fbpx
Legenda

A medicina segundo “De Volta para o Futuro”

A imaginação dos autores do segundo episódio da trilogia De Volta para o Futuro não se restringiu somente aos apetrechos tecnológicos; tem bastante coisa de medicina embutida na história. Vamos ver se eles acertaram mesmo o que previram.

1# Indutor de sono

Este, infelizmente, realmente ainda não existe. É uma canetinha que o Doc usa para fazer a Jenifer dormir, igual ao apetrecho usado em MIB para apagar a memória das pessoas. Se existisse, seria uma benção para muita gente – e, para falar a verdade, estamos longe de chegar perto disso. Como ele mesmo explica, aquilo é um indutora de ondas alfa. Ou seja, é como se ele “sintonizasse” o cérebro na frequência do sono.

O mais próximo que temos disso é o estímulo para áreas motoras por um implante intracerebral (para Parkinson), indutores eletromagnéticos externos (para tratamento da depressão) e eletroconvulsoterapia (para depressão muito grave). Acho improvável um indutor do sono da mesma forma como foi mostrado, mas, quem sabe um dia, cientistas consigam focar o estimulador eletromagnético no Sistema Reticular Ativador Ascendente (responsável pelo sono)? O problema é que isso também pode levar ao coma.

2# Implantes biônicos

Implantes que dão força e aumentam a estatura, entre outros. Não chegamos lá, mas estamos perto. Já temos membros mecânicos que acompanham as ordens do corpo e fazem pessoas andarem e se alimentarem. Exoesqueletos que ampliem a força de uma pessoa já poderiam ser aplicados, tecnicamente. Entretanto, isto fica naquele óbvio limbo: podemos fazer isso de forma “opcional”? Até que ponto membros biônicos serão aceitáveis?

De qualquer forma, como sempre, seu primeiro uso iria para o exército, associado, logicamente, àqueles que perderam membros. Depois de muitos anos, talvez décadas, o preço cairia o suficiente para se popularizar. E, mesmo assim, teria os embates éticos. Portanto, caro cowboy, conforme-se: nada de virar Robocop nesta vida.

3# Aparelho para realocação de coluna com flutuação antigravidade

George McFly usa, porque deu mau jeito na coluna. Já falei sobre a impossibilidade da antigravidade no artigo de tecnologia; e o apetrecho, mais do que funcional, na realidade me parece apenas uma brincadeira curiosa. Logicamente, algo que estabilizasse a sua coluna e ainda por cima andasse por você seria ótimo. Se deixasse de ponta cabeça, melhoraria a dor pela compressão do nervo.

Mas é muito mais factível o que fazemos hoje em dia: coletes, fisioterapia e, em casos extremos, cirurgias. É bem mais provável que a medicina avance para a direção de estabilizadores internos de coluna, presos diretamente às vértebras, com articulações pneumáticas, do que para uma bizarrice daquelas.

4# Clínica de rejuvenescimento

Ao chegar ao futuro, Doc arranca a pele do rosto, em uma máscara falsa que havia usado para que Marty não se assustasse demais com o seu rejuvenescimento. Afinal, ele foi a uma clínica onde tiraram suas rugas, puxaram a pele, trocaram seu sangue, substituíram o baço e o cólon e lhe deram mais 30 a 40 anos de vida.

Não preciso dizer que já temos estas pretensas clínicas hoje em dia, mas nada dessas maravilhas prometidas até agora. Até tirar rugas e puxar a pele, nada de especial. Trocar o sangue, porém, já é um absurdo médico: primeiro, porque todo o sangue se renova no prazo de seis meses. Segundo, porque, para fazer isso, ter-se-ia de fazer o mesmo procedimento de um transplante de medula óssea: acabar com todas as células-tronco, implantar novas e trocar todo o sangue, até a última gota. Uma bobeira para pessoas saudáveis, que, além de riscos enormes, não traria benefício algum.

Trocar o baço tem o mesmo efeito: o baço tem função, sim, mas quase todo mundo vive bem sem ele. Para que trocar? Quanto ao cólon: hoje em dia temos transplantes de cólon e intestino – para aqueles com alguma doença que comprometeu tanto os órgãos, que já não funciona mais. No entanto, o transplante envolve o uso de imunossupressores e uma grande complicação para a vida prática. Ah, mas o Doc pode ter usado órgãos criados em laboratório! Sim, estamos caminhando para isso, mas acho difícil que esteja disponível para uso populacional em menos de uns vinte anos.

E, de qualquer forma, trocar o cólon não serve para nada. De mais a mais, a única forma de o Doc, em 2015, ter ganhado mais 40 anos de vida, é pelo aumento geral da expectativa de vida que vem se observado mundialmente nas últimas décadas. Afinal, antigamente, mal e mal as pessoas chegavam aos 40. Conte aí quantos centenários não morreram em 2012?

Eles não acertaram em muita coisa
Eles não acertaram em muita coisa