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No Brasil a atividade é regularizada desde 2005

Terapia online funciona?

Thiago Sievers Head de Parcerias

Aos poucos o mundo vai se adaptando ao universo cibernético e utilizando cada vez mais a internet para os afazeres diários. E como não incluir o âmbito profissional nessa realidade? A influência desse recente fenômeno é tão grande nos negócios que já derrubou diversas empresas gigantes, principalmente as que trabalham com mídia impressa. É normal. Eu diria até que é a seleção natural em atividade.

Entretanto, por mais que nos acostumemos com o impressionante crescimento da realidade virtual, que nos devora com mais intensidade do que o Charlie Sheen seria capaz de fazer com a Juju Salimeni (e de graça), algumas profissões parecem destoar por completo desse universo. É o caso dos psicólogos.

A profissão, que completou 50 anos de funcionamento regulamentado no Brasil em 2012, faz muito sucesso por aqui. Mais do que em qualquer outro lugar do mundo. Segundo números do ano passado do Cadastro Nacional de Psicólogos, são 216 mil profissionais em atividade, o que faz do Brasil a nação com maior número de psicólogos no planeta. É praticamente impossível não conhecer alguém que faça terapia desse caráter hoje em dia. Isso quando esse alguém não é você mesmo. Nesse caso, me responda: você consideraria fazer psicólogo online?

No Brasil o Conselho Federal de Psicologia (CFP) regulamentou a atividade pela web no já distante ano de 2005. Os profissionais que quiserem exercer seu trabalho pela internet precisam se submeter a uma avaliação do CFP para receberem o aval de o fazer legalmente. Uma vez credenciado, o psicólogo pode realizar até 20 sessões com um mesmo paciente e seu site deve ser exclusivo para essa atividade, não podendo ter nenhum link externo. São mais de 200 sites cadastrados.

A pergunta que nos resta fazer é tão óbvia quanto a distância entre terapeuta e paciente: mas, funciona?

Segundo pesquisadores da Suíça e da Alemanha sim, funciona – e, em alguns casos, até mais do que as terapias no mano a mano. Eles realizaram um estudo com 62 pessoas divididas em dois grupos: um que realizaria terapia online e outro que faria terapia presencial. Utilizando a mesma doença (depressão), a mesma técnica aplicada (terapia cognitivo-comportamental) e a mesma duração de tratamento (8 semanas), os cientistas recolheram e publicaram os resultados que surpreenderão muitas pessoas. Ainda que a diferença não tenha sido considerada significativa, 53% daqueles que não saíram de casa apresentaram melhora nos sintomas, enquanto resultado semelhante aconteceu em 50% de quem foi até o consultório. Os números surpreendentes, no entanto, estavam reservados a outra estatística: após três meses das sessões 57% dos internautas permaneciam livres dos sinais de depressão; quanto aos pacientes comuns o número despencou para 42%. Os cientistas têm explicações para os fenômenos.

Não é desconhecida a técnica psicanalista chamada de “associação livre”, onde o paciente fala tudo o que vem na cabeça sem refletir conscientemente no conteúdo e prestar atenção no terapeuta. No método de trabalho de Sigmund Freud, pai de todas as outras teorias, o psicólogo realiza pouca ou nenhuma intromissão no tratamento. O importante é que o paciente fale, fale e fale. O divã (introduzido pelo próprio austríaco), inclusive, tem a função de neutralizar a presença do profissional a fim de que o cliente se sinta mais a vontade no tratamento. É à algo semelhante que os pesquisadores creditam o sucesso da terapia online.

O fato do paciente não estar vendo o terapeuta durante o tratamento faz com que ele sinta estar dialogando consigo mesmo e, assim, se entender como o principal pivô da solução de seus problemas, o que traz certa independência e lhe permite se sentir mais seguro após o fim das consultas. O vínculo pessoal (fator importantíssimo nas terapias psicológicas e expresso pelo fenômeno de “transferência”), portanto, não é intenso.

Mas nem tudo é belo: houve um aspecto negativo encontrado pela pesquisa em relação à terapia online. Os pacientes que fazem consulta nesse formato se sentem com mais liberdade para abandonar o trabalho terapêutico durante o processo. A relação, em comparação com o grupo controle, foi de 7 para 2. O motivo para o fracasso apontado aqui, segundo os cientistas, foi o mesmo que impulsionou o sucesso citado acima: a falta do contato visual. Mas no fim das contas o saldo foi super positivo, deixando a terapia online, no mínimo, em pé de igualdade com a terapia presencial.

Eu ainda tenho minhas pulgas atrás da orelha. E você o que acha, funciona ou não funciona?

Será o divã aposentado num futuro próximo?
Será o divã aposentado num futuro próximo?