassem um grande vaso de uma loja sem serem notados. Os discípulos acharam a tarefa, na realidade, impossível. Como não ser notado, saindo do local com um vaso gigante? Então, o mestre adentrou o recinto e simplesmente comprou o vaso. Em seguida, explicou: “Antes da aula, roubei uma série de vasinhos dessa mesma loja. Vendi-os, e com o dinheiro recebido comprei esse vaso maior, o qual tecnicamente roubei”.

Trapaça? Bem, talvez, mas a arte dos ninjas envolve justamente esse sentido de trapaça: o de ver além do que está à nossa frente. E isso, em suma, acontece porque “os ninjas usam o cérebro e a resistência, não as armas, no intuito de enganar seus inimigos”, como afirma a escritora Jody Jensen Shaffer.

Masatake sugere que, a fim de nos igualarmos aos ninjas, aprendamos a imitar o guaxinim, a raposa e o lobo, pois nas lendas japonesas dizia-se que as raposas enganam os seres humanos, os lobos lêem as suas mentes e os guaxinins tem o poder de se transformarem.

3# AFETAR O EMOCIONAL DAS PESSOAS

Com base no Budismo, cujos ensinamentos adaptou para as suas próprias convicções, nosso idealizador do Shoninkipartiu do pressuposto de que todos os seres humanos possuem cerca de sete inclinações diferentes: para o deleite, o prazer, a traiva, a tristeza, o amor, a ambição, e (alguns poucos, não todos) a maldade. Segundo ele, cada um de nós nasce com uma emoção predominante, e as outras vão se alternando e possuem diferentes graus de importância para cada pessoa.

Para influenciar uma pessoa, diz Masatake, devemos compreender exatamente qual a emoção que mais a afeta e usar gatilhos que nos ajudem tanto a levá-la a fazer o que tencionamos que faça, ou que a impeçam de fazer algo que não desejamos ver feito.

4# O PODER DA LISONJA

“Derretemos o fogo com metal, e os humanos com as palavras”.

É isso que nos diz Masatake, para quem lisonjear os homens com inteligência é uma das artes mais importantes às quais um ninja pode se dedicar a aprender. Saiba elogiar as pessoas, mas saiba mais do que isso: saiba elogiar aqueles que lhe são queridos. Por exemplo, um pai sente-se ainda mais disposto a abrir as portas de seu coração àquele que elogia seu filho do que ao que elogia somente a ele.

“Caso se insinue nos favores de alguém com palavras açucaradas”, lembra Masatake, “poderá retirar dessa pessoa informações valiosas mesmo em uma conversa que aparentemente nada significa”.

5# OCULTAR A PRÓPRIA INTELIGÊNCIA

“Os ninjas mais bem treinados são aqueles que parecem mais estúpidos”, diz Masatake. Isso porque quando as pessoas não temem a sua capacidade, elas abaixam a guarda perto de você e se permitem falar o que sentem vontade, sem cálculos ou preocupações. Lute contra o seu orgulho, contra a vontade de se mostrar superior aos outros, e conseguirá retirar informações deles com mais facilidade.

Evidentemente, os ninjas não estavam familiarizados com a Odisseia de Homero, mas sempre que leio esse capítulo me lembro de um dos seus episódios: Ulisses acaba de cegar o gigante Polifemo, derrotando-o. Mas, embora até então não lhe tenha dito o seu nome, não suporta a ideia de partir da morada do gigante sem eternizar seu nome como aquele que foi capaz de derrotá-lo com tamanha inteligência. Já em sua embarcação, grita-lhe: “Ó Ciclope, se alguém lhe perguntar quem foi que vergonhosamente te cegou o olho, diga que foi Ulisses, saqueador de cidades, filho de Laertes, que em Ítaca tem seu palácio”. O resultado? A maldição lançada por Polifemo e por seu pai, o deus Posêidon, que custam a Ulisses dez anos de sua vida.

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Camila Nogueira Nardelli

Leitora ávida, aficcionada por chai latte e por gatos, a socióloga Camila escreve sobre desenvolvimento pessoal aqui no El Hombre.

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