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O que acontece com o cérebro num trauma craniano?

Algum tempo atrás, na primeira luta do Spider contra Weidman, no qual o brasileiro foi a nocaute, falamos um pouco sobre a ciência doesse feito. Para lembrar de forma rápida, dissemos que o crânio é uma caixa dura, como um balde cheio de água; o cérebro, como uma bola de basquete, ligada por um cabo em sua parte inferior ao resto do corpo. No nocaute, a chacoalhada leva a um reboot automático, ou seja, o nocaute.

Agora, o que acontece no caso de outros traumas de crânio mais graves, como foi com o ex-piloto Michael Schumacher?

O crânio, o balde do nosso exemplo, tem diversas partes: a parte óssea (o metal do balde); a parte líquida (o líquor), e a parte sólida (a bola). Entretanto, envolvendo cada uma delas, há uma membrana bem fina, que podemos imaginar como um filme de PVC. Colada no balde, ou seja, nos ossos, nós temos a dura-máter, que é a membrana mais grossa; colada no cérebro, a membrana aracnoide; e, entre as duas, a pia-máter.

Isso é importante, porque traumas diferentes causam lesões diferentes. Ao que temos de evidência no caso de Schumacher, o trauma levou a uma lesão da dura-máter, que gerou um hematoma extradural, ou seja, um sangramento que ficou entre o osso e a dura-máter. Com isso, ele teve um período de consciência, seguido de inconsciência. O grande problema: uma evolução assim é bastante grave. O lado bom: geralmente ela responde bem à cirurgia de trepanação (abertura da calota craniana) e drenagem do sangramento.

Para Schumacher, entretanto, não foi tão fácil. O cérebro começou a inchar, como qualquer parte do corpo submetida a um trauma.

Imagine então que o nosso balde tem uma tampa, está completamente cheio e nós decidamos encher a bola de basquete. O que acontece? Como o balde não pode expandir, o cérebro opta por se livrar do líquor, o líquido que envolve a bola. Uma hora, no entanto, o líquido acaba. Qual é a solução, então? Diminuir a entrada de sangue, que também ocupa um espaço precioso dentro do crânio. Só que isso é uma faca de dois gumes, pois leva não só ao coma, como também a lesões cerebrais irreversíveis. E é isso que os cirurgiões tentam resolver, realizando a craniectomia, ou seja, retirada de um pedaço da calota craniana, para deixar que o cérebro inche para fora. É o mesmo que fazer um furo no balde; a bola pode encher para fora, e não é mais necessário diminuir o aporte sanguíneo. Existem outros tipos de sangramentos; o subdural, que fica entre a dura e a pia-máteres; e o subaracnoide, no qual o sangue está em contato direto com o cérebro, o que é propenso a mais lesões. Qualquer tipo de sangramento cerebral é muito grave e deve ser tratado com o máximo de cautela e delicadeza. Muitas vezes é um jogo de gato e rato, no qual apenas a paciência poderá levar à cura. Portanto, Schumacher, força. Esta é a corrida mais importante da sua vida.