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Junior Cigano, o maior coração do UFC

Pedro Nogueira Editor-Chefe

Há uma máxima que diz o seguinte: “O brasileiro não torce pelo esporte. Torce pelo vencedor.” Ouvi essa frase pela primeira vez em julho, quando escrevi que Anderson Silva havia tomado uma lição merecida de Chris Weidman, por desdenhar do americano durante toda a luta. O resultado, na ocasião, foi um nocaute histórico para Weidman e uma lona vergonhosa para o Anderson.

“Sempre torci pelo Spider e não deixarei de fazê-lo por causa de uma derrota”, completou um leitor em seu comentário, logo depois de me apresentar o ditado. Abandonar o navio após um revés, de fato, é uma atitude vergonhosa para um torcedor. Mas o que me incomodou na luta de Anderson não foi a derrota em si – e, sim, ato de desprezar seu adversário ao longo do combate, com uma atitude 100% antidesportiva.

Senti vergonha, aquele dia, por Anderson Silva estar representando o meu país. Um sentimento que foi curado apenas no último sábado, no UFC 166, por Junior Cigano. E, ironicamente, foi exatamente a sua derrota diante do mexicano Cain Velasquez que proporcionou uma grandeza épica a ele, fazendo dele um atleta diferenciado entre tantos adeptos das artes marciais no mundo.

Antes de seguir em frente, porém, sinto a necessidade de esclarecer um detalhe: a diferença entre respeito e orgulho. Sim, eu respeito todos os brasileiros que estão no UFC. Chegar até lá é para poucos e, sem dúvida, demanda um esforço imenso. Mas são poucos os que me fazem ter orgulho de ser brasileiro. E Cigano está no topo desta lista.

Em primeiro lugar, pelo tamanho do seu coração. Na sua luta do sábado, ele tomou uma surra brutal de Cain Velasquez. E quando digo “brutal”, estou falando de uma cena digna de Hollywood, tirada diretamente dos filmes de Rocky Balboa. Com metade dos socos que ele tomou, ou um terço, qualquer outro teria caído – o que seria absolutamente compreensível para alguém naquela situação.

Mas Cigano, não. O espancamento era tamanho que, ao entrar no quinto e último round, um dos seus olhos estava fechado por conta do inchaço – e o outro estava banhado em sangue, devido a um corte devastador acima dele. Em outras palavras, Cigano lutava praticamente às cegas. E assim ele ficou bravamente até o juiz interromper a luta, temendo pela integridade física do brasileiro.

Além de sua atitude valente durante o combate, após a interrupção ele aceitou sua derrota com grande classe – abraçando Velasquez, levantando o seu braço e o exaltando com palavras. “Ele me deu uma surra”, disse Cigano na entrevista pós-luta. “Foi o que aconteceu. Cain fez um grande trabalho, parabéns para ele.”

Alguém poderia argumentar que quase todos os lutadores dizem o mesmo após uma derrota. Mas dá para perceber quando ele está sendo sincero ou apenas fazendo uma média, que é o caso da maioria. Cigano visivelmente faz parte do primeiro grupo. Como dizia um velho amigo meu do carteado, eu apostaria todo o tabaco do Kentucky nisso.

Se voltarmos um pouco no tempo, veremos que a luta do sábado foi praticamente um reprise do UFC 155, em dezembro do ano passado, quando Velasquez roubou o cinturão de Cigano. A história foi igual: Cigano tomando uma surra monumental e aguentando em pé até o final.

Não dá para discutir, portanto, que tecnicamente Velasquez está um degrau (ou mais) acima do brasileiro neste momento. Os dois últimos encontros deles dizem tudo. Ainda assim, Cigano fez questão de declarar no sábado, após parabenizar o mexicano pela vitória: “Agora eu vou voltar para casa e treinar duro para encará-lo novamente.”

Se um homem com essa raça, essa classe e essa coragem não merece ser o nosso Hombre da Semana, então ninguém merece.