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Abraham Lincoln presidente

Como pensar como um presidente americano: o que podemos aprender com Abraham Lincoln

“Nesse país, é comum encontrarmos pessoas que sabem se expressar com imensa facilidade. Menos comum é encontrarmos pessoas que sabem pensar com suficiente lucidez”, certa vez declarou o então presidente dos Estados Unidos, Abraham Lincoln, a um jornalista britânico. “É raríssima a combinação dessas duas qualidades. Mas, quando a encontramos em alguém, então é certo que estamos frente a um grande homem”.

E, deve-se dizer, o próprio Lincoln foi um dos maiores exemplos dessa combinação.

Tendo nascido no interior de Kentucky, em uma cidade minúscula que nos dias atuais possui pouco mais de 3.000 habitantes, Lincoln foi um autodidata notável: sem jamais ter recebido qualquer educação formal, tornou-se advogado em Illinois. Em seguida, ele passou a atuar no campo político, trilhando um caminho que o levou a se tornar o décimo sexto presidente dos Estados Unidos em um dos momentos mais críticos da história do país: a Guerra Civil.

Reconhecido até os dias de hoje como um dos maiores presidentes da história americana, se não o maior, Lincoln também se consagrou como um dos melhores escritores e oradores do campo político.

Voltemos portanto à questão que deu origem a este texto: como pensar como um presidente americano?

Com uma breve análise das principais ideias e dos principais feitos de Lincoln, não é nem um pouco difícil ter uma ideia de como respondê-la. Crítico feroz das injustiças sociais, entre elas a escravidão que se esforçou para extinguir, e notável pela retidão de caráter que exibia tanto em sua vida pública quanto em sua vida pessoal, ele é uma pessoa com a qual temos muito a aprender — e em quem podemos sempre nos inspirar.

Vamos dar início a esse esse processo?

1# VALORIZE A EDUCAÇÃO

“Sempre lamentei o fato de que não recebi uma educação apropriada”, afirmou Lincoln em um pequeno texto que escreveu como biografia de campanha, “e fiz o que pude para reparar esse dano”.

Faça o que estiver ao seu alcance para se instruir: se inscreva em cursos, assista a seminários, participe de workshops, veja a documentários, leia regularmente, entre outras coisas.

Não permita que a preguiça, a acomodação ou uma suposta falta de tempo o levem a desistir de algo que é tão importante para você: adquirir um alto nível de cultura e de conhecimento, o que poderá ajudá-lo em sua vida profissional e em sua vida privada.

Segundo Leonardo Swett, um de seus companheiros de advocacia, o segredo de Lincoln para a obtenção de um grau elevado de inteligência repousava em três princípios:

  • Nunca se envergonhando de admitir não saber alguma coisa;
  • Fazendo perguntas sempre que pudesse extrair uma informação útil;
  • Estudando incansavelmente durante toda a vida.

O próprio Lincoln – que, segundo Swett, podia sempre ser visto com um livro em mãos – nunca deixou de tecer os méritos da leitura. Em um discurso feito em setembro de 1859, disse que “o gosto pela leitura nos dá acesso a tudo que já foi descoberto pelos outros. É a chave, ou é uma das chaves, para problemas que já foram solucionados. E mais: nos oferece o entusiasmo e a habilidade necessários para nos empenharmos em descobrir soluções para os problemas que ainda não foram resolvidos”.

2# LUTE PELOS SEUS IDEAIS

Durante toda a sua vida, e especialmente em seus anos como presidente, Abraham Lincoln dedicou-se a criticar e a combater com veemência a hipocrisia que imperava sobre a sociedade americana.

A Declaração de Independência dos Estados Unidos, reverenciada amplamente por todos os americanos, era de fato bastante clara em sua solene afirmativa de que “todos os homens são criados iguais”, e de que os seres humanos possuem certos direitos inalienáveis, sendo a liberdade um deles…

…e, ainda assim, os Estados Unidos continuavam a ser um país escravocata.

Durante toda a sua carreira, Lincoln criticou aqueles que aparentavam ler nas entrelinhas da frase anteriormente mencionada, “exceto pelos negros”.

Para o presidente americano, a escravidão era contrária ao espírito de justiça e de liberdade que nascera na Revolução Americana, e que cabia ao país proteger com unhas e dentes. A sua ideia de democracia implicava na inexistência de senhores e de escravos. Sempre que nós nos familiarizamos com as “correntes da servidão”, estamos nos preparando para usá-las um dia.

Em uma carta ao também advogado George Robertson, Lincoln colocou a questão da seguinte maneira:

Quando éramos os escravos políticos do Rei Jorge e desejávamos ser livres, chamamos a máxima de que “todos os homens são criados iguais” uma verdade evidente por si mesma; mas agora que já estamos velhos e gordos, e que não temos mais medo de que nos escravizem, nos tornamos gananciosos a ponto de exigirmos dominar a outrem.

Para Lincoln, a noção de liberdade estava acoplada à noção de que cada homem deveria ter o direito de fazer o que bem entendesse consigo mesmo e com os produtos de seu labor. Isso se oporia à noção errônea de que podemos fazer o que bem entendermos com outras pessoas e com os produtos do labor destas.

Ao longo de sua longa carreira, Lincoln lutou incansavelmente por todos os seus ideais e pelos princípios que tinha como certos. E essa é uma das lições mais valorosas que podemos tirar de sua vida.

3# APRENDA COM SEUS RIVAIS

Em 1860, Lincoln surpreendeu a nação ao desbancar seus mais célebres colegas de partido — William H. Seward, Salmon P. Chase e Edward Bates — e consagrar-se o candidato do Partido Republicano à presidência. (Naquela época, os republicanos eram progressistas e os democratas, conservadores, algo que se inverteu com o passar do tempo.)

E, talvez, mais surpreendente ainda tenha sido uma de suas ações após ser eleito presidente: fazer de Seward seu Secretário de Estado, de Chase seu Secretário do Tesouro, e de Bates seu Procurador-Geral.

A historiadora americana Doris Kearns Goodwin buscou explorar, em seu livro Team of Rivals: The Political Genius of Abraham Lincoln, as razões que levaram Lincoln a transformar três de seus mais poderosos rivais em seus principais aliados, e como tal coisa ajudou-o a comandar o país em um de seus momentos mais difíceis. Aqueles eram três dos homens mais fortes dos Estados Unidos e, para Lincoln, uma circunstância tão delicada quanto a Guerra Civil exigia que pessoas desse calibre estivessem à disposição do país.

Ao oferecer a seus rivais um lugar em seu gabinete, o presidente tinha acesso a um amplo leque de opiniões. Ademais, a proximidade permitia que ele observasse e monitorasse as visões conflitantes dentro de seu próprio partido. Ele sabia que, caso não reunisse um grupo indiviso em sua luta contra o Sul, a vitória seria inalcançável.

Além de manter seus rivais perto de si, Lincoln conquistou o mais profundo respeito, e mesmo a afeição, de todos eles – principalmente de Seward, que tornou-se um de seus mais íntimos e prezados amigos. E como fez isso?, podemos perguntar. Goodwin oferece-nos a resposta:

A base da genialidade política de Lincoln consistia em sua imensa força emocional. Ele entendia que as relações humanas consistem no centro da política e que, se lidarmos com as pessoas do modo certo, então conseguiremos trabalhar efetivamente com elas. As qualidades que tendem a ser associadas à grandiosidade humana – tais como a sensibilidade, a empatia, a compaixão, a gentileza, a honestidade – são também chaves do sucesso político.

No que se refere às relações que mantinha com os membros de seu gabinete, Lincoln foi de fato aclamado por todos os historiadores que trilharam seus passos em suas obras.

Em casos de sucesso, Lincoln sempre dividia o crédito com seus colaboradores. Em casos de fracasso, ele aceitava a sua parcela de culpa. Quando cometia um erro, reconhecia-o. Apesar de seus exaustivos compromissos, ele sempre dedicou tempo a cada um de seus colegas, no intuito de fazer com que todos sentissem ter acesso a ele.

4# INVISTA NO SEU CONHECIMENTO ORATÓRIO

Entreter, instruir, persuadir e inspirar: essas eram as quatro principais coisas às quais visavam os discursos de Lincoln. E, como podemos notar através da leitura dos mesmos, e também do que diziam seus contemporâneos, ele era extremamente bem-sucedido.

Seus discursos eram famosos por serem extremamente cristalinos, lógicos e argumentativos, e por serem enunciados de maneira clara, distinta e polida. Conforme declarou um jornalista de Illinois em 1858, “é um verdadeiro mistério que qualquer homem suficientemente racional seja capaz de ouvir aos discursos de Mr. Lincoln sem ser convertido ao republicanismo”.

Um crítico literário que encontrava-se presente em um discurso feito em 1860, por Lincoln, em uma faculdade americana, relatou:

No momento em que Lincoln levantou-se para discursar, confesso que me senti desapontado. Ele era alto e anguloso, e tão desajeitado que por um instante senti pena. Mas ele logo começou a falar; ele endireitou-se, fez gestos regulares e graciosos; seu rosto iluminou-se com um fogo interior; o homem todo transfigurou-se. Eu esqueci suas roupas, sua aparência pessoal, e suas peculiaridades individuais. Em seguida, esqueci também a mim mesmo, levantando-me juntamente com os outros e gritando como um selvagem, aplaudindo esse homem maravilhoso.

Com Lincoln, aprendemos que a habilidade oratória é algo extremamente útil — algo que pode nos ajudar a ganhar ou a perder uma guerra.

Há numerosas maneiras de desenvolver o nosso talento, e a cada um de nós cabe escolher a que mais se adequa à nossa personalidade, aos nossos gostos e aos nossos propósitos.

Lincoln, por exemplo, gostava de pensar em seus discursos enquanto fazia longas caminhadas pela rua. Sempre que tinha lampejos de inspiração e pensava em algo a dizer, ele fazia uma breve pausa, escrevia as recém-elaboradas palavras, frases ou parágrafos em papéis, e os depositava em seu chapéu. Ao chegar em casa, copiava-as em um texto coeso, o qual sempre decorava do início ao fim.

5# NÃO FAZER NADA PODE SER A MELHOR OPÇÃO

Os seres humanos possuem a tendência de tomar decisões no calor do momento.

Resista a esse impulso. É natural querermos agir quando somos tomados pela emoção, mas a reação em questão costuma tornar as coisas piores, e é em parte por conta desse descontrole que a vida pública dos dias de hoje é tão disfuncional. Faça sempre questão de dar um passo para trás, esfriar a cabeça e permitir que a razão comande as suas decisões e as suas ações.

Uma das principais qualidades de Lincoln era a compreensão de que as decisões tomadas no calor do momento tendem a ser equivocadas. Como resultado, sempre fez questão de cultivar o autocontrole no que se refere a tais assuntos.

Um exemplo prático: após vencer a célebre batalha de Gettysburg, ocorrida em julho de 1863, o General George Meade, aliado de Lincoln e comandante das forças do Norte, optou por não perseguir os confederados durante a retirada destes. Para Lincoln, isso implicou na perda de uma excelente oportunidade para se colocar um fim à guerra.

Furioso, o presidente escreveu uma carta extremamente crítica a Meade. Assinou-a e colocou-a em um envelope — mas jamais a enviou, e a carta só foi descoberta em sua mesa depois de sua morte.

Ao não fazer absolutamente nada, Lincoln evitou um possível desentendimento com Meade, que poderia sabotar a missão que ambos tinham em comum: salvar a União e vencer a guerra contra os sulistas. Caso expressasse as suas emoções em um momento inadequado, e de uma maneira demasiado veemente, Lincoln poderia ter colocado em risco a causa pela qual estava disposto a dar a sua vida — e pela qual de fato deu a sua vida, em abril de 1865.

Essa é uma lição importante especialmente nos dias de hoje, quando estamos expostos a uma comunicação instantânea (e com frequência incendiária) nas redes sociais.

6# MANTENHA-SE FIRME FRENTE ÀS CRÍTICAS

Outra tendência humana é enfraquecer frente às críticas que recebemos. Mas, quando de fato  acreditamos nas decisões que tomamos e nos princípios que valorizamos, a determinação e a firmeza são mais do que desejáveis: elas são necessárias.

Mesmo quando a sua reeleição estava em jogo, e quando ambos os lados pressionavam-no para dar um fim à guerra independentemente das condições, Lincoln insistiu na exigência de que a abolição da escravidão deveria ser parte da vitória da União.

Ao final da guerra, muitos nortistas exigiram que fosse colocado um fim ao conflito, ainda que a paz significasse que o Sul poderia manter seus escravos. E, como dissemos, aquele seria já o ano das eleições — o que colocava Lincoln em uma posição realmente delicada. Por dois anos, ele insistira que  fim da escravatura deveria fazer parte da vitória da União. Agora, esta posição poderia lhe custar a presidência.

A pressão que repousava sobre a sua cabeça era tão grande que o levou a escrever uma carta na qual declarava a intenção de reconciliar-se com a Confederação. Mas, mais uma vez, evitou enviar a carta no calor do momento. Em vez disso, consultou-se com o abolicionista Frederick Douglass, que o aconselhou a não enviar a carta. Lincoln aceitou a recomendação, e dedicou-se ao final do conflito. Semanas mais tarde, um de seus generais capturou Atlanta e a guerra foi vencida.

A posição de Lincoln em relação às críticas por ele enfrentadas pode ser ilustrada pelas suas próprias palavras:

Eu faço o melhor que sei fazer – o melhor que posso fazer; e eu pretendo continuar a fazer isso até o fim. Se, ao final, for provado que eu estava certo, então o que é dito contra mim será irrelevante. E, se for provado que eu estava equivocado, então dez anjos jurando a meu favor não fariam diferença.

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