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Legenda

Você sabe de onde vem o samba?

Thiago Sievers Head de Parcerias

A Copa do Mundo e as Olimpíadas do Brasil estão se aproximando. E, com elas,  uma enxurrada de estrangeiros. Ou, melhor ainda, estrangeiras. Não é segredo que elas se encantam facilmente com a cultura brasileira e, mais especificamente, com a nossa música. E você não quer gaguejar quando uma inglesinha charmosa te perguntar a origem do samba, certo?

Do samba de raiz ao samba-rock, do samba de breque ao samba-enredo, a origem do gênero é uma só: a África. A primeira cultura musical que recebeu essa denominação foi o samba de roda por volta do ano de 1860 na Bahia, que era uma manifestação dos escravos africanos que trabalhavam nos engenhos de açúcar. A dança ainda recebeu a influência do maxixe (ou tango brasileiro) que, por sua vez, tem raízes no lundu (dança de origem africana) e na polca (dança de origem europeia).

O samba de roda baiano tem semelhança com outro tipo de tradição africana: o jongo (também conhecido como caxambu, tambu, tambor, batuque). Ambas são originárias do bantu (cultura linguística africana), mas o jongo não se estabeleceu no nordeste do país, e sim nos campos de café do sudeste brasileiro na primeira metade do século XIX, portanto, antes do samba baiano.

Após a semana de labuta, os capatazes permitiam que os escravos tivessem seu momento de lazer aos sábados à noite. Eles então se reuniam em volta de uma fogueira, e cantavam e dançavam ao som de dois ou três tambores. Essas festas, conhecidas como caxambu, se estendiam até o raiar do sol e eram regadas a pinga. A dança realizada era conhecida como umbigada (também utilizada no samba baiano), do bantu semba, termo que deu origem à palavra “samba”.

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Os pontos (nome dado à poesia das músicas) carregavam diversas palavras de duplo sentido ou então de origem bantu. A intenção dos escravos ao compor as letras dessa forma era poder falar do que quisessem sem serem compreendidos por seus senhores. Portanto, no meio da cantoria eles podiam tirar sarro dos feitores sem que esses percebessem. Esse modo de comunicação, no entanto, foi estendido para a rotina de labuta.

Essa tradição também é conhecida por sua característica de resistência – era uma forma que os escravos tinham de fazer viver suas raízes africanas e não deixar que a nova cultura atropelasse suas crenças. A tradição foi se expandindo pela região do Vale do Paraíba, pelos quilombos que lá foram surgindo, como, por exemplo, o de São José da Serra-RJ (que existe até hoje), até se desenvolver na cidade carioca no começo do século XX e, também sob forte influência do samba baiano, passar a ser conhecido como samba e ganhar as diversas derivações das quais, se muito, conhecemos algumas.

O jongo é reconhecido por muitos como o “avô do samba” e, em 2005, foi reconhecido pelo IPHAN como patrimônio imaterial cultural brasileiro. No mesmo ano, a ONU elevou o samba de roda a patrimônio histórico e cultural da humanidade.

Entretanto, a cultura de massa fez com que das tradições só sobrasse o vendável – mais especificamente, a música. Samba, em sua origem, é muito mais do que o som, assim como era o Hip Hop, do qual o nosso colunista Emir Ruivo escreveu há alguns dias. Era uma questão de conservação de tradição, de reverência aos antepassados, de luta pela identidade.

Mas e hoje?

Hoje é isso: uma moldagem de referências sonoras com o objetivo de deixar o mais confortável (aka vendável) possível aos ouvidos dos consumidores – eu e você.