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Qual a importância da combinação alimentar?

Thiago Sievers Head de Parcerias

Tenho a impressão de que, hoje em dia, a maioria das pessoas não dão a devida atenção à alimentação. Hipócrates, grego considerado o pai da medicina, já dizia 400 anos antes de Cristo: “Faça do seu alimento o seu remédio”. Mas parece que são poucos os que dão bola para o que esse senhor pensava. O Global Burden of Disease (maior estudo já realizado sobre a saúde humana que envolveu cerca de 500 pesquisadores e 300 instituições) apontou que em 1990 a subnutrição era a doença que mais diminiuía a expectativa de vida do ser humano. Apesar da situação ter melhorado nos dias de hoje, ela ainda permanece em 8° lugar nesse quesito.

As preocupações no mundo em que vivemos são tantas que a alimentação passou a ser relegada para sabe-se lá que plano. E, convenhamos, a indústria alimentar não ajuda muito no aspecto saúde. Sem contar as baboseiras vendidas em grandes quantidades, quando o alimento parece ser saudável ele vem com agrotóxicos ou produtos que alteram seus genes para os tornarem mais saborosos (os trangênicos).

Mas ainda assim existem pessoas que tentam driblar esse inconvenientes por conta da consciência de uma boa alimentação na manutenção da saúde do nosso organismo. São as que optam pelos produtos orgânicos, mesmo que o trabalho e o preço para obtê-los sejam bem maiores. Além dessa seleção, muitas pessoas ainda procuram realizar uma tabela alimentar para que os nutrientes ingeridos no dia a dia estejam em equilíbrio, conforme pede a pirâmide alimentar.

Todo esse esforço, no entanto, pode não estar gerando o resultado pretendido. Isso por conta de um outro fator: a combinação alimentar, que tem recebido a atenção de nutricionistas e pesquisadores nos últimos tempos.

Acontece que os alimentos reagem de forma diferente dentro do nosso organismo dependendo da “companhia” que tiverem. Se um determinado alimento foi ingerido sozinho ele terá uma reação “x”; se ingerido com outro alimento uma reação “y”; se existir ainda um terceiro, acontecerá uma reação “z”. As reações são tão diferentes quanto forem as substâncias ingeridas e podem acarretar tanto benefícios quanto malefícios do ponto de vista nutricional. “Alguns alimentos precisam necessariamente de outros para serem absorvidos”, é o que diz a professora do instituto de biociências da Unifesp Renata Cintra em uma matéria publicada pela Época sobre combinação alimentar. Mas a reação oposta também acontece: a absorção pode ser dificultada dependendo da combinação. Ou seja, não adianta você calcular a quantidade ideal de ferro que irá comer em um dia se os outros nutrientes ingeridos não favorecerem o uso dessa substância pelo seu organismo.

Sentiu o drama? Uma boa alimentação, portanto, requer muito mais consciência e disciplina do que pensávamos.

Além da questão nutricional, a combinação de alimentos também se mostrou eficiente em casos de patologias. Um estudo realizado pela Universidade de Illinois, Estados Unidos, mostrou a eficiência da combinação de alimentos. Eles fizeram o experimento em ratos com câncer de próstata, sendo que um grupo foi alimentado com tomate e brócolis, enquanto outros grupos consumiram os alimentos separados ou suplementos que carregavam seus princípios. No final, os cientistas verificaram que o primeiro grupo teve uma maior redução do crescimento tumoral em comparação aos outros.

Ainda que a questão de quais combinações são boas e quais são ruins não esteja fechada, algumas delas são consenso. Ferro (feijão) com vitamina C (laranja), por exemplo, é uma boa combinação, pois a vitamina C aumenta em 30% a absorção do ferro pelo organismo, segundo um estudo da Universidade de Syracuse, em Nova York. Já unir bebidas cafeinadas com alimentos gordurosos não é uma boa, pois a cafeína faz com que o açúcar na corrente sanguínea, que já aumenta com a ingestão de gordura, fique ainda maior.

Mas a nutricionista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP Nathaly Russo, na mesma reportagem realizada pela Época, deixa claro: “Não adianta comer molho de tomate com azeite todos os dias para prevenir câncer de próstata se você continuar ingerindo muito açúcar, gordura e fumando”. Traduzindo: a combinação alimentar, por si só, não é capaz de resolver seus problemas se você não der uma forcinha. Praticar exercícios e evitar hábitos como cigarro e bebidas alcoólicas em excesso são exemplos clássicos de outros pontos fundamentais para a manutenção da boa saúde.

(É válido lembrar que a ingestão de líquidos durante as refeições não promove a adequada absorção dos nutrientes alimentares pelo organismo)

Existem diversas tabelas e esquemas de combinações alimentares para observarmos a relação entre os alimentos, mas nenhuma de algum órgão oficial. A imagem no fim do texto é do livro Alimentação Light, de Ro Kupfer, e é recomendada pela química e estudiosa do assunto Conceição Trucom.

Outro esquema interessante é o de Carlos Grace. O criador do Jiu-Jitsu dedicou muito tempo de sua vida estudando a alimentação com a esperança de que ela pudesse resolver seus problemas de saúde (ele sofria de enxaquecas, pleura e gota). Durante muito tempo compilou diversos estudos sobre alimentação e, então, deu origem a Dieta Grace. Para falar de Carlos Crace precisaríamos de um texto inteiro e, por isso, hoje vamos nos limitar a apresentar o seu esquema, que você pode checar nesse link.

Por fim, existe também o gráfico interativo apresentado na própria matéria da revista Época que é bem interessante.

Provavelmente você ficou com preguiça só de ler o texto. Pois é, realmente se manter saudável dá trabalho – mas vá por partes. Comece eliminado os alimentos que não têm valor nutricional de sua alimentação regular antes de querer partir para a combinação alimentar. Para quem costuma comer hambúrguer com refrigerante frequentemente, o que é misturar laranja com mamão (considerada uma mistura ruim)? Portanto, é preciso usar a inteligência e pensar no que se come. Você não reserva tempo para cuidar da higiene? Dos estudos? Do trabalho? Por que não da alimentação, que é, no mínimo, tão importante quanto?

Combinaçao Alimentar