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Bertrand Russell

Aprenda com Bertrand Russell a identificar debates infrutíferos

O texto abaixo, sobre Bertrand Russell, foi publicado originalmente no site The Marginalian.

“Para se aproximar de alguém de forma convincente, deve-se estar de braços abertos e cabeça erguida. E seus braços não podem estar abertos a menos que sua cabeça esteja alta”, escreveu o escritor franco-libanês Amin Maalouf.

Em tempos tão divisivos como os nossos, marcados por perspectivas em conflito, o domínio de uma discordância inteligente e ponderada emerge como uma arte suprema de viver. Responder em uma cultura reativa é não é algo simples. Casar a convicção moral com um espírito de boa vontade e a porosidade necessária para avaliar as outras perspectivas no intuito de evoluir também as nossas é uma façanha hercúlea de caráter.

Contudo, há situações nas quais é imprudente envolver-se com alguém cujos valores são tão antitéticos aos próprios que o choque está fadado a despedaçar a sanidade em vez de construir um terreno comum.

Reconhecer essas raras instâncias e optar por recusar é um ato de coragem moral, não de fraqueza. Ninguém articulou essa difícil coragem com mais elegância intelectual e graça moral do que o filósofo inglês Bertrand Russell (18 de maio de 1872 – 2 de fevereiro de 1970). Com uma inteligência formidável, animada por uma extraordinária generosidade de espírito, Russell foi premiado com o Nobel por “suas significativas escritas, nas quais defende ideais humanitários e a liberdade de pensamento.”

A resposta de Russell a Sir Oswald Mosley

Em janeiro de 1962, Russell recebeu uma série de cartas de um correspondente improvável — Sir Oswald Mosley, que havia fundado a União Britânica de Fascistas trinta anos antes.

Mosley estava convidando — ou, melhor dizendo, provocando — Russell a participar de um debate, no qual ele poderia persuadir o filósofo moral sobre os méritos do fascismo. A resposta moralmente inabalável de Russell é parte da bela e inspiradora biografia de Ronald Clark. Mais que isso, ela permanece como um manifesto pelo direito de não participar de um debate com um contraparte tão moralmente desalinhado consigo mesmo, a ponto de garantir não não a derrota de tal engajamento, mas de evitar o custo à própria saúde.

Pouco antes de seu 90º aniversário, Russell escreve:

Prezado Sir Oswald,

Obrigado por sua carta e pelos anexos. Refleti sobre nossa correspondência recente. Sempre é difícil decidir como responder a pessoas cujo ethos é tão alheio e, de fato, repulsivo ao próprio. Não é que eu tome exceção aos pontos gerais feitos por você, mas sim que cada grama da minha energia foi dedicada a uma oposição ativa à crueldade do fanatismo, à violência compulsória e à perseguição sádica que caracterizou a filosofia e prática do fascismo.

Sinto-me obrigado a dizer que os universos emocionais que habitamos são tão distintos e, em aspectos profundos, opostos, que nada frutífero ou sincero poderia emergir de uma associação entre nós.

Gostaria que você entendesse a intensidade desta convicção da minha parte. Não é por qualquer tentativa de ser rude que digo isso, mas por tudo o que valorizo na experiência e na conquista humanas.

Atenciosamente,

Bertrand Russell

A vida de Bertrand Russell permanece um retrato inestimável de um dos maiores intelectos e espíritos mais amplos que nossa civilização produziu. Sugerimos a leitura, futuramente, de seus pensamentos Russell sobre liberdade de pensamento, o que realmente significa “a boa vida”, por que a “monotonia frutífera” é essencial para a felicidade, a natureza do tempo, e os quatro motivos que impulsionam todo o comportamento humano.