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Brian Jones, o Stone esquecido

Se existe alguém que não está comemorando os 50 anos dos Rolling Stones, este homem é Brian Jones.

Um dos motivos da sua falta de comemoração é óbvio: debaixo do túmulo fica difícil celebrar qualquer coisa. O segundo é que, se existiu alguém essencial para a criação do grupo e que, com o perdão da palavra, se fodeu com o passar dos anos, foi ele.

Mesmo com a importância que teve, Jones é desconhecido pela maioria das pessoas. “Ele formou e deu nome à banda, escolheu os membros, decidiu o tipo de música que íamos tocar e conseguiu shows”, disse o primeiro baixista dos Stones, Bill Wyman. “Brian era muito inteligente. Mas, aos poucos, foi se perdendo e estragou tudo”.

Em suma, ele fundou uma banda — e recrutou membros que depois o mandariam embora.

Nascido em Gloucestershire e filho de pais altamente envolvidos com música, Brian Jones não apenas criou os Rolling Stones – mas deu a alma àquele que seria um dos maiores grupos de rock da história. A rebeldia que caracterizaria os Stones em oposição aos Beatles teve origem no espírito de Brian Jones, que sempre criou problemas com autoridades. Ele foi, por exemplo, expulso de sua escola e não conseguiu ser aceito por nenhuma faculdade inglesa.

Brian Jones logo se interessou por música, especialmente por jazz e blues. Com um altíssimo QI de 135, tinha facilidade para aprender instrumentos e logo criou apreço pela guitarra, sem nunca perder o gosto pelos menos convencionais, como a marimba e a cítara, que teriam presença marcante em faixas como Paint It Black e Under My Thumb.

Assim que se mudou para Londres, Jones chegou a formar bandas com futuros figurões da música, como Jack Bruce, o baixista do Cream. Foi quando decidiu criar um novo grupo que Jones recrutou Mick Jagger,  Keith Richards, Charlie Watts e Bill Wyman. O apreço de Keith Richards por Chuck Berry fez com que Brian decidisse que o estilo musical dos Stones seria o Rhythm and Blues, que consagrou a banda.

Se você acha que ninguém tem a presença de palco de Jagger, saiba que ele aprendeu muito com o seu “chefe”. Que, segundo muitos fãs da banda, mandava melhor que o próprio vocalista. E, se Jagger dormiu com mais de 4 000 mulheres segundo uma biografia recente, Jones só não conseguiu tal feito porque não teve tempo suficiente. Com 25 anos, já tinha 5 filhos – eram tantos que dois deles acabaram tendo o mesmo nome, por falta de ideias.

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Com a entrada de Andrew Loog Oldham como empresário do grupo, Brian foi perdendo o status de líder, que já era contestado por muitos membros. Oldham incentivou os músicos a comporem suas próprias canções (até então a banda só lançava covers), tendo como referência a dupla Lennon/McCartney. Foi então que surgiu Richards/Jagger nos Stones, o que acabou ofuscando ainda mais Brian, que foi se isolando aos poucos. Ainda assim, contribuiu com slide guitar e percussão nas clássicas Jumpin’ Jack Flash e Sympathy for the Devil, respectivamente. Mas é indiscutível que, com o passar do tempo, sua importância no grupo foi diminuindo.

Mas não dá para culpar só o crescimento de Jagger e Richards como músicos (que não tem nada de negativo) ou a influência de Oldham no grupo. Na verdade, provavelmente o maior pecado cometido por Brian foi pensar que tinha a mesma saúde do imortal Keith. Jones abusava de álcool, LSD e metanfetamina, entre outras drogas da época. Se já não bastasse, numa viagem ao Marrocos em que se afundou mais nas drogas, acabou trocado por sua então namorada, a italiana Anita Pallenberg, por Keith.

E assim Brian Jones foi saindo da banda, como se ele mesmo estivesse se excluindo aos poucos. Por conta de seus problemas com drogas, o guitarrista não conseguiu um visto para participar do Tour do álbum Let it Bleed nos EUA, e então foi informado que não fazia mais parte do grupo. Sua última aparição foi num evento promovido pelos Stones chamado The Rolling Stones Rock and Roll Circus, que contou com a participação de bandas como Jethro Tull, The Who e artistas como Eric Clapton e John Lennon.

Poucos meses depois, vivendo em uma fazenda afastada de Londres (a mesma que A.A. Milne, o criador do Ursinho Poohhavia morado), Jones foi encontrado morto, afogado em sua piscina – o que mais tarde acabaria se revelando um homicídio cometido por um dos empregados da casa.

Mesmo décadas depois, é impossível negar a importância que Brian teve na banda. Sua rebeldia foi vital para que se destacassem como uma espécie de contraproposta ao que eram os Beatles na época, e sua versatilidade musical é uma influência até hoje nas músicas da banda, sempre contando com trompetes, saxofones e percussões que antigamente eram trazidas por ele. Brian serviu como alguém que segurou o peso do grupo enquanto Keith Richards e Mick Jagger se desenvolviam como artistas, para depois brilharem. Uma pena que ele parou no tempo.

É possível dizer que sem Brian Jones os Rolling Stones não existiriam. E, com ele, provavelmente não teriam durado tanto tempo. Em todos os sentidos, ele acaba sendo a razão da existência dos Stones.