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O drama do exame de toque no psicológico masculino

Thiago Sievers Head de Parcerias

De Outubro Rosa você provavelmente já ouviu falar. De câncer de mama deve estar cansado de tanta propaganda de conscientização. Agora, o Novembro Azul você conhece? Sabe quais são as reais possibilidades da ocorrência do câncer de próstata? Ou melhor, vamos do começo: sabe que a próstata é um órgão exclusivamente masculino? Ok, prosseguindo.

O câncer de próstata é uma doença, de forma geral, negligenciada pelo público masculino. Quem nunca tirou onda de um conhecido que está chegando no meio século de vida por conta do tal do exame da dedada? Pode ser uma piada aparentemente inofensiva, mas que evidencia a postura masculina infantil diante do assunto.

É por conta desse comportamento que muitos homens deixam de fazer o exame de toque de forma rotineira, o que pode ser uma autocondenação, já que tratar o câncer de próstata somente quando a doença se manifesta normalmente é tarde demais.

Sabendo dessa realidade, os órgãos de saúde resolveram investir com mais força na divulgação do Novembro Azul, que, assim como o Movember e o No Shave November, aproveita esse mês para homenagear o homem, mas digamos que com um motivo mais relevante: a conscientização do câncer de próstata.

Inclusive, publicamos recentemente um texto respondendo 7 perguntas importantes sobre o assunto.

Agora resolvemos ir em busca de saber de onde vem e o que significa essa resistências que nós homens temos ao exame de toque. Para isso, conversamos com o psicólogo Luiz Gonzaga Leite, coordenador de psicologia do Hospital Santa Paula e do Instituto de Oncologia do Hospital Santa Paula.

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Doutor, de onde vem essa resistência, e de certa forma até preconceito, dos homens em relação ao exame de toque?

Grande parte dessa dificuldade é cultural. E não estou falando de questão acadêmica, é de tradição mesmo. Nós temos uma influência muito grande da figura do macho latino e um dos medos do macho latino é o de se tornar homossexual.

O toque faz ele se sentir como se estivesse sendo penetrado e o indivíduo fica inseguro. Mas o exame é algo bastante rápido e indolor, principalmente se o paciente estiver relaxado.

O macho latino seria o contraponto da mulher frágil?

Sim, ao mesmo tempo que existe a ideia do macho latino, há também o conceito da mulher como sexo frágil. Mas não é bem isso. Em média, no Brasil, os homens morrem 8 anos mais cedo do que as mulheres porque eles não têm essa questão cultural de ir ao médico para exames de rotina.

O psicanalista Flavio Gikovate, em seu livro “Homem: o sexo frágil?”, questiona esse esteriótipo. Ele coloca que essa imagem do masculino é muito frágil, o homem tem alguns medos muitos frágeis: tem medo de falhar na relação sexual, tem medo do mito do homossexualismo, tem um medo inconsciente de num determinado momento se perceber gay.

A cobrança em ser homem é muito intensa, é uma pressão muito grande.

E como isso influencia diretamente na resistência pelo exame de toque?

É porque ao fazer o toque o homem pode se perceber gostando do exame e se sentir homossexual.

A região anal é uma região imensamente estimulante, erotizada. Em manuais sexuais existem técnicas que ensinam uma mulher a massagear o ânus do homem para ele se sentir excitado, pois essa é uma área sensível e isso é um fato.

Mas na prática isso não acontece pois o homem não permite esse contato por conta do esteriótipo do macho latino. Então, em parte, esse medo que o homem tem não é totalmente infundado, já que ele pode sentir algo que não gostaria.

E essa ideia do exame do toque conflitar com a imagem do macho latino é compartilhada pelas mulheres?

Olha, eu estou na área hospitalar há 20 anos. Segundo minha experiência, a maioria esmagadora das mulheres estimulam os parceiros a irem ao medico. As mulheres sabem do papel fundamental que têm na prevenção dessa doença.

É muito pequeno o número de mulheres que tirariam um barato ou imaginariam que o homem seria menos macho por fazer o exame de próstata. Esse preconceito está na cabeça dos homens unicamente.

Como fazer para mudar a realidade dessa ideia equivocada?

Essa questão cultural já tem mudado de uns anos para cá. É uma batalha que a gente vai conquistando a cada ano. O Hospital Santa Paula vem investindo muito forte na divulgação do Novembro Azul.

Imaginamos que com o movimento a gente possa atingir um grande número de homens para a conscientização da doença, pois é algo realmente sério.