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Legenda

O tropeço fatal de Oscar Pistorius

O perpétuo vai e vem de elevações e quedas.

Sempre me ocorre esta magnífica frase de Sêneca quando vejo tragédias como esta que envolveu Oscar Pistorius e sua namorada, na África do Sul.

Qual a distância entre a glória ensolarada das Olimpíadas de Londres, em que Pistorius entrou para a história como o primeiro paratleta a disputar medalhas com os maiores corredores do mundo, e a miséria de agora?

Tudo mudou numa fração de tempo, exceto o fascínio com que o mundo acompanha Pistorius desde que ele emergiu como um corredor simplesmente extraordinário, o Blade Runner, como foi apelidado por causa das próteses finas de fibra de carbano com que voa sobre as pernas amputadas quando ele era uma criança nascida sem os perônios.

As redes sociais falam freneticamente nos tiros que ele deu nesta madrugada na namorada, em sua casa na África do Sul, em pleno Dia das Namorados. Foram quatro tiros, no rosto e nas mãos.

Era linda a moça, Reeva Steenkamp, uma modelo de 29 anos que entrou mais de uma vez na lista das mulheres mais desejáveis do mundo da revista masculina inglesa FHM.

O alvoroço é geral. Os patrocinadores já se movimentam. A Nike retirou de seu site um anúncio em que aparecia a seguinte frase ao lado de uma imagem de Pistorius: “Sou a bala na agulha.”

(MAIS: Conheça a história de Reeva Steenkamp)

A polícia trabalha com a versão do próprio Pistorius: ele teria tomado equivocadamente a namorada por um ladrão. É um país inseguro e violento a África do Sul, em que os extremos de riqueza e pobreza são os maiores do mundo, e então é comum as pessoas mais abastadas terem armas em casa para se defender de assaltos.

Pistorius é um excelente atirador. Num perfil publicado no NY Times pouco antes dos Jogos de Londres, o autor narrou um episódio que ocorreu na luxuosa casa de Pistorius no curso das conversas que tiveram. Pistorius contou ao jornalista que pouco tempo antes descera a escada de sua casa “na ponta dos pés”, revólver na mão, por achar que alguém tinha entrado.

Fora um alarme falso. Pistorius se animou ao falar do revólver, e acabou ensinando o repórter a atirar num cômodo em que o corredor praticava tiro ao alvo. Ele foi um “bom professor”, disse o jornalista.  Segundo o artigo, Pistorius disse que, quando não conseguia dormir, costumava relaxar dando tiros.

Se se comprovar a tese do acidente, você poderia talvez dizer que quem talvez devesse ir para o banco de réus é a deletéria iniquidade da África do Sul. Ter arma em casa, e tratá-la como um importante instrumento de defesa, é típico de sociedades desiguais. Os brasileiros sabemos bem disso.

Talvez a sociedade sul-africana reflita sobre isso durante a investigação do caso.

Talvez não.

O casal nos dias felizes