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Não esqueça da vida lá fora: as lições do Dilema das Redes

Assisti ontem o filme “O Dilema das Redes”, depois de ouvir muita gente indicando. Estendo a indicação para quem não assistiu. É um retrato fundamental sobre a sociedade da era da internet. Não perfeito, mas excelente.

Basicamente, o que o filme conta é que os grandes unicórnios do Vale do Silício, como o Google e o Facebook, no esforço para monetizar, terminou por criar um modo operante que, no fim, manipula o usuário.

Eu vejo de uma forma bastante simples, e antes de tudo, acho que vale notar que é legítimo buscar meios de ganhar dinheiro. Toda empresa tem esse objetivo e o Google não precisaria ser diferente. A questão é como.

FERRAMENTA REATIVA VS PROATIVA

O que o Google fez foi inaugurar uma “atitude” que até então não existia. Imagine seu celular 20 anos atrás. Ele não te dizia “ei, dê uma ligada para sua mãe”. Era uma ferramenta reativa. Você queria usar, você usava, como qualquer ferramenta — do liquidificador à serra tico-tico. O próprio Yahoo! também era um buscador reativo. Você buscava o que lhe interessava.

Com o Google, a ferramenta passa a ser proativa. “Ei, lembra aquele negócio que você buscou 10 dias atrás? Pintou coisa nova. Ah, aquele outro hoje está mais barato. Ah, e pessoas que buscaram aquele também estão buscando este aqui, dá uma olhada“.

É verdade que sempre houve operadores de telemarketing oferecendo, proativamente, serviços. Mas eram humanos, em escala humana. Com o Google, pela primeira vez, usa-se a inteligência artificial para esta função. E depois vem o Facebook e transforma o que o Google fazia em brincadeira de criança. Isso tudo com a intenção de lhe manter mais tempo na ferramenta e, logo, ser impactado com mais publicidade.

O resultado é este que nós conhecemos. O filme, inclusive, fala em aumento de taxa de suicídio entre adolescentes e pré-adolescentes.

COMO LIDAR COM ISSO

O fim dos tempos? Não me parece. Nós temos a capacidade de nos proteger. Não é fácil, pois você termina por competir com um supercomputador que tenta lhe trazer para dentro o tempo inteiro. Mas há formas.

Eu por exemplo, há alguns meses, impedi todos os aplicativos de me mandar notificações. Contei para um amigo, ontem, que sofria com isso. “Mas e se alguém mandar uma mensagem urgente?”, indagou aflito. Ora, se alguém tiver que falar com urgência e você não responde a mensagem, vai fazer o que sempre fez: ligar.

Isso traz grande alívio, e você não precisa se desligar das redes. Também não há problema em sair do Facebook e trocar o Google pelo Qwant ou o SearX, que não guardam seus dados.

A VIDA ESTÁ LÁ FORA

Agora, mais importante que isso é não esquecer da vida lá fora. E aí, acho que nada é tão proveitoso quanto o parque. É um remédio maravilhoso, um lugar mágico, uma outra dimensão. Passar meia hora por dia num parque lhe fará bem. Nunca deixe de fazer isso, não importa o quanto você ache que está sem tempo.

Quando eu, no auge da minha arrogância adolescente, dizia ao meu pai que estava sem tempo, ele sabiamente dizia: “O presidente dos Estados Unidos arruma tempo; você tem que ser capaz de arrumar também”.

Isso não é verdade para todos os dias. Haverá as ocasiões em que realmente não dá para tirar meia hora. Haverá dias, semanas. Mas isso não será uma constante. Se for, algo tem que ser ajustado, senão você vai terminar num burnout. Na sua vida normal, você precisa ter meia hora para passear no parque.

Entrar no parque é como entrar na terra dos Smurfs. Paradoxalmente, o parque é mais poderoso que ir para o interior do Pará, num local com mata atlântica virgem até onde os olhos podem ver, pois tem esse fator da sensação de entrar num universo paralelo. É um ambiente equilibrador para quem vive na cidade. Ou é essa, ao menos, a minha impressão.

Se você não esquecer que há vida lá fora, vai ficar tudo bem.