- Creatina pode sustentar a capacidade de processamento do cérebro mesmo após privação de sono.
- Uma única dose elevada mostrou efeito por até nove horas em voluntários.
- Cientistas alertam para riscos renais e pedem mais investigações sobre doses seguras e eficazes.
A falta de sono causa prejuízos ao cérebro, afetando funções como atenção, memória e raciocínio. Estudos apontam que isso ocorre em parte por alterações no metabolismo cerebral, especialmente na redução da capacidade de regenerar ATP, elemento essencial à energia das células.
Pesquisa publicada na Scientific Reports revelou que uma única dose alta de creatina monohidratada melhora significativamente o desempenho cognitivo durante a privação de sono. Segundo o estudo, dois testes aplicados antes e após 21 horas sem dormir mostraram avanços em memória de curto prazo e velocidade de processamento, efeitos que se mantiveram por até nove horas após a ingestão da substância.
O que diz a pesquisa
No estudo alemão, 15 voluntários passaram uma noite acordados realizando tarefas cognitivas. Em uma das sessões, receberam 20 g de creatina antes do início dos testes; na outra, tomaram placebo. Em cerca de três horas, os pesquisadores observaram aumento de fosfocreatina, ATP e a relação tCr/tNAA no cérebro, indicadores de melhora no metabolismo energético cerebral.
As funções mais beneficiadas foram a capacidade de processamento e a memória de curto prazo. O efeito atingiu pico às quatro horas e durou nove. Pesquisas anteriores já apontavam melhora em atletas e idosos, mas esta foi a primeira a demonstrar efeito agudo durante privação de sono.
Como funciona a creatina no cérebro
A creatina é um composto presente nos músculos e no cérebro, responsável por regenerar rapidamente ATP por meio da fosfocreatina. Em momentos de alta demanda, como a privação de sono, o cérebro absorve mais essa substância para manter o suprimento energético.
A suplementação aumenta reservas cerebrais de creatina em cerca de 3–10 % após regimes prolongados de ingestão, especialmente em doses superiores a 20 g/dia . No entanto, a absorção celular ocorre mais facilmente quando o cérebro está em estresse metabólico, como durante a vigília prolongada .
Cuidados e perspectiva clínica
Especialistas chamam atenção aos riscos do uso de doses elevadas sem supervisão. O consumo de 20 g de uma só vez pode sobrecarregar os rins e não é indicado sem respaldo médico.
Pesquisadores defendem que, se futuras investigações confirmarem benefícios com doses menores (em torno de 5 g), a creatina poderia se tornar alternativa ao café em longas jornadas noturnas. Há ainda a hipótese de que formulações combinadas com outros suplementos possam permitir reduzir a dose necessária sem perder o efeito .
Perspectiva e limitações
Embora os resultados sejam promissores, os testes envolveram amostra pequena (15 pessoas) e efeito de curta duração. É preciso avaliar se pacientes com condições específicas — como idosos, veganos ou trabalhadores de turnos — podem se beneficiar de forma consistente .
Também é necessária clareza sobre a dose mínima eficaz e a segurança no uso contínuo. Pesquisas longitudinais deverão indicar se há efeito prolongado sem riscos renais ou metabólicos, e se o benefício vale em contextos reais de privação de sono