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Como “Vingadores: A Era de Ultron” conseguiu superar as altíssimas expectativas

Nunca fui de ler quadrinhos. Watchmen foi a única história de super-heróis que li. Na minha infância, acompanhei com gosto as séries animadas do Homem-Aranha e dos X-Men, além dos filmes do Batman do Tim Burton e da série Lois & Clark: As Novas Aventuras do Super-Homem.

Logo, quando a Marvel iniciou seu plano de Universo Cinematográfico, com as aventuras de heróis como o Homem de Ferro, Hulk, Thor e Capitão América, não vi com bons olhos. Eu estava longe de ter qualquer simpatia prévia por qualquer um dos personagens, principalmente os dois últimos.

Aí vieram os filmes, as grandes produções que culminariam em Os Vingadores (The Avengers, 2012). Homem de Ferro (Iron Man, 2008) foi um sucesso instantâneo, até de crítica. Mas as primeiras aventuras-solo dos outros três super-heróis foram apenas medianas.

Me ajudaram a perder preconceito com eles, mas não ajudaram muito a começar a ganhar alguma simpatia, por mais que as atuações de Chris Evans e Chris Hemsworth fossem seguras e, sim, bem simpáticas.

E começo o texto falando tudo isso para dizer que Vingadores: Era de Ultron (Avengers: Age of Ultron) finalmente fez com que eu tivesse simpatia, admiração e respeito total por cada um dos heróis pertencentes à equipe.

Pois o segundo longa do time tem, entre suas muitas qualidades, o mérito de conseguir, em um elenco numeroso, dar importância vital a cada um dos muitos protagonistas, desenvolvendo mais profundamente os dramas pessoais de alguns, além da dinâmica entre eles e o papel de cada um na equipe.

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Todos os heróis do filme têm seu espaço

O tão contestado Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) questiona-se sobre sua importância na equipe, e por causa de sua família tem mais a perder do que qualquer outro membro do time, mas encontra seu papel justamente pelo seu ego não inflado.

Bruce Banner (Mark Ruffalo) continua sendo assombrado pelo Hulk, que, infelizmente, é fundamental para os Vingadores.

A Viúva Negra expõe seu passado sofrido e deixa-se se envolver cada vez mais por suas relações pessoais como Natasha Romanoff (Scarlett Johansson).

Tony Stark (Robert Downey Jr.) e Steve Rogers (Chris Evans) mostram-se líderes natos, mas reafirmam cada vez mais suas posições opostas, abrindo um pouco mais o caminho para o aguardado Capitão América 3: Guerra Civil.

Thor (Chris Hemsworth) é o único personagem principal que não se aprofunda no filme, mas aqui, com a ajuda de seu martelo e sua divindade, dá margem a alguns dos maiores alívios cômicos do longa – o que é outra qualidade da obra, dosar tão bem o humor, a ação e o drama.

Mas não só do sexteto principal vive Era de Ultron. Pietro (Aaron Taylor-Johnson) e Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen) entram em cena como Mercúrio e Feiticeira Escarlate e mostram que são bem mais poderosos do que aparentam.

E se o primeiro fica um pouco ofuscado – principalmente quando comparado com o Mercúrio de X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (X-Men: Days of Future Past, 2014) – a Feiticeira desempenha papel fundamental na narrativa, deixando os heróis expostos a pesadelos sombrios – sequências excelentes onde o diretor Joss Whedon consegue imprimir uma estética bastante interessante, e que não ficam cansativas.

Outro personagem que aparece pela primeira vez é o Visão (Paul Bettany). Para não dar nenhum spoiler, digo apenas que, se bem usado nos próximos episódios da Marvel, pode se tornar um dos personagens mais interessantes de todo o cinema de super-heróis, com uma visão diferente do mundo, lembrando, em alguns aspectos, o sensacional Dr. Manhattan, de Watchmen.

Mas, óbvio, o personagem de maior destaque do filme é o vilão Ultron.

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Ultron é o maior destaque do longa

Pessoalmente, devido a toda a expectativa criada pela Marvel em torno dele, saí um pouquinho decepcionado. Mas analisando friamente, ele talvez seja o melhor antagonista de toda a franquia cinematográfica até agora – Loki é um excelente vilão como personagem inteligente, complexo e pela interpretação de Tom Hiddleston, mas sempre achei suas motivações meio bléh.

Com uma atuação perfeita de James Spader em performance capture, ele nasce de um desejo de Tony Stark em trazer a paz mundial. E o fato dele trazer em si elementos da personalidade de seu criador, além da discussão sobre o que, afinal, é a paz mundial, o torna uma criatura particular.

Ameaçador, inteligente e, por vezes, com uma aura de “imbatível”, ele é fundamental para levar ao filme questões mais profundas que a maioria dos longas da Marvel. Os perigos da inteligência artificial levam a discussões morais – ao melhor estilo Capitão América 2: O Soldado Invernal (Captain America: The Winter Soldier, 2014) – e até sobre a natureza humana.

Aliás, as sequências de apresentação do vilão são alguns dos minutos mais interessantes do filme, ao acompanharmos seu nascimento e seus questionamentos iniciais, e sua apresentação à equipe de heróis que, óbvio, conta com algumas cenas de ação.

E ação é o que não falta em Era de Ultron. São diversas sequências com muita pancadaria – sempre recheadas de alívios cômicos que não soam artificiais demais – e muita destruição. E se, normalmente, o excesso desse tipo de cena poderia me desagradar, não foi o caso.

Primeiro porque Joss Whedon se sai muito bem dirigindo ação, estabelecendo bem a geografia espacial dos confrontos e sem exagerar em cortes, câmera tremida ou planos muito próximos – inclusive, o filme abre com uma cena de ação iniciada em plano-sequência.

E segundo porque os conflitos físicos estão sempre movendo o filme para frente, inclusive no gigantesco clímax, que não se torna cansativo por haver algo diferente acontecendo a cada novo minuto, além do clima de urgência oferecido.

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As ações foram muito bem encaixadas

Servindo também muito bem para nos preparar para Guerra Civil e para os dois Guerra Infinita que virão nos próximos 4 anos, Era de Ultron talvez não cause a mesma empolgação da primeira vez que esses heróis se uniram – e, nesse sentido, seria até injusto comparar, por causa da expectativa gerada no primeiro longa dos Vingadores – mas mostra-se um filme mais maduro, até por não precisar introduzir os personagens na equipe.

A Marvel tem lá seus tropeços nessa empreitada épica na indústria cinematográfica, mas, no geral, consegue passar confiança de que os próximos episódios serão cada vez maiores – o que não necessariamente significa “melhores”.

E aí que mora o perigo. Conseguirá manter essa crescente, com qualidade, até quando?