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Leão da Toscana, o “novo velho” ídolo do ciclismo

A lacuna deixada por Lance Armstrong, após o caso que abalou o mundo do esporte, pode ter um fim imediato. A vaga de ídolo do ciclismo ganha um “novo velho” candidato para ser preenchida. Resgato de livros de história do esporte um espelho a ser seguido, também com um caso de farsa envolvido, porém, desta vez, benéfico e sem apagar a essência do conceito de esporte. Um alento para a modalidade.

Na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial, o ciclista italiano Gino Bartali foi um herói para muitos judeus e um grande esportista. Mesmo se as sete conquistas do‘Tour de France de Armstrong, que superou um câncer, não tivessem sido canceladas após a constatação do uso de doping, os feitos de Bartali o fariam, mesmo assim, em minha opinião, ainda mais importante que o ciclista enganador da última década.

Nem mesmo os mais espertos soldados que lutavam contra o sistema judaico, sejam eles alemães ou italianos, nazistas ou fascistas, imaginariam que dentro da estrutura da bicicleta de um campeão estariam identidades e documentos que salvariam judeus de campos de concentração. Bartalli foi o “Leão da Toscana”.

Foi com muito suor que ele conseguiu, em tempos de dificuldade, superar as adversidades e transformar-se em um exemplo na Itália. Bartalli passou por cima da pobreza e tornou-se um verdadeiro campeão. Ele foi campeão duas vezes do Tour (1938 e 1948) e três do Giro D’Italia (1936, 1937 e 1946), dois dos três principais circuitos do calendário ciclístico.

(MAIS: Como a história vai lembrar de Lance Armstrong?)
(MAIS: Victoria Pendleton, a embaixadora do ciclismo)

Em 1943, Benito Mussolini, líder do regime fascista, quis usar o grande prestígio de Bartalli para enaltecer o povo italiano. Entretanto o ciclista não aceitou ser garoto propaganda. Muito religioso depois da morte do irmão num acidente de bicicleta, ele ficou próximo do cardeal Elia Dalla Costa.

Com a caçada aos judeus na Itália, o cardeal arquitetou um plano para fornecer documentos falsos para centenas de perseguidos. E Bartali, que conhecia a Toscana como ninguém, além de ser um herói nacional, não teve muitas dificuldades em passar pelas “blitz” e entregar as novas identidades durante a guerra. Ele alegava que estava treinando – o que de fato também acontecia. Ia de Toscana até Florença.

O papel de Gino nessa situação, que rendeu a ele o apelido “Leão da Toscana”, veio à tona em 2010, quando um membro de uma das famílias salvas por ele revelou o esquema, dez anos após a morte de Gino. Salvo o que aconteceu com o enganador Armstrong, Bartali torna-se, neste momento, ainda mais um grande exemplo para o mundo do ciclismo e para o esporte. Um “novo velho” ídolo.

Recomendamos a leitura de sua biografia, lançada no ano passado no Brasil:

Título: O Leão da Toscana
Subtítulo: A Emocionante História do Ciclista Campeão que Desafiou os Nazistas na Segunda Guerra e Inspirou uma Nação
Autor: Aili McConnon, Andres McConnon
Editora: Zahar
Edição: 1
Ano: 2012
Especificações: 342 páginas