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Visitando o Salão do Automóvel: emoções, lições e decepções

Pergunte a uma criança o que ela sente quando entra em um parque de diversões e você a verá dizer um monte de coisas sem sentido, outras bacanas e uma centena de adjetivos que em sua grande maioria significam algo como “fantástico”, “maravilhoso” e por aí vai.

Você vai notar que, para ela, será extremamente complexo tentar se expressar ao mesmo tempo em que seus olhos correm de um lado para outro sem saber o que olhar primeiro, tamanha a quantidade de luzes, cores, formas e sons.

Agora imagine que essa criança é você, um aficionado por carros e o parque de diversões é na verdade o maior evento automobilístico do ano.

Pois bem, agora você já é capaz de compreender o primeiro sentimento que nos vêm à cabeça quando adentramos o centro de eventos do Anhembi e logo à frente somos recebidos por um imenso banner que diz: “Bem vindo ao Salão do Automóvel”.

Logo depois que você respira fundo e entra de cabeça no salão, começa a descobrir que, como qualquer grande evento, este também tem suas partes ruins e, nesse caso especial, eu tive algumas surpresas bem desagradáveis.

Obviamente que nenhuma delas me tirou a empolgação de estar lá, mas dá pra afirmar que fizeram um bom trabalho ofuscando o brilho da festa. Vou contar para vocês um pouquinho da minha experiência:

LIÇÕES

  • Nunca vá ao Salão num final de semana

Logo ao chegar você aprende a primeira grande lição: nunca venha ao salão em um final de semana. No meu caso, eu não tive muita escolha, mas agora aprendi que da próxima vez a aventura vai ser em horário comercial. É simplesmente inacreditável a quantidade de pessoas que circulava pelo Anhembi.

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E com o calor absurdo que anda fazendo em São Paulo, nem mesmo os 147 climatizadores instalados por lá evitaram que o ambiente se tornasse sufocantemente quente.

Além do mais, fica bem complicado admirar e fotografar os carros enquanto uma multidão se acotovela à sua volta. A Audi, por exemplo, deixou todos os automóveis abertos ao público para quem quisesse entrar, sentar e fotografar. O resultado era que chegar perto de cada modelo, nem que fosse para bater uma única foto, se tornava uma tarefa ingrata.

  • Um dia é pouco para aproveitar tudo

Assim que começamos a descobrir todas as atividades bacanas que os expositores trouxeram para divertir os visitantes, aprendemos a segunda grande lição: um dia é pouquíssimo tempo para poder aproveitar tudo. É impossível visitar todos os expositores e ainda fazer sobrar tempo para experimentar os, digamos, “brinquedos”.

A Dodge oferecia um test-drive “radical” em uma pista off-road improvisada para demonstrar o potencial de seus jipões. A Ford levou o Tecnodrive, um test-drive que alia uma experiência em um ambiente virtual dentro de um carro de verdade. A Fiat levou jogos e máquinas de presentes onde você podia ganhar miniaturas de carros da marca.

No entanto, as filas para se usufruir dessas brincadeiras eram tão gigantescas que você acabava tendo que escolher: ou passeia e visita a exposição, ou encara as filas e não visita mais nada.

Eu diria que dois dias (um para visitação e outro para, digamos, “degustação” ) seria perfeito.

  • Tenha paciência – muita paciência

A terceira grande lição vem do Oriente, mais especificamente de um cara chamado Buda. Tenha paciência, muita paciência.

Manter a calma em meio a grandes aglomerações é um imenso exercício de paciência. As pessoas tendem a deixar a educação em casa quando estão em ambientes assim e o calor só ajudou a deixar todo mundo ainda mais nervoso.

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Não raro víamos pessoas batendo boca apenas porque alguém furou a fila para tirar foto sentado dentro do Audi R8, por exemplo. Alguns se estranhavam porque outros atrapalhavam suas fotos.

Agora, passada a situação, a gente nota o quanto isso é absurdo. Mas tente pensar nisso com alguém batendo em você sem a menor cerimônia toda vez em que você tentava posicionar o foco de sua câmera. Paciência…

EMOÇÕES

  • Ver de perto os modelos conceitos

Poder admirar em primeira mão as novidades que logo mais vão estar nas ruas é fascinante. No entanto, melhor ainda é poder ver de perto os modelos conceito. É como ver o futuro materializado ali, bem na sua frente.

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Você por alguns instantes para, observa e fica ali imaginando que tipo de coisas se passava na cabeça dos projetistas quando pensaram naquele desenho, naquelas formas.

Todos trouxeram conceitos interessantíssimos, como a Toyota que expôs um modelo movido a células de hidrogênio e a Nissan que trouxe o Kicks (e acabou não trazendo o Extreme) que vai dar origem ao primeiro SUV da marca aqui no Brasil e ainda vai ser fabricado em nossas terras. A Volvo trouxe o seu “carro autônomo” (que dirige sozinho). A Hyundai trouxe o R-Spec, um modelo especial do HB20 especialmente criado para o evento e por aí vai.

Enfim, essa parte estava sensacional.

  • Conhecer a tecnologia dos híbridos e elétricos

Conhecer de perto a tecnologia dos automóveis híbridos e elétricos também foi um ponto alto da festa. Ao mesmo tempo em que é animador ver o quanto avançamos neste campo, também é frustrante saber que a burocracia do nosso país vai fatalmente nos manter afastado dessa que é a verdadeira nova onda da história automotiva por um bom tempo.

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Para se ter uma ideia, até mesmo a chinesa Geely, que trouxe seus modestos representantes, apresentou conceitos e modelos de linha híbridos. Nos stands das 4 grandes montadoras nacionais, apenas o Ford Fusion Hybrid marcou presença.

  • Muita diversão

Poucos expositores proporcionaram tanta diversão quanto a Dodge. O stand dos americanos era de longe o mais carismático.

Além do visitante ter acesso completo a qualquer um dos carros expostos – inclusive os mais caros –, ele ainda podia comprar miniaturas, camisetas, bonés e todo tipo de traquitana das marcas do grupo (Chrysler, Jeep, Dodge, Mopar, etc.).

Além disso, todos que lá chegavam eram tratados com extrema educação e simpatia por todos os funcionários do stand. Eu particularmente fui tão paparicado que me senti mal por não ter grana para comprar um dos carros deles.

  • As “joias raras”

Ver de perto algumas “joias raras” como o multimilionário Porsche 918 Spyder , o famoso Nissan GT-R, o majestoso Ford Mustang e tantos outros foi algo mais do que especial. Mesmo que a experiência não tenha sido tão completa quanto eu esperava, ainda foi muito marcante.

Neste quesito, as menções honrosas vão para a Mercedes e a BMW, que levaram suas máquinas mais lindas pro evento e liberaram acesso total a todas elas (exceto o híbrido BMW i8). A Audi também está de parabéns nessa!

DECEPÇÕES

  • Acesso fechado ao público geral às pérolas do evento

Um dos meus principais objetivos era poder ver em detalhes o novo Ford Mustang, o meu favorito. Pois os 2 modelos disponíveis estavam expostos nos displays giratórios, longe das pessoas, enquanto no stand da GM que ficava logo ao lado os visitantes se esbaldavam dentro de um Camaro Z28 (que inclusive é mais caro do que o Mustang).

Além disso, a única unidade disponível para a real apreciação estava disposta em um mezanino onde só entravam convidados e diretores da Ford. A GM entrou na mesma onda lamentável e colocou o seu cultuado Chevrolet Corvette em um mezanino no segundo andar do stand com acesso apenas para VIPs. Desse, fotos apenas de longe. Imperdoável.

  • Acesso fechado ao público geral às pérolas do evento II

A Porsche também fez feio no salão. É compreensível que um modelo de R$ 4 milhões como o 918 Spyder seja apartado do público por motivos de segurança, afinal de contas qualquer acidente ali geraria uma perda irreparável. Mas fechar todo o seu stand para o público e permitir o acesso apenas para convidados e imprensa foi um pouco demais – e um tanto quanto constrangedor.

  • Hot Wheels e sua “rara coleção”

A maior decepção de todas veio no final da visita quando finalmente cheguei ao stand da Hot Wheels/Mattel. Durante a semana do evento, noticiaram que a raríssima coleção de 1968 – a primeira série de Hot Wheels que foi fabricada – estaria em exposição. Seria a primeira vez que esta coleção seria exposta ao público em geral.

Seria.

De acordo com uma das organizadoras do stand, um certo “problema logístico” impossibilitou que as miniaturas saíssem dos Estados Unidos. No lugar dessa, expuseram a “raríssima” coleção de 2010 (que de rara não tem absolutamente nada).

Para completar, a organizadora ainda nos mostrou uma miniatura “exclusiva do evento Salão do Automóvel” que nada mais é do que o modelo dourado que a Mattel dá de brinde em qualquer loja por aí quando o cliente compra mais de R$ 50 em mercadorias.

Resumindo: desorganização, descaso e total despreparo de quem estava lá para receber as pessoas com o agravante de não terem avisado ninguém sobre isso. Ontem mesmo, havia uma reportagem em um grande portal da internet dando conta da “raríssima” coleção Hot Wheels exposta no salão.