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Sêneca

A virtude e o prazer segundo Sêneca, o filósofo estoico

Você já ouviu falar de Sêneca?

O romano, um gigante do estoicismo, desenvolveu uma filosofia cujos fundamentos poderiam ser expressos da seguinte maneira: “Abstém-te e suporta“.

O estoico é alguém preparado para desfrutar as delícias da vida, quando e enquanto isso for possível. Mas é ainda mais preparado para enfrentar as adversidades inevitáveis.

Condenado a se matar por seu antigo discípulo Nero, Sêneca consolou, como Sócrates, os que estavam ao seu lado na hora fatal. “Filosofar não é nem mais e nem menos do que aprender a morrer”, escrevera ele em um ensaio.

As frases abaixo, que configuram uma entrevista fictícia, foram extraídas de um dos textos mais lidos, citados e admirados de Sêneca: Sobre a Tranquilidade da Alma.

Sr. Sêneca, alguns de seus ensaios mais notáveis dizem respeito à virtude e ao prazer. Como o senhor os classificaria?

A virtude é algo de elevado, nobre, invencível e infatigável. O prazer é fraco, servil, frágil e efêmero, cuja sede e casa são bordéis e tabernas.

Falando desse modo, o senhor dá a entender que o prazer e a virtude são irreconciliáveis. Está certo que são, então?

De modo algum. São perfeitamente conciliáveis, contanto que consigamos domar o prazer.

Acho que compreendo, mas estou confusa em um ponto: o que devemos fazer para conciliar o prazer e a virtude?

Devemos manter, com cuidado e serenidade, os dotes físicos e as nossas capacidades naturais como bens fugazes e de apenas um dia; não podemos ser escravos nem dominados pelas coisas exteriores e as ocasionais alegrias do corpo devem ter para nós o mesmo valor que as tropas auxiliares (servir, e não comandar).

Mas é natural que a gente sinta uma atração pelo prazer, e que seja muito difícil dar a ele uma posição meramente auxiliar, não é?

Não ignoro que a maior parte dos homens pensa apenas nos prazeres, e que a alma sugere prazeres e gozos exuberantes.

E isso é prejudicial?

Sim, pois resulta em características prejudiciais a nós mesmos. A insolência e a excessiva autoestima; o orgulho que despreza os outros; o amor cego pelas próprias coisas; a euforia por pequenos e fúteis pretextos; a maledicência com a soberba violenta; a inércia e a indolência que, cansada pelo acúmulo de prazeres, acaba dormindo sobre si mesma.

E a virtude rejeita tais coisas?

Exatamente. Para tudo isso, faz-se surda. Avalia o prazer antes de aceitá-lo. Não o acolhe para simples deleite, ao contrário, fica feliz em poder fazer uso dele com moderação.

Muitos, entretanto, diriam que a virtude é entediante e o prazer estimulante. O que o senhor acha?

Justamente o contrário. O bem supremo é imortal – não desaparecerá e não está familiarizado com o tédio ou arrependimento. O prazer, por sua vez, quanto mais se deleita, tanto mais cedo se extingue. Sendo limitado, fica logo satisfeito. Sujeito ao tédio, logo depois do primeiro ímpeto já se mostra cansado. Não demonstra estabilidade porque é fugaz. Assim, não pode ter consciência aquilo que aparece e desaparece como um relâmpago, destinado a findar no mesmo instante em que se faz presente. Em verdade, o fim já está próximo quando começa.

Mais alguma coisa a destacar?

Acho importante ressaltar que é por todas as razões que acabo de apresentar que os antigos recomendavam seguir a vida melhor e não a mais agradável, de modo que o prazer se torne um aliado e não o guia da vontade digna e honesta.