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Muita pancada pode lesar o seu cérebro?

A recente internação de Maguila por mal de Alzheimer levanta uma questão há muito tempo discutida na medicina: as lesões induzidas por esporte. No caso, o pugilismo. A conexão entre uma coisa e outra parece óbvia. Levar pancada na cabeça, afinal, não pode ser bom para ninguém.

Porém, como isso acontece? As pancadas repetidas na cabeça fazem o cérebro se mover dentro da caixa craniana. Imagine o seguinte: sabe aquelas balas de goma que têm uma casquinha crocante, mas que são bastante frágeis e moles por dentro? Jogue uma delas num copo cheio de água.

Agora, imaginemos que você bata no copo. A primeira coisa que acontece? A pancada se transmite para a bala, que é empurrada para o outro lado do copo, onde ela bate. O primeiro golpe se chama contusão; o segundo, concussão. Por serem diferentes, a casquinha crocante e o interior gosmento da bala se deslocam a velocidades diferentes. Conseguem imaginar um cisalhamento, uma separação entre uma parte e a outra, quando você bate nela?

Com o cérebro acontece a mesma coisa; a massa cinzenta tem uma densidade diferente da massa branca; a caixa craniana tem dezenas de reentrâncias, onde o cérebro bate durante as contusões e concussões; e, por fim, como se não bastasse isso, o cérebro tem um pedículo (o tronco cerebral, que depois forma a medula espinhal) que fica preso como o caule de um trevo de quatro folhas. Imagine o vento batendo e levando as folhas para lá e para cá — grande risco de elas se soltarem do caule, não?

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(MAIS: Seremos todos ciborgues no futuro?)

Todo este processo de trauma acaba levando à lesão dos neurônios, especialmente nos lobos temporais (que ficam dos lados e são responsáveis pela memória), lobos frontais (que ficam na testa e são responsáveis pelo comportamento) e núcleos da base (que ficam no interior do cérebro, bem na transição para o pedículo, como se fosse o centro do trevo, e são responsáveis pela coordenação dos movimentos).

A lesão destes lobos leva à demência do pugilista; a lesão dos núcleos, ao parkinsonismo. A demência do pugilista é o tipo mais estudado de demência associada ao esporte, mas algumas evidências sugerem que não é só o pugilismo a causa: há também associação com as cabeçadas no futebol e as pancadas em outros esportes violentos, como rugby e hockey.

A perspectiva não é nem um pouco boa; as lesões são irreversíveis e, muitas vezes, podem progredir. Geralmente, iniciam-se pouco depois de o pugilista encerrar sua carreira, pois em média levam 16 anos para se apresentar. Em alguns casos, podem ocorrer até antes ou depois.

No caso de Maguila, é possível que o Alzheimer seja, na realidade, este tipo de demência (porém, nada impede que ele tenha, de fato, apenas Alzheimer clássico). No caso de Muhammad Ali, pelo tipo de apresentação, acredita-se que seja um caso de Parkinson clássico, e não secundário à sua carreira de lutas. A lesão não é regra, mas é extremamente comum.

Por isso, se você não quer ter uma demência precoce, cowboy, acho melhor escolher outro tipo de esporte mais seguro. Como, sei lá, pescar com dinamite ou coisa do tipo.

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Assim como Muhammad Ali, o boxeador brasileiro Maguila está com lesão cerebral