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9 lições de vida com o mestre budista Thich Nhat Hanh

Você já ouviu falar sobre o mestre budista Thich Nhat Hanh?

Caso se interesse pelo budismo, suponho que sim; e, caso não se interesse em particular, sua obra no entanto pode ainda lhe ser de grande valia. E por quê? Em suma, porque contém as mais valiosas reflexões que já li a respeito da satisfação.

Ainda vivo – e, inclusive, ativo em seu monastério budista no sul da França, chamado Village des Pruniers, ou Vilarejo das Ameixas –, Thich Nhat Hanh é um escritor incansável que escreveu dezenas de livros célebres, entre os quais podemos destacar as suas obras sobre o milagre da atenção plena, a arte de se comunicar e o poder da quietude em um mundo barulhento. Hoje, no entanto, pretendo me debruçar sobre um único livro.

O livro em questão, o qual ainda não foi traduzido para o português, consiste na publicação dos diários escritos pelo sábio durante os anos em que viveu exilado nos Estados Unidos, de 1962 a 1966, e lecionou em Princeton.

Fragrant Palm Leaves, o nome que recebeu, consiste em uma crônica de nostalgia pela sua terra distante, a qual estava marcada pela guerra civil e posteriormente pela guerra com os Estados Unidos, e especialmente pelo belíssimo templo budista que ele e seus companheiros tiveram de deixar para trás, Phuong Boi, que expressava o seu ideal de servir às raízes de sua cultura. Phuong, na realidade, significa “fragrante”, “raro” e “precioso”; Boi, por sua vez, é o tipo de folha de palmeira nos quais os ensinamentos de Buda eram escritos nos tempos antigos.

Em meio às lembranças nostálgicas e agridoces daquele pedacinho de floresta deliciosamente afastado da civilização, onde buscavam fincar raízes e construir um território seguro, o autor fala a respeito da importância das dádivas da apreciação, da gratidão e da satisfação. E, o que é ainda mais necessário para nós, da necessidade de nos atermos meramente ao instante que vivemos e deixar para lá quaisquer preocupações com o futuro.

Não, obviamente, que você ou eu devamos viver como ensandecidos, como descontrolados, e deixar de fazer planos sólidos para o futuro. É preciso discernimento. O que quer é que na medida do possível nos concentremos em apreciar o momento atual, e não temer o instante de ruptura que nele poderá colocar um fim. Ademais, em meio à dor, as lembranças de algo bom nos trazem alento.

Isso, inclusive, me lembra o final de Tieta do Agreste, livro clássico de um dos maiores escritores brasileiros, o baiano Jorge Amado. Nele, a jovem protegida de Tieta reclama do fim de um romance o qual tentara desesperadamente manter. Em sua doce sabedoria, Tieta diz: “Saudade é igual a amor, Nora. Não mata, ajuda a viver”.

Em outros termos, e em outros contextos, é basicamente isso que Thich Nhat Hanh expressa ao longo de seus diários. Um exemplo? Ei-lo:

Nós jamais perderemos Phuong Boi. É uma realidade sagrada em nossos corações. Por mais que já estejamos distantes de lá, ouvir o seu nome é o suficiente para nos conduzir às lágrimas. Ontem, escrevi a Man e lhe disse que, embora furacões e galés nos tenham conduzido a direções opostas, a fé fará com que possamos voltar uns aos outros.

Lindo, não é mesmo?

Falemos, agora, um pouco sobre os principais ensinamentos contidos no livro. Vejamos, do mesmo modo, como aplicá-los em nossas vidas a fim de encontrar um grau maior de calma, de satisfação e de resignação frente às adversidades.

1# EMULEMOS A FORÇA DE UMA ÁRVORE

Em meio a absolutamente qualquer vida, mesmo as que nos parecem mais perfeitas, existem as tempestades. Uma pessoa pode ter segurança financeira e conforto, mas pode vir a adoecer gravemente da noite para o dia. Ou uma pessoa pode gozar de uma saúde perfeita, mas vir a perder a sua fonte de renda e passar por maus bocados. Ou podemos ter saúde e dinheiro, e no entanto sofrer de um coração partido.

De qualquer maneira, todos enfrentamos adversidades ao longo da vida. Não podemos, por mais tentador que isso nos pareça, bancar os avestruzes e esconder as nossas cabeças sob a terra; é preciso que inspiremo-nos nas árvores. Assim como elas, dissipemos toda a indiferença ou incerteza, e nos prontifiquemos a enfrentar quaisquer tempestades e permanecer de pé.

2# INSPIREMO-NOS EM OUTRAS PESSOAS

Ter uma fonte de inspiração, alguém em quem você possa se espelhar e que o incentive a ser a sua melhor versão, é algo essencial. Publicamos aqui no site um texto sobre como nós nos assemelhamos às cinco pessoas com as quais mais convivemos, e remarcamos o fato de que, por mais que pensemos automaticamente em pessoas que conhecemos pessoalmente, nossas listas também podem englobar figuras célebres, como um determinado escritor, líder, ou até mesmo um personagem fictício.

Todas as noites antes de dormir, Napoleon Hill reportava que fazia uma “reunião imaginária” com seus “conselheiros invisíveis”, os quais incluíam Sócrates, Confúcio e Darwin. Um tanto esquizofrênico da parte dele? Talvez, mas podemos nos beneficiar um pouco disso.

Thich Nhat Hanh lembra-se de como os ensinamentos de Buda, em especial, foram valiosos a ele e a seus companheiros, e como ajudaram-no a se tornar uma pessoa melhor. Ainda que em menor grau de influência, reporta também ter-se inspirado em Cristo. No entanto, lembra ao leitor que, embora respeite a ambos como grandes professores, recusa-se a venerá-los aos moldes que se venera uma divindade.

3# A MUDANÇA É PARTE DE NÓS

“Como poderíamos continuar a viver se jamais mudássemos?”, indaga o sábio. “Para viver é necessário que morramos a cada instante”.

Com frequência, vemos pessoas apegando-se às suas verdades e a identidades que deixaram, há muito, de lhes servir. Muitas vezes, recusam-se a mudar porque sentem medo. Em outros momentos, trata-se de uma questão de conforto. O fato é que, para que nos desenvolvamos, é preciso aceitarmos as mudanças – em nós, nos outros, nas circunstâncias e na sociedade – e nos adaptarmos a elas.

“Ah”, você pode me dizer. “Mas sou avesso às mudanças, e não sou obrigado a aceita-las de bom grado”.

Sim, de fato. Não somos obrigados a nos desenvolvermos e a expandirmos os nossos pontos de vista e horizontes; no entanto, quando nos mantemos inertes é comum que sejamos como que “deixados para trás” e que, inadaptados a um mundo novo ou novas circunstâncias, nós passamos a ver o ambiente ao nosso redor como inospitaleiro.

4# A VERDADE É ESSENCIAL

Para Thich Nhat Hanh, devemos buscar exaustivamente pela verdade. Para ele, “é necessário que nos apeguemos à verdade, ainda que esta nos destrua”.

Eu estou de acordo? Sinceramente, não posso dizer que sim. Receio não ter atingido o nível de desenvolvimento necessário para dizer que sou uma nobre peregrina em busca da verdade, e tenho relativa facilidade para ignorá-la a fim de manter o meu próprio conforto. E sei que, talvez, muitos de vocês se identifiquem comigo.

Na verdade, isso se dá porque vivemos numa sociedade que nos impele a fugir continuamente de sentimentos negativos; e, como o próprio Thich Nhat Hanh nos lembra, “encontrar a verdade não é, de maneira alguma, o mesmo que encontrar a felicidade”. Em suas palavras, “queremos ver a verdade, mas no instante em que a encontramos não podemos evitar o sofrimento”.

Mas o que é a verdade para ele?

Aparentemente, a compreensão da realidade. E, no instante em que obtemos a compreensão à qual se refere, é impossível aceitarmos as coisas que sabemos serem falsas.

Resta a questão: e por que é tão difícil encarar a verdade?

Em poucas palavras, porque ela requer um sacrifício. Em primeiro lugar, de nosso bem-estar e conforto mentais; com frequência, sentimo-nos desanimados e infelizes quando encaramos certos fatos. Um exemplo disso é o momento em que olhamos para um morador de rua. No momento seguinte, tentamos distanciar essa imagem de sofrimento de nossas mentes, devido ao fato de que é doloroso imaginar uma vida assim. Nesses momentos, nos afastamos da verdade ou simplesmente a maquiamos.

Mas o monge nos ensina que, ainda que não tenhamos atingido um grau de desenvolvimento suficiente para encarar a verdade sobre o mundo, devemos ao menos buscar a verdade sobre nós mesmos, através do autoconhecimento. Pois, “quando não somos nós mesmos, qualquer liberdade que pensemos ter é ilusória”.

5# ACEITEMOS OS NOSSOS PRÓPRIOS MEDOS E LIMITAÇÕES

“Nas profundezas de nossa consciência, estão as sementes de nosso potencial. No entanto a elas juntam-se as cobras venenosas, fantasmas e outras criaturas desagradáveis. Ainda que as mesmas encontrem-se ocultas, controlam nossos impulsos e atitudes”.

Se você é como eu, então não gosta de pensar sobre coisas que acha desagradáveis ou mesmo perturbadoras e busca fingir que elas não existem. É comum tentarmos seguir a vida fazendo questão de ignorar o negativo – buscamos ignorar os nossos medos, tendências destrutivas/autodestrutivas e frustrações mais íntimas, e isso não apenas faz com que esses pensamentos ressurjam de maneira menos saudável quanto impede o nosso processo de desenvolvimento e maturidade.

Se o que queremos é a liberdade, precisamos convidar esses “fantasmas” a subir para a nossa mente consciente, e não lutar contra eles. Se não os tornarmos nossos amigos, voltarão a nos perturbar todo santo dia. Convide-os a subir. Conheça-os. Permita que se integrem. E, assim, fará com que percam o seu potencial de destruição.

“Se convidarmos os nossos medos a entrarem em contato conosco e conseguirmos sorrir de modo compassivo para eles, as coisas se ajeitarão”, afirma o ícone do budismo.

6# CULTIVEMOS A GRATIDÃO

Você já notou que não damos valor às coisas mais miraculosas e excepcionais, exceto quando as perdemos? Uma destas, por exemplo, é a nossa vista. Como podemos não lhe dar o devido valor? E é o que fazemos.

O mundo constantemente se revela em frescor e em esplendor, e viver é uma dádiva. Se você pensar bem, verá que “o mundo das formas e das cores é um milagre que nos oferece maiores alegrias todos os dias”.

Para Thich Nhat Hanh, é preciso que percebamos que:

O nascimento, a velhice, a doença, a morte, a separação com aqueles a quem amamos, o contato com aqueles a quem desprezamos, as esperanças que não se satisfazem todas essas coisas são maravilhosas. São aspectos preciosos de nossa existência. Sem elas, a existência não seria possível. O importante é sabermos ficar firme frente às ondas de impermanência, sorrindo como sorriem aqueles que sabem que jamais nasceram e que jamais morrerão.

A vida é miraculosa, mesmo em seu sofrimento. E ela se torna mais prazerosa e mais leve se aprendemos a apreciar os seus pequenos tesouros – uma folha, a voz de um amigo. Muitas vezes, em nossa busca pelas coisas grandiosas esquecemo-nos de apreciar as simples, embora em última instância sejam estas as principais responsáveis pela nossa felicidade.

7# FAÇAMOS TUDO COM ATENÇÃO PLENA

Já falamos sobre mindfulness no site, e é necessário dizer que, embora esteja na moda nos dias de hoje, esta é uma arte milenar.

Thich Nhat Hanh fala mais detidamente sobre o assunto em seu livro específico sobre ele, e lhe dedica somente alguns parágrafos de seus diários. No entanto, fica evidente que o intento por trás de suas palavras é impelir-nos a nos concentrar inteiramente no momento presente, até mesmo enquanto cozinhamos, lavamos as louças, varremos, carregamos água e cortamos madeira. (Bem, não que cortemos muita madeira nos dias de hoje, não é mesmo?)

Em Phuong Boi, diz, “cozinhávamos para cozinhar e lavávamos as louças para termos pratos limpos”. Para ele, lavar as louças e cozinhas fazem parte do caminho de Buda, e a prática zen é “comer, respirar, cozinhar, carregar água, limpar o banheiro – infundir a cada ato do corpo, a cada discurso, a cada pensamento, uma alta dose de mindfulness”.

8# SAIBAMOS QUE A PRIMAVERA SEMPRE VOLTARÁ

“Os primeiros sinais da primavera revelam-se no Vietnã”, escreve. “Não importa o quanto a minha terra natal se deixa abalar pelas dores e pelo luto, a primavera sempre voltará com sua mensagem de esperança”.

Em nossas vidas, as coisas também funcionam assim. Há momentos de dor, mas a primavera sempre volta com a sua mensagem delicadamente esperançosa.

Nesse meio tempo, diz o sábio, “o melhor remédio para o isolamento sombrio do coração é entrar em contato direto com os sofrimentos da vida, conhecer e partilhar das ansiedades ou das incertezas dos outros”.

Isso porque “a solidão ocorre quando trancamos a nós mesmos em uma falsa concha”. Você já notou que as pessoas mais depressivas isolam-se e buscam afastar-se dos outros? Tal coisa ocorre quando “nos imaginamos como uma entidade separada, apartada, distante das demais pessoas”. E isso é falso. Por mais diferentes que sejamos uns dos outros, sempre há diversos pontos de semelhança aos quais podemos recorrer.

9# VIVAMOS O PRESENTE, E NÃO O FUTURO

É comum vivermos no futuro – ou melhor dizendo, vivermos o momento atual temendo os acontecimentos que podem vir a ocorrer no futuro.

Por mais que esses pensamentos decorrentes da ansiedade pareçam quase que incontroláveis muitas vezes, devemos respirar fundo e viver o presente com plenitude. O que o futuro nos reserva é desconhecido; e raramente é tão ruim quanto os cenários que pintamos em nossas mentes. E, mesmo que o pior acontecesse, não sofremos mais ao pensar continuamente nisso e portanto evitarmos partilhar da alegria presente?

Todas as alegrias do mundo são transitórias – mas, eba!, todas as tristezas também. Somente o Infinito, para Thich Nhat Hanh e os budistas, proporcionam uma felicidade duradoura. E, se formos perder o que temos em mãos nesse momento, isso terá feito com que o momento fosse menos precioso? Decerto que não.

Em O Fio da Navalha, o escritor inglês W. Somerset Maugham, inspirado pelos ensinamentos budistas, coloca a questão de uma maneira interessante. Leia com atenção, e se preciso repita essas palavras a si mesmo continuamente:

A perpetuidade não faz com que o bom se torne melhor. Mesmo que ao meio-dia a rosa perca a beleza que teve de madrugada, a sua beleza naquele momento foi real. Nada no mundo é permanente, e somos tolos em desejar que uma coisa perdure, mas mais tolos seríamos ainda se a deixássemos de apreciar enquanto a temos. Se a mutabilidade é a essência da existência, nada mais natural do que fazer dela a premissa de nossa filosofia. Nós não podemos pisar duas vezes nas mesmas águas de um rio, mas o rio corre continuamente e as outras águas que pisamos são também frescas e agradáveis.

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