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Como a impaciência e a expectativa estão nos transformando em homens frustrados

Nós, jovens das gerações Y e Z, compartilhamos da mesma inquietação quando se trata de identificar o nosso lugar no mundo.

Fomos criados para acreditar em uma perseguição desenfreada pela felicidade. Estamos constantemente em busca de realização pessoal e profissional, mas temos a necessidade de resultados imediatos – a impaciência está em nosso chip.

O problema de toda essa pressa é que perdemos um pouco a capacidade de curtir a alegria decorrente das conquistas, de apreciar momentos. Sabe aquele brinquedo que perde a graça quando se torna seu? É tipo isso.

O sentimento torna-se orgástico, efêmero. Distancia-se da felicidade eterna – ou pelo menos duradoura – descrita por nossos pais, pregada nas igrejas, na televisão e na internet.

O quanto antes formos capazes de perceber que colocar toda nossa energia e todo nosso coração no futuro, na busca pela felicidade, não é a escolha mais inteligente, melhor. O presente é tudo que temos, é bom que sejamos capazes de notá-lo.

Nessa corrida pela vida ideal, somos o Tom tentando pegar o Jerry. Somos o Frajola querendo comer o Piu-Piu. Crescemos achando que ser feliz é um estágio permanente que precisa ser alcançado a qualquer custo, e mais, que somos capazes de conquistar tudo o que quisermos, não importa a classe social ou a raça à qual façamos parte.

Mas a vida não é bem assim. Com as experiências que vamos acumulando, a gente começa a sacar que dos sonhos para a realidade sempre há um céu de distância.

Não seria o “ser feliz” um termo pretensioso demais? Que tal “estar feliz”? Poder estar feliz é um alívio e faz muito bem.

Se você tem menos de 35 anos, a essa altura já está impaciente, porque o título menciona riqueza e até agora só falei gratuitamente sobre felicidade. Mas, como bem sabemos, uma coisa tem tudo a ver com a outra.

Tem muita gente por aí que acha que felicidade é ter dinheiro para fazer tudo o que der na telha. Mesmo quem não almeja ser super rico, não dispensaria uma chance de demostrar status, porque status, mesmo que ilusório, é prazeroso. A autoaceitação floresce quando a coletividade nos olha com admiração, mesmo que seja sobre o que temos. Massageia o ego.

Mas a verdade é que a maioria de nós nunca vai se tornar rico. Logo vem a pergunta: como viver a realidade sem perder o equilíbrio? Para Rousseau, a riqueza é relativa. Ele considera que, se uma pessoa tem muito dinheiro, mas não o suficiente para conquistar aquilo que sonha, então ela sente-se pobre, embora tenha muito mais que a maioria da sociedade.

Por outro lado, se um pobre considera ter, com toda a sua limitação econômica, tudo o que acha necessário para viver e aproveitar a vida, se sente afortunado e mais feliz que o rico ambicioso. Tudo é uma questão de ponto de vista.

QUER SER CAPAZ DE ESTAR FELIZ MAIS VEZES? TENHA OS PÉS NO CHÃO

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O filósofo suíço Alain de Botton fez a seguinte pergunta: dinheiro ou restrição de desejos? É uma questão essencial para evitar frustrações em nossas vidas.

Nós, pós-modernos, urbanos e de classe média temos no topo de nossas pirâmides os desejos mais variados. Citei que fomos criados para acreditar que tudo é possível e que o céu é o limite. Pois pode não ser. Ao achar que todo sonho pode ser realizado, que trabalhando bastante poderemos ficar ricos, que conquistando bens seremos admirados, a gente acaba elevando nossas expectativas a um patamar que dificilmente seremos capazes de alcançar.

Se fôssemos comparar ao cristianismo, seria o paraíso. O estágio pleno de felicidade acontecendo ainda em vida.

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Nem tudo ocorre conforme o planejado. A profissão não decola. O namoro termina. O dinheiro não paga todas as despesas. Vem a frustração. E mais intrigante ainda: há muitos frustrados que poderiam ser rotulados de bem-sucedidos! Coisa maluca.

O plano de “ser feliz” falha para jovens de personalidades diferentes, de classes diferentes e que conquistaram muito ou pouco quando levam em conta os próprios objetivos.

Aquele cara ambicioso e talentoso não entende o sentido de trabalhar 12 horas por dia, pede socorro em silêncio, mas não tenta mudar porque não saberia o que fazer, por onde recomeçar.

Aquela garota simpática e comunicativa não aguenta mais ficar em uma mesa de escritório, escondida atrás da tela do computador, ela sabe que poderia ter sido uma dançarina ou apresentadora de televisão famosa. Dói pensar nisso, mas ela não vai fazer nada para mudar, pois precisa pagar seus os sapatos. Eles são a gente. Sofremos de insatisfação crônica.

Há um vazio em ser um ser humano ordinário.

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Esse vazio causa depressão. Temos o destrutivo hábito de nos compararmos com as pessoas próximas a nós, os amigos, os vizinhos, os primos. Ao concluir que muitos cresceram mais profissionalmente, que têm carros e roupas melhores, que estão em lugares mais divertidos, nos sentimos inferiores.

Embora nem tudo seja exatamente como se parece e a gente saiba disso, tiramos conclusões pelas aparências e pelo status. A gente cai em uma armadilha que nós mesmos criamos.

ANDAR PARA FRENTE É NÃO ANDAR PARA TRÁS 

Ao trabalhar por ascensão social, a maioria de nós está modestamente movendo o sistema capitalista para que sempre funcione; de fato, estamos fugindo do nosso maior temor: cair para a classe de baixo. É o que de Botton chama de “Ansiedade por status”.

Em uma aristocracia primitiva, as castas pobres sabiam que era impossível enriquecer. Ao contrário da nossa democracia atual, que nos encoraja a produzir e investir os nossos ganhos em bens de consumo que não nos tornam verdadeiramente ricos, mas nos fazem parecer bem-sucedidos.

Seriam os pobres do passado mais felizes? Estamos sendo justos com nós mesmos ao acreditar que todo mundo é igual e que todos têm oportunidades? Nem um pouco. As chances não são iguais e para nós, brasileiros, a meritocracia é só uma palavra vazia. Ou todo rico é inteligente e esforçado e todo pobre é burro e preguiçoso?

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O psicólogo americano William James criou uma equação simples e muito interessante: autoestima = sucesso / expectativa.

É uma visão pragmática. Realidade pura. Se as expectativas em relação ao futuro forem maiores do que o sucesso que o indivíduo atingiu – e o julgamento é a sua visão corrompida sobre o que é ser uma pessoa de sucesso – ele estará em apuros.

Um homem frustrado, que inveja os seus pares, não será capaz de manter sua autoestima em níveis saudáveis. E qual a saída? Concordo com de Botton: reduzir o nível das expectativas.

Metas são necessárias? Sim. É preciso lutar pelo que se deseja? Sim. Mas não devemos criar ilusões. Aceitar o que vem de positivo com alegria e esperança é o tipo de inteligência que nos falta. Valorizar as conquistas, por menores que pareçam, é pura sabedoria.

Alguns dirão que esse way of life é derrotista. Dirão que é desculpa para os insucessos. Deixe que pensem, deixe que falem. Teremos de ser capazes de parabenizar essas mesmas pessoas, pois algumas delas conseguirão o que querem fazendo exatamente o oposto.

E tudo bem, afinal, não existe fórmula mágica. Mas é importante evitar frustrações desnecessárias. Quanto maior o domínio sobre os desejos, mais sensatos seremos em nossas escolhas e julgamentos.